FacebookRSS feed

Agrotec

NaturEmpathy: Unidos para Vender

entrevista

Situada na cidade de Amarante, a NaturEmpathy é um projeto empresarial fundado por um grupo de jovens produtores de cogumelos, com o objetivo de preencher um obstáculo comum: o escoamento da produção. É uma sociedade por quotas detida pelos sócios de forma igualitária. A sobrevivência da empresa é sustentada no comissionamento do produto vendido pelos associados, tendo como propósito torná-la autossustentável. O seu objetivo é servir de plataforma para resolver um problema que é comum: a dificuldade na venda do produto.

AGROTEC: O escoamento do produto é uma dificuldade comum para os produtores de cogumelos em Portugal?

Carla Mendes: Sim. Nós temos recebido imensos contactos de produtores que já estão com produção e não sabem o que fazer à mesma. Este é, de facto, um problema dos produtores de cogumelos em Portugal. Existem mercados, mas é difícil chegar a eles.

AG: Há quanto tempo existe a NaturEmpathy?

CM: Existe há um ano e quatro meses oficialmente, mas tem um histórico por trás. Começou com o projeto A Nossa Quinta, que tentou reunir e juntar outros produtores, que decidiram unir esforços para abarcar outros mercados, ser mais competitivo, reduzir custos e partilhar conhecimento.

AG: Os produtores são todos da zona de Amarante? Isso é um fator decisivo para pertencer à NaturEmpathy?

CM: A maioria sim, são de Amarante e zonas circundantes, mas isso não é um fator decisivo
para pertencer à NaturEmpathy. Por exemplo, temos também um projeto em Penafiel e outro em Aveiro.

AG: Estão recetivos a receber novos membros?

CM: Sim, mas não no imediato. Primeiro, teremos que garantir um volume de negócios sufi¬ciente que permita escoar o produto dos atuais sócios para, posteriormente, já com maiores garantias, aceitarmos novos membros.

AG: Quais são os requisitos para pertencer à NaturEmpathy?

CM: Neste momento não existem requisitos, pelo simples facto de não estarmos a aceitar novos membros. O que os produtores podem fazer é enviar-nos a informação e a caracte¬rização para incluirmos o produtor na nossa base de dados. No caso de existir uma encomenda que não seja possível de ser suprida unicamente pelos sócios da NaturEmpathy, contactaremos produtores externos para o escoamento do produto.

AG: Qual o destino da produção? Qual a percentagem que é vendida para o mercado externo?

CM: Estamos a direcionar-nos para o mercado de exportação. Vendemos também uma parte internamente, diretamente ao consumidor, mas o nosso foco é no mercado externo. O distribuidor nacional não valoriza este tipo de produção (que é mais dispendioso do que por exemplo a produção em substrato) e o preço oferecido, por vezes, não paga sequer os custos de produção. Creio que teremos tam¬bém que fazer um trabalho de informação/ divulgação do cogumelo shiitake produzido em tronco de madeira para o mercado português, que ainda não foi feito, daí o consumidor não valorizar adequadamente o nosso produto. Não queremos colocar de parte o mercado nacional, consideramos que não faz sentido, apesar de o foco estar na exportação. Neste momento ainda não podemos adiantar valores concretos, mas ambicionamos escoar 80% para exportação e 20% para o mercado interno.

AG: Tencionam apenas escoar em fresco ou colocam também a hipótese do mercado de transformação?

CM: Temos esse objetivo também, pois abre-nos outros mercados e perspetivas. O mercado dos frescos é para continuar, mas é um mercado mais difícil do que o da transformação. O nosso objetivo passa por, inicialmente, recorrer a parceiros para o processo de transformação.

AG: Qual o preço médio pago aos produtores?

CM: Depende um pouco... Se for para o consumidor final temos um preço, se for para restaurantes outro, se for para distribuição outro... o nosso preço médio de venda anda à volta dos 8€.

AG: A produção (espécie, época da colheita, quantidade produzida) é determinada aos associados pela NaturEmpathy? Existe alguma estratégia nesse sentido?

CM: É definido um plano de produção e os produtores, obviamente, têm que o cumprir. Temos um sistema de rotatividade de produções, para não termos demasiada produção em certos momentos e muito pouca noutros. O produtor também não pode vender isoladamente a sua produção, mas também tal não faria sentido. Relativamente à variedade, os membros quando entraram já tinham a sua produção...

AG: Qual o destino que é dado ao produto que não corresponde à primeira categoria? Ou refugo?

CM: Esse produto, como contém as mesmas qualidades e propriedades, só não tem o mesmo aspeto, será utilizado nos alimentos processados e desidratados. No momento, estamos em fase de testes, pelo que ainda não colocámos no mercado.Contamos brevemente disponibilizar cogumelos desidratados através da secagem ao sol, porque acreditamos que, quanto mais natural for o nosso produto, maior valor e qualidade terá. Estamos também a fazer algumas experiências com patês. Até à data, como fazemos uma produção planeada, ainda não ocorreu nenhuma situação de refugo.

AG: Estão no momento a ser realizados grandes investimentos na produção de cogumelos em Portugal. Teme que se registe no médio prazo um excesso de produção?

CM: A minha opinião pessoal é a de que existe mercado, o mais difícil é encontrá-lo. Acontece muitas vezes que a implementação de projetos é realizada sem a perspetiva de escoamento, verificando-se depois muitas dificuldades no escoamento do produto.

Acredito que, de facto, existe mercado para absorver a produção, mas vão existir muitos produtores com muitas dificuldades para vender o produto, por várias razões: falta de meios para promover a venda para exportação, porque o mercado nacional começa a ser demasiado pequeno para os produtores de cogumelos... Existem já muitos produtores a irem bater à porta de muitos restaurantes, distribuidores... De qualquer forma, acredito que este problema vai acabar por se resolver, sendo este um produto “novo” no mercado nacional, os constrangimentos são maiores, pois nada ainda está feito, e ninguém conhece muito bem o mercado ainda, o que leva a maiores dificuldades.

AG: Quais os principais custos na produção de cogumelos?

CM: Existem vários. Depois dos custos de montagem da estrutura, temos a madeira, a mão-de-obra, a inoculação... Como usamos materiais de topo, todos os materiais têm um preço elevado.

Por: João Duarte Barbosa, in AGROTEC nº 15.