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Agrotec

Novos regadios em Portugal? Sim, e não só pelo receio das alterações climáticas

Por: J. Quelhas dos Santos

regadio

O Governo manifestou muito recentemente o propósito de tomar medidas tendentes à criação de novos regadios como meio de «preparar a nossa agricultura para as alterações climáticas».

Embora eu, como ainda há pouco tempo escrevi, não viva angustiado com a ocorrência das alterações climáticas, em particular no que diz respeito ao «peso» que possa ser atribuído às actividades humanas, sobretudo no que se refere à influência dos factores de produção usados na Agricultura, não posso deixar de aplaudir uma tal intenção e fazer votos para que, ao contrário do que noutros casos se verificou, seja levada à prática o mais rapidamente possível, mas planeada de modo correto em termos de avaliação das «mais-valias» que potencialmente lhe estejam associadas. E isto, fundamentalmente, pelos motivos que, através de uma breve síntese, adiante apresento.

Mesmo que não ocorra qualquer agravamento em termos de severidade da seca, é bem conhecido que, na maior parte do território nacional, a falta de água para o regadio é provavelmente, desde que se faz agricultura no sentido actual desta actividade, um dos principais factores limitantes da possibilidade de as culturas exibirem o seu potencial genético de produção.

Efectivamente, dadas as características do clima mediterrâneo, a chuva é escassa, e muitas vezes nula, naquela altura do ano em que a temperatura e a luminosidade são, precisamente, mais favoráveis ao desenvolvimento da quase totalidade das plantas cultivadas.

É claro que a concretização de tais empreendimentos não vai ser pacífica, a avaliar, desde logo, pelo que se verificou num passado não muito longínquo, pelo potencial desaparecimento de espécies cujas condições de vida sejam incompatíveis, por exemplo, com o alagamento provocado pelas novas albufeiras.

Quanto a este aspecto, devo dizer que, também neste caso, e embora manifestando o meu máximo respeito pela biodiversidade global, preocupa-me mais a criação de condições para um aumento do bem-estar do género humano. Aliás, e ainda a propósito da manutenção da biodiversidade, eu creio (embora reconheça a minha falta de conhecimentos específicos neste domínio) que ela virá a ser conseguida através dos avanços que continuarão, necessariamente, a registar-se no domínio da Genética (sentido lato).

E não haverá também quem diga que o regadio pode causar danos ambientais nos solos, nas águas e até na atmosfera? Eu próprio o disse e escrevi pela primeira vez em 1968, tendo até referido nessa altura que os italianos, à semelhança do que se dizia em relação á calagem, usavam o ditado «o regadio enriquece os pais mas pode empobrecer os filhos».

A base deste ditado assentaria no facto de a rega, eventualmente, poder ser efectuada com o uso de águas que, em termos quantitativos e/ou qualitativos, não respeitassem as exigências do condicionalismo planta/solo/ água; e/ou não atender, por exemplo, ao facto de as plantas, uma vez libertas do factor limitante água, poderem ter maior crescimento, tal facto implicando a necessidade de absorção de maiores quantidades de todos os nutrientes e de, nalguns casos, contribuir para um potencial aumento da acidez ou da alcalinidade dos solos.

Ainda em relação a uma possível deficiente qualidade da água de rega, chamaria a atenção para uma prática cujo estudo que comecei a recomendar logo que começaram a aumentar as preocupações ambientais das populações.

Refiro-me à possibilidade de se usarem na rega as águas residuais (provenientes, nomeadamente, das estações de tratamento de diversos efluentes), tal facto permitindo tirar partido não só da água mas também dos nutrientes que nela ainda se encontrem.

Considera-se, obviamente, que a composição de tais águas deverá ser previamente avaliada, não só em termos de características físicas e química, mas também, e sobretudo, de condicionantes microbiológicas.

O regadio, tal como mais provavelmente seria efectuado até não há muitos anos atrás, deveria exigir a aplicação de maiores quantidades de macronutrientes e, provavelmente, atender às potenciais deficiências de micronutrientes que agora poderiam ocorrer, bem como à maior probabilidade de ser necessário corrigir a reação do solo.

Aproveito, entretanto, para salientar os progressos que, neste domínio, vêm sendo feitos quanto ao mais racional uso da água de rega, tanto em termos de utilizar muito menores quantidades de água (usando, por exemplo a rega gota-a-gota vs rega por alagamento) como á possibilidade de essa água poder ser de pior qualidade (em termos de apesentar maior salinidade e/ou permitir a inclusão de maiores tores de nutrientes a usar na fertirrigação).

A este propósito, não posso deixar de referir as elevadas esperanças (em muitos casos já traduzidas por certezas) que, tanto no que se refere ao uso da água como dos nutrientes e, certamente, também dos pesticidas, eu deposito no uso dos sensores que vêm sendo desenvolvidos nas Novas Tecnologias.

(continua)

Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 27, no âmbito do dossier dedicado à Rega.

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