O futuro da Agricultura de Precisão em Portugal
Por José Palha | Agricultor
A agricultura em Portugal e no mundo tem sofrido alterações enormes a todos os níveis nas últimas décadas, mas especialmente na última.
A imagem do agricultor de enxada na mão a trabalhar de sol a sol é coisa do passado. Hoje a agricultura é sensores, GPS, tablets, tecnologia! E porquê?
Porque é que a agricultura de precisão está cada vez mais em todas as explorações agrícolas? Na minha opinião por uma única razão EFICIÊNCIA! Hoje, os produtos agrícolas são vendidos a preços cada vez mais baixos, os custos de produção são cada vez mais altos, e, as preocupações ambientais que há vinte anos não existiam, hoje é completamente óbvio que têm de ser praticadas.
Assim, os agricultores para poderem continuar nesta actividade têm de ser mais eficientes em todas estas áreas, é obrigatório, produzir mais e melhor com menos, é o que se chama “Intensificação sustentável”.
A agricultura de precisão tem um papel fundamental neste novo paradigma da eficiência, a possibilidade de olhar para uma parcela, e perceber que a devemos “tratar” de forma diferenciada, veio revolucionar a forma de sermos agricultores.
Toda a tecnologia de que dispomos hoje, permite-nos ser muito mais eficientes, e essa eficiência é transversal, quer económica quer ambientalmente.
Os exemplos das tecnologias são imensos, e a cada dia se assiste a nova evolução, dou apenas alguns exemplos do que hoje se faz, começando pelo levantamento da condutividade eléctrica aparente do solo, onde se identifica a variabilidade dos solos dentro da parcela e a partir da qual se retiraram amostras que permitem fazer a analise e recomendação de acordo com as necessidades de cada mancha identificada, continuando com a utilização de imagens de NDVI e de drones que nos permite perceber os problemas que podemos ter na parcela e intervir apenas e só onde é necessário, com ganhos económicos óbvios, o mapa de produção das ceifeira que permite conhecer exactamente as limitações de cada zona da nossa parcela.
O uso de sondas de humidade que permite regar apenas quando a planta realmente necessita, é hoje comum nas explorações, num país com um clima mediterrânico como Portugal, em que os efeitos das alterações climáticas são cada dia mais evidentes, a utilização eficiente da água é uma obrigação.
O futuro da agricultura em Portugal e no mundo passa pela agricultura de precisão, será a única maneira de alimentar uma população mundial crescente, interferido o mínimo possível no ecossistema que nos rodeia, provocando impactos ambientais cada vez menores. Neste quadro comunitário de apoio, o lançamento do concurso para os Grupos Operacionais, veio incrementar muito o conhecimento prático, e a utilização no campo de tecnologia e destas novas técnicas.
Ao contrário do que acontece muitas vezes nesta área, em que a academia está afastada da produção, os GO permitem que investigadores, empresas e agricultores estejam de mão dadas no sentido de encontrar soluções para problemas concretos.
Na nossa exploração familiar, somos parceiros de um GO denominado Regadio de Precisão que foi idealizado para resolver um problema concreto com que eu e muitos agricultores se deparam na explorações, a heterogeneidade dos solos faz com que a água que o sistema de rega aplica na cultura, seja demais numas zonas e de menos noutras, o que leva a que a produtividade e a rentabilidade sejam bastante inferiores, este GO tem o objectivo de testar um sistema economicamente viável de VRI (Variable Rate Irrigation), que aplica a água de forma diferenciada nas diferentes partes da parcela.
Começou-se pelo levantamento da condutividade eléctrica para “micro zonar” as diferentes manchas de solo, depois foram colocadas sondas de humidade nas manchas mais representativas, com a utilização de drones e das imagens de NDVI a cultura foi acompanhada, e foram cada vez mais óbvias as diferenças, no final do ciclo com o mapa de produtividade da ceifeira estes dados foram certificados.
Neste segundo ano, foi instalado um sistema no pivot que permite que o mesmo ande a velocidades diferentes em “fatias de queijo” e assim a quantidade de água aplicada seja também variável, com a utilização dos dados que serão disponibilizados pelas sondas e pelas imagens de satélite, e em função do clima (temperatura, humidade, evapotranspiração) será aferida a quantidade de agua a aplicar em cada momento, e, no final esperamos que as diferenças de produtividade nas diferentes manchas da mesma parcela sejam menores.
(Continua)
Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 27.
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