Lista de variedades recomendadas: Passado, presente e futuro
A LVR é uma iniciativa conjunta da fileira dos cereais praganosos: Investigação – INIAV/ Elvas e Instituto Politécnico de Beja; Produção – ANPOC: Indústria – Ceres/Germen, Cerealis e Empresas Comercializadoras de Sementes. Anualmente publica duas Listas de Variedades Recomendadas, uma de Trigo Mole e outra de Trigo Duro e pretende ser uma ferramenta de apoio ao agricultor na hora de decidir as variedades a semear.
Por: Ana Sofia Bagulho1, Rita Costa1, Nuno Pinheiro1, Conceição Gomes1, Ana Sofia Almeida1, José Moreira1, Armindo Costa1, José Coutinho1, Manuel Patanita2, José Dôres2, Natividade Costa2, Benvindo Maçãs1
A recomendação de variedades baseada em informação independente através de uma lista corroborada pela fileira surgiu da inevitabilidade de valorizar a produção nacional de trigo, melhorando a sua competitividade e diferenciação. No presente artigo analisa-se a origem da LVR, como decorre o processo anualmente, o seu impacto ao nível da produção e da transformação e as suas perspetivas futuras.
No passado mês de outubro, foram divulgadas as LVR – Listas de Variedades Recomendadas de Trigo Mole e Duro de qualidade, que pretendem ser uma ferramenta de apoio ao agricultor na hora de decidir as variedades a semear no ano agrícola 2020/21. Estas variedades foram testadas e reconhecidas pela fileira como tendo potencial genético de qualidade e produção, cuja expressão está dependente do itinerário técnico seguido e de como as condições meteorológicas ocorrem durante a campanha agrícola.
Para este ano, a LVR de Trigo Mole inclui quatro trigos melhoradores e seis trigos semi- corretores, enquanto a LVR de Trigo Duro é constituída por seis variedades enquadradas na classe A.
A LVR, que já reúne sete anos de ensaios, é uma iniciativa conjunta da fileira dos cereais praganosos: Investigação – INIAV/Elvas e Instituto Politécnico de Beja; Produção – ANPOC; Indústria – Ceres/Germen, Cerealis e Empresas Comercializadoras de Sementes. A recomendação de variedades baseada em informação independente através de uma lista corroborada pela fileira surgiu, à semelhança do que já se fazia para a cevada dística para malte, da inevitabilidade de valorizar a produção nacional, melhorando a sua competitividade e diferenciação.
Todos os anos são realizados ensaios de campo no Alto e Baixo-Alentejo, onde diversas variedades de trigo mole e duro, propostas pelas empresas de sementes, são avaliadas relativamente a parâmetros agronómicos e de qualidade tecnológica. Com base nos resultados de pelo menos três anos agrícolas, identificam-se as variedades com melhor comportamento face aos condicionalismos climáticos do sul de Portugal e que melhor servem os interesses de todos os agentes da fileira, com especial destaque para o valor de utilização dos trigos, validado pela indústria.
O valor de utilização final de um trigo é definido por uma série de parâmetros tecnológicos determinados ao nível do grão e que se relacionam, fundamentalmente, com o rendimento em farinha/sêmolas, com a sua funcionalidade e com diversos requisitos que são exigidos ao nível dos produtos finais.
A LVR tem permitido a curto prazo direcionar a produção para trigos de qualidade superior, reconhecidos pela indústria nacional, o que constitui claramente uma oportunidade de valorização: produtos com maior valor de mercado e com procura por satisfazer. A médio prazo tem contribuído para fomentar a concentração da produção de trigo num menor número de variedades de elevada qualidade, com vista à obtenção de lotes mais homogéneos e de maior dimensão, de acordo com os requisitos e necessidades da indústria.
O sucesso desta iniciativa tem residido no facto de se responderem aos interesses do sector como um todo, com clareza e independência.
Impacto da LVR na indústria transformadora
Ao nível da transformação, a LVR veio efetivamente dar resposta a uma necessidade da indústria em adquirir trigo de qualidade num regime de proximidade, em lotes de maiores dimensões e mais homogéneos. Beneficia, ainda, de colheitas anualmente mais precoces do que noutros países europeus e, também, menos propensas a contaminações de origem biológica pelo seu menor teor de humidade.
A LVR tem reunido toda a fileira impulsionando o aparecimento de novos nichos de mercado que pretendem valorizar, diferenciar e dignificar os cereais nacionais. É o caso da marca Cereais do Alentejo, com raízes em 2016 e registo oficial em 2019, por parte da ANPOC, que surgiu com o objetivo claro de fomentar e valorizar a produção de cereais do Alentejo, garantindo ainda ao consumidor que em Portugal é possível consumir pão, massas alimentícias, cerveja e outros produtos elaborados com cereais portugueses produzidos nesta importante área agrícola.
Continua
Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 37
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1 Instituto Nacional de Investigação Agrária, Estação de Melhoramento de Plantas de Elvas (INIAV-Elvas)
2 Instituto Politécnico de Beja, Escola Superior Agrária, Departamento de Biociências (IP. Beja/ESA)