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Agrotec

Vermicompostagem: uma solução de Fertilidade e Sustentabilidade para o Espaço Rural

Artigo Técnico

Enquadramento

Grande parte dos solos das zonas rurais portugue­sas apresenta carência de matéria orgânica, possuin­do reflexos na fertilidade natural dos solos sendo a sua produtivida­de mantida, na grande maioria das vezes, com recurso a adubos de síntese, gerando diversos problemas ambientais. Com vista ao aumento dos teores de matéria orgânica, deverão ser valorizados os resíduos das ex­plorações através de soluções tecnológicas e biológicas e de baixo investimento inicial, aplicando-se igualmente os produtos obti­dos para enriquecimento do solo em maté­ria orgânica e nutrientes.

Solução Tecnológica para e Espaço Rural: Vermicompostagem

A Vermicompostagem é um ramo da Vermitecnologia, sendo um processo bioló­gico controlado que visa o tratamento e va­lorização da fração orgânica dos resíduos sólidos, utilizando-se determinadas espécies de minhocas Epígeas como agente biológico. Utilizando-se densidades elevadas (1-16 kg m-2) e estimulando a ação principalmente de bactérias e fungos aeróbios, as minhocas di­gerem, oxidam, mineralizam e humificam os materiais que atravessam o seu trato intes­tinal, produzindo o vermicomposto, rico em nutrientes, fauna microbiana e reguladores de crescimento vegetal.

Paralelamente, é possível fornecer minhocas para crescimento e multiplicação do processo de tratamento através da vermicultura, no qual o principal objetivo passa por aumentar, por unidade de tempo, as populações de minhocas existentes, pelo que se utilizam densidades baixas (0,25-1 kg m-2). O vermicomposto é igualmente produzido, embora como objetivo secundário.

As espécies utilizadas em Portugal pertencem ao género Eisenia spp. – Eisenia fetida e Eise­nia andrei. Ao atravessarem o seu trato intestinal, os resíduos sofrem processos de oxidação e mineralização, sendo eliminados aproximadamente 60% em peso na forma de vermicomposto. Diariamente, uma minhoca adulta irá ingerir metade do seu próprio peso em resíduos e micror­ganismos.

Comparativo com Outros Processos de Tratamento Biológicos

Apesar de a vermicompostagem ser considerada um processo biológico como a compos­tagem ou a digestão anaeróbia, são processos marcadamente distintos (Quadro 1).

Resíduos que Poderão ser Tratados: Características e Utilização

Qualquer resíduo orgânico pode ser tratado por vermicomposta­gem, sendo possível em espaço rural identificar os seguintes fluxos de resíduos:

- Resíduos provenientes do ciclo das culturas onde se poderão inclu­ir produtos hortícolas, frutícolas ou espécies aromáticas impróprias para consumo;

- Restolho;

- Folhagem seca ou verde diversa;

- Resíduos resultantes do desbaste, poda e abate de espécies arbóreas e arbustivas, nomeadamente troncos, ramagens e caules;

- Estrumes resultantes das explorações (aviário, ovino, caprino, equi­no ou suíno);

- Vegetação herbácea, incluindo espécies infestantes diversas.

Benefícios Resultantes da Aplicação do Vermicomposto

 Da aplicação do vermicomposto resultará:

- Aumento dos teores em matéria orgânica, com o consequente au­mento de fertilidade e produtividade;

- Aumento dos processos de mineralização dos componentes orgânicos, fruto do aumento de diversidade microbiana;

- Aumento da capacidade de troca catiónica;

- Aumento da capacidade de retenção de água em solos arenosos e de circulação de água em solos argilosos;

- Promoção da ciclagem de nutrientes;

- Maior teor em macro e micronutrientes na planta;

- Criação de processos tampão a nível do solo.

 Sistemas Utilizados

Na vermicompostagem, e particularmente no espaço rural, exis­tem três sistemas distintos que poderão ser utilizados, cada qual com a sua eficiência (Quadro 2).

 Tratamento de Resíduos

Na vermicompostagem, os resíduos são adicionados por camadas ao sistema de tratamento, em alturas que não deverão ultrapassar 0,35 m em altura útil, não existindo necessidade em arejar os mesmos pe­riodicamente, contrariamente à compostagem.

Características e Aplicação do Vermicomposto

O vermicomposto é classificado como um fertilizante (atuan­do no fornecimento de macro e micronutrientes), corretivo (atu­ando na correção das características químicas e físicas do solo) e substrato (produção de viveiros ou suporte para plantas envasadas) orgânico.

A natureza da aplicação irá depender do tipo e variedade a cul­tivar, época de aplicação, características e propriedades do solo.

Por: Nelson Lourenço, in AGROTEC nº 2.

Nelson Lourenço é o autor do livro Manual de Vermicompostagem, editado pela Publindústria, à venda na Livraria da Engebook (para mais informações, clique na imagem):