Joaquim Pedro Torres: «A troca de informação e conhecimento que a Agroglobal promove é uma ajuda preciosa»
Perante a conjectura atual, o adiamento da Agroglobal 2020 era inevitável. A próxima edição do certame acontece entre 6 e 8 de julho de 2021. Contudo, além de a organização não deixar que a data passe em branco, apostando no evento online, os ensaios e os campos de demonstração presentes na Valada do Ribatejo, das várias empresas ibéricas, continuaram a todo o vapor. Joaquim Pedro Torres, engenheiro responsável pelo evento, explica-nos a adaptação do evento, depositando o foco na resiliência e capacidade única do setor agrícola.
Texto: Sofia Cardoso
AGROTEC: A decisão de adiar esta edição da Agroglobal não terá, certamente, sido fácil. As empresas apoiaram a organização?
JOAQUIM PEDRO TORRES: Não existiam alternativas ao adiamento da Agroglobal. Não fazia sentido, nem provavelmente haveria autorização para a realização de um evento com a mobilização de pessoas, dinâmica e a interação da Agroglobal. Fizemo-lo com antecedência, pois os preparativos das empresas para uma feira com estas características, construída em todas as edições a partir do zero, começam meses antes. Foi uma decisão consensual no seio das empresas participantes. Decidimos adiá-la para tão cedo quanto possível, nomeadamente, julho de 2021, pois entendemos que não existem versões online que possam substituir o potencial de uma Agroglobal nos moldes habituais.
AG: Como disse, a versão online não pode substituir a Agroglobal em si, mas estão a preparar um evento nesses moldes para assinalar a data. O que nos pode contar sobre tal?
JPT: Não é fácil, pelo menos por agora, que as pessoas, sem ser de uma forma presencial e, muitas vezes, ocasional, procurem as sinergias entre empresas que conduzam às novas ideias, aos negócios e à criação de valor, objetivo final da Agroglobal. Temos essa consciência. No entanto, não poderíamos deixar dar um sinal, com os meios possíveis, que o setor, que tão bem resistiu nos momentos de crise mais aguda, vai voltar a olhar o futuro, vai voltar à atitude construtiva presente antes da crise.
Teremos uma planta virtual, disponível na nossa página web e nas redes sociais dos nossos media partners, em que as empresas poderão comunicar as suas soluções mais recentes e os seus projetos inovadores. Teremos, ainda, um ciclo de seis conferências, transmitidas em live streaming, que acontecem de 9 a 11 de setembro, a partir do recinto da Agroglobal. “Portugal no futuro, uma visão estratégica para a agricultura, alimentação e território” será uma dessas conferências, exatamente para marcar esse “olhar em frente” que o setor precisa.
Para debater o tema, contaremos com a presença física do Comissário de Agricultura Europeu, Dr. Janusz Wojciechowski; dos ministros de Agricultura de Portugal e Espanha, a engenheira Maria do Céu Antunes e o Dr. Luis Planas; e dos professores Francisco Avilez, Costa e Silva, Poiares Maduro e Daniel Traça. A presença de personalidades com tanto peso em Valada do Ribatejo é um sinal inequívoco da importância do tema. (A Agenda de Inovação para a Agricultura será apresentada no momento).
AG: Os ensaios e os campos de demonstração são um dos expoentes do evento. De uma forma geral, qual o balanço da atividade? E quais as culturas mais distintas dos anos anteriores?
JPT: Muitos ensaios e campos de demonstração decorrem no Mouchão da Fonte Boa, com o empenho de sempre por parte das empresas de equipamentos, de sementes e plantas, de fertilizantes e de agroquímicos. Os campos estão muito bonitos, pois o adiamento da Agroglobal em nada fez abrandar os cuidados dos técnicos das empresas e da equipa e de todos eles se retiram ensinamentos interessantes.
O objetivo dos ensaios é levantar questões sobre as opções tomadas, assinalar o que está bem e o que se pode melhorar num debate enriquecedor para todos e também, diga-se, para os organizadores da Agroglobal enquanto agricultores.
AG: O espírito característico da Agroglobal sempre foi de encontro à partilha de conhecimento e apoio às empresas agrícolas. Num ano que se revelou complicado a vários níveis, como pode a Agroglobal apoiar os produtores?
JPT: A “linha editorial” da Agroglobal assenta na firme convicção que o setor agrícola é essencial para o país no plano económico, ambiental e social. Para cumprir estas funções, as empresas devem obrigar-se a um esforço permanente de modernização. A troca de informação e conhecimento, que a Agroglobal pretende promover, é, para isso, uma ajuda preciosa. Temos hoje uma agricultura mais limpa e mais precisa na gestão dos recursos, não sendo esta resultado dos “rótulos” aplicados, mas sim do trabalho e investimento continuado de muitas empresas, para que possamos ter melhores condições de trabalho, máquinas e equipamentos mais eficientes, genética mais produtiva, moléculas mais evoluídas, melhores fertilizantes, entre outros.
A elas cabe, ainda, a enorme responsabilidade de responder às crescentes necessidades de uma população que se estima que irá atingir mais de 9 biliões em 2050 e que consumirá, segundo estimativa da FAO, mais 70% de alimentos. É para estas empresas que existe a Agroglobal!
Consulte o Programa online da Agroglobal 2020 e outras novidades do evento.
Artigo originalmente publicado na Agrotec 36