Micorrizas: uma aposta naturalmente sustentável - clones de castanheiro Marsol como estudo de caso
Por: Ana Catarina Ribeiro1,2, Maria Manuela Silva1, Andreia Afonso2
1 Departamento de Química, Universidade do Minho, Braga
2 Deifil Technology, Póvoa de Lanhoso
RESUMO
No presente trabalho estudou-se o impacto da micorrização ex vitro em porta-enxertos híbridos micropropagados de castanheiro clone Marsol em duas fases: aclimatização e envasamento. Para isso, na aclimatização, as plântulas in vitro foram inoculadas com micélio de fungo de espécies pioneiras como Amanita muscaria, Paxillus involutus e Pisolithus capsulifer. Já na fase de envasamento das plantas, estas foram inoculadas com micélio de Boletus edulis. O efeito da micorrização foi avaliado considerando a taxa de sobrevivência das plantas na fase de aclimatização, seguida da avaliação de parametros biométricos tanto na fase de aclimatização como envasamento. Os resultados obtidos contribuíram para a criação de produtos inovadores de base natural, resultantes da conjugação entre plantas e fungos, que aportam valor ao castanheiro por lhe conferir maior resistência a fatores bióticos e abióticos.
INTRODUÇÃO
O conceito de micorrizas remonta ao final do século XIX, mas foi apenas nas últimas décadas que o seu papel e importância no contexto agrícola foi amplamente reconhecido (Frank, 1887; Figueiredo, 2021). Do ponto de vista biológico, as micorrizas (do grego mykes “fungo” e rhiza “raiz”) são definidas como associações simbióticas entre fungos do solo e as raízes mais finas de plantas vasculares (Frank, 1885). Nesta relação, os fungos atuam na extensão do sistema radicular das plantas, benificiando-as no aporte de água, minerais e nutrientes, conferindo-lhes maior tolerância ao stress biótico e abiótico. Por sua vez, as plantas doam compostos orgânicos com origem na sua fotossíntese, principalmente hidratos de carbono, aos fungos, permitindo-lhes o seu contínuo desenvolvimento (Frank, 1885; Smith, 2008). Estudos recentes estimam que cerca de 92% das árvores e 85% dos arbustos mantêm uma relação mutuamente benéfica com micorrizas (Perez-Moreno et al., 2020; Soudzilovskaia et al., 2020).
Até o momento, sete tipos de micorrizas foram descritos na literatura baseados na sua estrutura e função (Smith, 2008). Em particular, em plantas lenhosas como o castanheiro, são frequentes as ectomicorrizas que formam um manto externo de micélio que rodeia a raiz da planta. Esta estrutura cria uma barreira física que confere proteção às raízes da planta frente a agentes patogénicos e doenças existentes no solo. Além disso, contribuem para uma maior resistencia à seca, salinidade e altas temperaturas, tornando as plantas mais adaptáveis às condições ambientais adversas. O uso destes fungos no setor agroforestal contribui ainda para a redução do uso de fertilizantes químicos, diminuindo o impacto ambiental associado às práticas agrícolas convencionais. Desta forma, as ectomicorrizas desempenham também um papel crucial na regeneração de ecossistemas florestais (Frank, 1887; Brundrett, 2009).
Com vista ao desenvolvimento de produtos inovadores de base natural, o presente trabalho teve como objetivo a identificação da modalidade de micorrização ex vitro mais favorável nas fases de aclimatização e envasamento de clones Marsol. Para isso, utilizaram-se inóculos de micélio de diferentes espécies de fungo, quer na sua forma isolada como em combinações duplas e triplas.
Continue a ler este artigo publicado na edição n.º 48 da Revista AGROTEC.
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