Lusosem participa em projeto europeu de I&D para novas aplicações do tremoço
A Lusosem e o Instituto Superior de Agronomia são parceiros de um consórcio europeu de investigação aplicada que quer dar nova vida ao tremoço, aproveitando na íntegra as potencialidades da planta e do fruto para alimentação humana e animal, produção de prebióticos e como fonte de bioenergia.
O LIBBIO é um projeto europeu de investigação aplicada para melhoramento, multiplicação e produção do tremoço dos Andes (Lupinus mutabilis) e desenvolvimento de novos processos de transformação industrial.
Baseado no conceito da Bioeconomia, o LIBBIO aposta no tremoço como opção cultural para ocupação de terras marginais na Europa, atendendo às características desta leguminosa: reduzida necessidade de fertilização e elevada capacidade de fixar azoto no solo.
Na fase de obtenção e melhoramento da semente, os investigadores deverão selecionar variedades de tremoço (não-OGM) com elevado rendimento em silagem ou em semente, contendo mais de 20% de teor em óleo e mais de 40% de teor proteico. O recurso a modernas tecnologias moleculares permitirá acelerar o processo de obtenção das variedades.
Na fase produtiva, o tremoço dos Andes será instalado como cultura de Primavera-Verão nos países do Centro e Norte da Europa e como cultura de outono-inverno nos países do Mediterrâneo, entre os quais Portugal.
O projeto inclui o desenvolvimento de novas tecnologias de transformação do tremoço à escala pré-industrial que visam retirar maior valor acrescentado do tremoço enquanto fonte de biomassa.
Os cientistas deverão isolar e caracterizar os diversos componentes desta leguminosa - óleos, proteínas, alcaloides, fibras solúveis - e avaliar o seu potencial como matéria-prima no fabrico de diferentes produtos. No final do projeto esperam obter protótipos que poderão ser desenvolvidos à escala industrial pelas empresas que integram o consórcio.
O impacto ambiental e socioeconómico da cultura do tremoço nas explorações agrícolas será avaliado, bem como a viabilidade tecnológica e rendimento industrial do mesmo como matéria-prima para biorrefinarias.
O LIBBIO teve início em outubro de 2016 e deverá prolongar-se até 30 de setembro de 2020.
A primeira reunião do consórcio decorreu na capital da Islândia, a 10 e 11 de outubro, com 19 participantes de 13 entidades parceiras. De Portugal estiveram presentes: Filipa Setas e Gonçalo Canha, do Departamento de Desenvolvimento da Lusosem, e os investigadores João Neves Martins e Ricardo Ferreira, do Instituto Superior de Agronomia.
O primeiro dia de reunião foi dedicado à planificação do trabalho do projeto e no segundo dia o grupo visitou o Departamento Islandês de Conservação do Solo, em Gunnarsholt, que estuda o tremoço e outras plantas como ferramenta na recuperação de terras marginais. Foi também visitado um agricultor, produtor de cevada, trigo e colza, na localidade de Thorvaldseyri, que está interessado em produzir tremoço para Lusosem - produtos para rentabilizar algumas terras muito pobres (à base de cinza e areia) e sujeitas a baixas temperaturas e geadas na primavera.
A próxima reunião do consórcio decorrerá a 4 e 5 de abril na Grécia para fallow up dos trabalhos e objetivos definidos.
O LIBBIO é financiado por fundos comunitários do programa Horizonte 2020, geridos pela parceria público-privada Bio-Based Industries Joint Undertaking. Esta plataforma reúne instituições públicas e bioindústrias europeias, tendo por objetivo reduzir a dependência da UE face à energia de origem fóssil, através do desenvolvimento de tecnologias de biorrefinação que transformem recursos naturais renováveis em produtos, materiais e combustíveis verdes.
O consórcio envolve 14 parceiros, entre investigadores de centros públicos e empresas privadas, oriundos de oito países europeus. Portugal está representado pela Lusosem e pelo Instituto Superior de Agronomia.
A Lusosem tem vasta experiência na cultura do tremoço. Nos últimos anos, foi parceira no projeto + Lupinus, que estudou a utilização do tremoço, numa perspetiva transversal, abordando desde a melhoria genética da espécie, ao seu itinerário cultural, passando pela sua versatilidade como alimento com benefícios comprovados na prevenção de inflamações e do cancro do intestino.
Paralelamente, a Lusosem produz tremoço “amargo” para a indústria conserveira e tremoço “doce” para a produção de Blad, um fungicida biológico obtido da proteína do tremoço.