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Agrotec

Paula Carvalho: «O Plano Estratégico para os Cereais constituiu um marco importante»

Nutriprado promoveu uma nova conversa com uma personalidade do setor, a engenheira Paula Carvalho, sub-diretora geral da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. O engenheiro Vasco Abreu representou a Nutriprado.

Paula Carvalho DGAV Nutriprado

Vasco Abreu começou por introduzir o evento ao referir que nos encontramos a celebrar o Ano Internacional da Sanidade Vegetal, uma iniciativa estimulada pela União Europeia, um âmbito que deve ser «cada vez mais alvo de preocupação». Em seguida, questionou Paula Carvalho sobre a reação dos serviços da DGAV face à pandemia sanitária provocada pela Covid-19 e as suas respetivas consequências. 

«Temos vivido este período com uma grande responsabilidade», começou por explicar. «Tive uma equipa extraordinária, que realmente sentiu que tinhamos a obrigação de manter o serviço a funcionar. Foi extraordinário o que os meus colegas fizeram, nomeadamente ao manter o laboratório de sementes a funcionar, que nunca parou, e ao manter os ensaios todos de campo que já estavam plantados, entre outros. Inclusive, fizemos formação aos técnicos fitossanitários do país inteiro durante este período, o que demonstra que, de facto, existiu um esforço muito grande de toda a equipa da DGAV».

A sub-diretora geral da DGAV acredita que este posicionamento surge como «uma prova de que nós, de facto, estamos com a agricultura diariamente, mesmo nos piores tempos». Acrescenta ainda que os serviços continuaram e «mesmo quem estava em teletrabalho, esteve sempre presente, bem como a parte do campo, que esteve sempre ativa, a dar certificações às empresas dos materiais e a fazer os ensaios de variedades».

Questionada em seguida sobre o mercado nacional de cereais, Paula Carvalho defende que «Um marco importante foi a aprovação do Plano Estratégico para os Cereais e há que implementa-lo». Segundo a própria, existe «um conjunto de medidas no documento, que tem um peso institucional importante, importantes para alavancar e impulsionar o mercado. Sem dúvida que também acredito que podemos aumentar a nossa autossuficiência em alguns cereais, apesar de que iremos ficar sempre dependentes da importação de alguns. Contudo, em algumas áreas, podemos e devemos incrementar a nossa produção».

A engenheira acredita que temos condições de maturação, «nomeadamente nos cereais de outono e inverno», o que nos permite «obter qualidade em termos de micotoxinas», entre outros. Paula Carvalho deu o exemplo da cevada alentejana, do seu crescimento nos últimos tempos, e aproveitou o momento para fazer referência à iniciativa da nova Bohemia Pilsener Cevada do Alentejo, uma cerveja fabricada com 100% de cevada da região do Alentejo. A sub-diretora geral da DGAV acredita que são necessárias este tipo de iniciativas que impulsionam o setor nacional. «Temos que transmitir uma imagem ao nosso consumidor e este está muito consciente de que tem que apoiar a produção nacional neste momento. Todo este contexto que estamos a viver poderá alavancar cada vez mais essa vertente e aproximar os mercados cada vez mais». 

A questão dos pesticidas e das pragas 

Relativamente à questão da redução dos pesticidas em 50%, como defende a Comissão Europeia nas suas novas estratégias de atuação, Paula Carvalho admite que «à partida, surpreende-nos que possam avançar assim com um número sem apresentar um estudo impacto do que significa essa redução para os diferentes países», destacando que foi uma «surpresa termos a redução mais significativa de pesticidas da Europa», visto que não conheciam o caso comparativo dos outros países anteriormente aos novos dados. Portugal apresentou uma redução de 43% do uso de fitofármacos entre 2011 e 2018, sendo o Estado-Membro com a maior redução de vendas e uso destes produtos. Perante tal, a engenheira defende que existem «realidades diferentes nos países e deverá haver um estudo para nos demonstrar o que fazer antes das alterações legislativas».

Vasco Abreu fez menção ao projeto LIFE RESILIENCE (no próximo número impresso da Agrotec poderá saber mais sobre este projeto), onde a Nutriprado está inserida e que tem em vista o combate à Xylella fastidiosa, para introduzir a problemáticas das pragas e o receio das bactérias na agricultura. 

«A UE tem que mudar de paradigma em relação aos países terceiros e isso foi feito de alguma forma com o novo Regulamento das Pragas e Vegetais, que entrou em vigor em dezembro de 2019, e que prevê uma mudança de paradigma da UE face aos restantes países terceiros», começa por explicar Paula Carvalho, procurando exemplificar a situação.

«Qualquer Estado-Membro da UE, no caso de querer exportar uma fruta ou vegetal para um país terceiro, tem que negociar com este e essa negociação pode demorar anos a ser concluída. Essa negociação implica que o país terceiro saiba que pragas existem no nosso território, faça uma análise de risco e nos imponha requisitos fitosanitários de controlo. Só após tudo isso podemos exportar para o país terceiro a fruta que podemos demorar até oito anos a negociar. Ao contrário não funcionava assim, apenas havia alguns vegetais e frutas proibidos, e existia uma grande facilidade de entrada dos produtos todos, o que constituia um grande risco para a UE. Esse paradigma agora mudou. Temos agora uma lista de materias proibidos de importação para a União Europeia, que os Estados-Membros devem seguir corretamente», destacou.

Sobre o trabalho da DGAV, Paula Carvalho conta que «neste momento, a nível nacional, temos mais de 60 programas de prospeção fitossanitária. Ou seja, para as pragas e doenças mais significativas, para as que podem causar mais impacto, temos inspetores que percorrem o país para detetarmos precocemente essas pragas que, se se infiltrarem no território, causam problemas devastadores».

«Infelizmente, temos focos como os da Xylella fastidiosa». lamentou. «É um dos grandes desafios fitossanitários que estamos a viver atualmente, pois consiste numa bactéria que afeta dezenas e dezenas de espécies importantes, com efeitos devastadores e que não tem cura. Estamos a fazer um esforço enorme para atuar na zona demarcada no norte, com milhares de amostras, plantas destruídas e muito trabalho», realça, agradecendo o apoio das Câmaras Municipais, das associações e dos agricultores. «A defesa da fitossanidade tem que ser um trabalho de todos. Por isso mesmo este ano é extremamente relevante para a equipa de inspeção fitossanitária da DGAV porque há, de facto, um reconhecimento da importância das plantas para a alimentação do mundo», concluiu. 

Paula Carvalho abordou, ainda, a questão das micorrizas não muito conhecida, a recente regularização dos bioestimulantes e que seria necessária uma legislação específica para os agentes de controlo biológico. 

Pode encontra a reunião com Paula Carvalho por completo na página do Facebook da Revista Agrotec, que transmitiu o evento em direto.

A Nutriprado é uma empresa pioneira no apoio especializado para a instalação de prados. O seu objetivo passa por dar, na medida do possível, elementos de esclarecimento para que os agricultores possam escolher da melhor maneira as suas variedades.