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Agrotec

Proposta de Defesa da Floresta contra Incêndios através da Resinagem

IMG_3300O setor da Resinagem em Portugal apresentou, no âmbito do PDR 2014-2020, uma proposta de Defesa da Floresta contra Incêndios através da Resinagem, aproveitando o exercício de uma atividade económica rentável em prol da prevenção, deteção e primeira intervenção a incêndios.  Pode ler a proposta, apresentada pela SUST-FOREST (Multifuncionalidade, conservação e emprego rural nos territórios do sul da Europa através da extração da resina) e pelo Grupo de Trabalho da Resina, aqui:

PROPOSTA DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS ATRAVÉS DA RESINAGEM NO ÂMBITO DO PDR 2014-2020

A resinagem é a atividade produtiva que obriga a uma maior intensidade de utilização de mão-de-obra nos nossos espaços florestais durante o verão e aquela que possibilita uma presença mais frequente e um maior conhecimento – quase minucioso – das áreas de trabalho. Cada resineiro trabalha durante 6 a 9 meses diariamente nas mesmas áreas numa superfície que pode ir dos 20 aos 30 há, podendo-se resinar na mesma área por mais de 20 anos. O período de maior intensidade de trabalho coincide com o período crítico de incêndios, pois é também durante o Verão que os pinheiros produzem maior quantidade de resina implicando uma maior frequência de atividades.

O resineiro conhece perfeitamente todos os caminhos, as florestas e as árvores em que trabalha e as áreas envolventes. A sua presença e o seu trabalho diário constituem uma vigilância ativa e um poder de dissuasão que só a presença constante de forças de autoridade poderia igualar. Esta presença diária e o seu conhecimento das áreas de trabalho pode ser, se devidamente enquadrado e utilizado, um precioso aliado nas ações de prevenção e nas decisões de combate a incêndios.

Com formação adequada e equipamentos ligeiros, as equipas de resineiros poderão também vir a colaborar de forma ativa e extremamente útil nas ações de primeira intervenção, de rescaldo e de vigilância. Para o resineiro, defender a floresta é defender o seu investimento, o seu emprego, a sua profissão, o seu futuro, a origem e o produto do seu trabalho. Quando esta arde perde-se, para o resineiro, não só a resina que lá tem – e o que isso lhe custou – mas sobretudo a possibilidade a muito longo prazo de aí poder voltar a trabalhar (cerca de 30 anos, que é a idade que os pinheiros precisam para atingirem a dimensão mínima permitida por lei). Trata-se talvez da atividade que mais investe (sobretudo em mão de obra) e mais arrisca nas áreas florestais em que se desenvolve, com mais interesse imediato, a médio e a longo prazo na preservação dessas florestas. Apesar da enorme possibilidade de associar esta atividade à mitigação produtiva contra incêndios – com vantagens reciprocas para os resineiros, para os proprietários das áreas florestais e para a sociedade em geral – os resineiros não foram nunca considerados como parceiros ou intervenientes nas políticas e programas de Defesa da Floresta Contra Incêndios Florestais do nosso País, ou em qualquer programa de Desenvolvimento Rural ou Agrário, situação que se pretende ver alterada, de forma a racionalizar esforços e a aumentar a eficiência de medidas.

Por outro lado a resinagem não é uma atividade que se desenvolva durante todo o ano, tendo um período de paragem legal e natural (por paragem de atividade vegetativa das árvores), que pode durar de 3 a 6 meses conforme as circunstâncias, entre o Outono e o Inverno. A atribuição de tarefas de prevenção estrutural, nomeadamente de limpezas de caminhos, de pontos de água e de gestão de combustíveis, nas áreas de trabalho dos resineiros e suas envolventes durante este período permitirá eliminar esta precaridade sazonal de trabalho, permitindo uma maior estabilidade na profissão e uma menor recorrência a apoios sociais.

De forma a potenciar a criação destas sinergias que poderão contribuir de forma que se assemelha vantajosa para toda a sociedade foi elaborada e apresentada às instituições tutelares uma “PROPOSTA PARA CRIAÇÃO DE NÚCLEOS DE DEFESA CONTRA INCÊNDIOS ATRAVÉS DA RESINAGEM”. Esta proposta estará atualmente a ser analisada pelos organismos competentes para possível implementação no âmbito do Plano de Desenvolvimento Rural (PDR) 2014-2020 do continente. A proposta surge na sequência do projecto SUST-FOREST (Multifuncionalidade, conservação e emprego rural nos territórios do sul da Europa através da extração da resina) e do Grupo de Trabalho da Resina, face ao excelente potencial da atividade, em termos de perfil de desenvolvimento rural, para elegibilidade no âmbito da PAC.

Todos os estudos referem como uma das grandes causas estruturais dos incêndios florestais dos últimos decénios a desertificação rural e o abandono de atividades tradicionais que dependiam dos produtos naturais. Ora estamos perante uma das últimas atividades que contraria esta tendência e numa fase em que aumenta o seu interesse, por más (desemprego) e boas razões (valorização de produto natural sustentável e necessidade para a industria nacional). Considerando as condições atuais do subsector da resinagem e do nosso país, a implementação de medidas de enquadramento e desenvolvimento da resinagem poderá aumentar de forma significativa o seu contributo para a economia rural e nacional, para a sustentabilidade do país e para a defesa e valorização dos seus espaços florestais.

Acresce ainda que no próximo PDR (2014-2020) se joga talvez a última oportunidade para poder relançar, com uma dimensão territorial significativa, a resinagem no curto prazo no nosso País, porque para resinar é preciso pinhal adulto e a manter-se a sua tendência de destruição das últimas décadas, devida aos grandes incêndios, não serão necessários muitos anos para que se perca qualquer possibilidade que ainda existe.

Estamos assim perante uma oportunidade que não deveremos perder mas sim promover, face à crescente necessidade para a indústria nacional desta matéria-prima (recurso natural e sustentável), ao elevado desemprego nas áreas rurais, à ameaça dos incêndios florestais e aos elevados custos não produtivos das ações de mitigação de incêndios florestais. Pelas suas características, a atividade de resinagem contribui de forma direta e preponderante simultaneamente para o desenvolvimento rural, para a sustentabilidade da indústria nacional de primeira transformação e de derivados de resina (e portanto para as exportações portuguesas), e para a defesa da floresta contra incêndios.

Espera-se que as instituições responsáveis saibam e queiram aproveitar esta oportunidade, numa altura em que o país cada vez mais precisa de valorizar os seus recursos (económicos, ambientais e sociais) e de rentabilizar os seus investimentos.