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Agrotec

Toxoplasmose em animais selvagens - será um problema para nós ou seremos nós um problema para os animais selvagens?

Lucas Lobo1, Teresa Letra Mateus1—6

1 Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viana do Castelo

2 Centro de Investigação e Desenvolvimento em Sistemas Agroalimentares e Sustentabilidade (CISAS), Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viana do Castelo

3 Centro de Ciência Animal e Veterinária (CECAV), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

4 Laboratório Associado de Ciências Animais e Veterinárias (AL4AnimalS), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

5 Instituto de Saúde Pública (EpiUnit), Universidade do Porto

6 Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR), Universidade do Porto

RESUMO

A toxoplasmose é uma doença zoonótica causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que tem a capacidade de infetar uma ampla gama de espécies animais domésticas ou selvagens, incluindo o Homem. Esta doença representa uma preocupação significativa de saúde pública devido ao seu potencial impacto população humana. Compreender o risco zoonótico associado à toxoplasmose é crucial para a implementação de estratégias eficazes de prevenção e controlo. O crescimento das atividades ao ar livre e a urbanização dos animais selvagens, traz novos desafios à epidemiologia da toxoplasmose e ao seu controlo. Os estudos indicam que a proximidade dos animais selvagens dos territórios fortemente humanizados aumenta a prevalência da doença nos animais selvagens.

TOXOPLASMOSE E TOXOPLASMA GONDII – O QUE É?

A toxoplasmose é uma doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, é uma zoonose e conhecer os fatores que contribuem para a transmissão e persistência de Toxoplasma gondii em populações de animais silvestres é crucial para implementar estratégias eficazes de controlo e prevenção.

De acordo com Pereira et al. (2023), o ciclo de vida deste parasita é heteroxeno, isto é, tem um hospedeiro definitivo (felídeos) e um hospedeiro intermediário (pequenos mamíferos e aves).

Os gatos domésticos, particularmente aqueles com acesso ao exterior (ar livre), são os hospedeiros definitivos de Toxoplasma gondii. Eles infetam-se pela ingestão de cistos teciduais presentes em hospedeiros intermediários infetados ou pela ingestão de oocistos eliminados nas suas fezes. A prevalência de Toxoplasma gondii em gatos domésticos pode variar dependendo de vários fatores, como a localização geográfica, a dieta e a exposição a animais selvagens infetados (Aguirre et al., 2019). Num estudo realizado recentemente em Portugal identificou-se uma prevalência de 13,1% em gatos domésticos com dono (Pereira et al., 2023).

O potencial zoonótico da toxoplasmose decorre da capacidade de Toxoplasma gondii de infetar uma ampla gama de hospedeiros intermediários, incluindo espécies selvagens (como por exemplo: o javali, o veado, o coelho bravo entre outros). Fornazari e Langoni (2014) destacam a importância do entendimento e do conhecimento de doenças zoonóticas, incluindo a toxoplasmose, em mamíferos silvestres. As espécies selvagens de roedores, pássaros e carnívoros podem ser reservatórios de Toxoplasma gondii, atuando como fontes potenciais de infeção para humanos e outros animais.

A dinâmica de transmissão de Toxoplasma gondii na vida selvagem, como já referido, envolve a ingestão de oocistos eliminados por gatos infetados ou o consumo de presas infetadas. O parasita pode formar cistos tecidulares contendo bradizoítos, o estadio latente do parasita, nos tecidos neurais e musculares de hospedeiros intermediários infetados. Dámek et al. (2023) conduziram uma revisão sistemática e modelagem da prevalência dependente da idade de Toxoplasma gondii em espécies pecuárias, animais selvagens e felinos na Europa. As suas descobertas fornecem informações sobre a epidemiologia da toxoplasmose em diferentes populações hospedeiras.

Compreender as vias específicas de transmissão e os fatores que influenciam a prevalência de Toxoplasma gondii na vida selvagem é essencial para o desenvolvimento de intervenções direcionadas para mitigar o impacto da toxoplasmose na vida selvagem e na saúde pública. Os seres humanos podem infetar-se com Toxoplasma gondii por várias vias. A ingestão de carne malcozinhada ou crua, especialmente carne de caça, é uma fonte comum de infeção humana (Dubey, 2010). Outra importante via de transmissão é o consumo de alimentos ou água contaminados, que pode ocorrer quando frutas, vegetais ou solo são contaminados com oocistos eliminados por animais infetados (Aguirre et al., 2019).

A contaminação ambiental com oocistos de Toxoplasma gondii é uma preocupação significativa para a transmissão zoonótica. Os oocistos podem sobreviver no ambiente por longos períodos e podem se espalhar por meio de solo, água ou materiais contaminados (Aguirre et al., 2019). Os felídeos domésticos e silvestres, principalmente gatos domésticos, são a principal fonte de excreção de oocistos e as suas fezes podem contaminar o meio ambiente (Fornazari e Langoni, 2014).

Continue a ler este artigo publicado na edição n.º 48 da Revista AGROTEC.

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