Horticultura no Norte da Guiné-Bissau
Por Pedro M.P. Santos, Patrícia Maridalho, Luís Miguel Brito e Isabel Mourão
1. Agricultura no Norte da Guiné-Bissau
A República da Guiné-Bissau é um pequeno país localizado na África Ocidental, com uma população de 1,6 milhões habitantes.
Desde a sua independência este país tem sido alvo de instabilidade política, o que tem dificultado a adoção de políticas internas e o desenvolvimento de um Estado mais social e democrático. É considerado um Estado Frágil (FFP, 2016) extremamente vulnerável nas áreas social, económica e política.
Esta fragilidade é extensiva à agricultura, não só devido à escassez de equipamentos e materiais agrícolas, mas também, por falta de investigação agrária, desenvolvimento tecnológico e apoio técnico aos agricultores que, assim, não possuem as condições necessárias para contribuir para a modernização e para a melhoria da produção agrícola local.
Perante este cenário, e num país com mais de 70% da população dependente da agricultura (INE-GB, 2014), é fácil compreender a predominância de uma agricultura familiar tradicional, de subsistência.
As principais culturas agrícolas da Guiné-Bissau são o arroz, o cajú e as culturas hortícolas.
De acordo com a FAO (FAOSTAT), a produção anual de arroz era inferior a 50.000 t na década de 1960, aumentou acentuadamente durante as décadas de 1970 e 1980 para valores superiores a 100.000 t e ultrapassou 175.000 t no ano de 2011. A produção de caju era quase inexistente até 1980, aumentou para 25.000 t em 1991, e para aproximadamente 100.000 t em 2001 e 125.000 t em 2011.
As culturas hortícolas não tinham expressão entre 1961 e 1981, mas aumentaram para 21.500 t em 1991 e para 33.700 t em 2011.
O cultivo de arroz na Guiné-Bissau é anterior à chegada dos primeiros povos europeus, em meados do séc. XV.
Segundo relatos dos primeiros portugueses a explorarem a costa da África Ocidental, os povos locais já cultivavam arroz e já na altura esta cultura se assumia como de grande importância na alimentação da população local (Linares, 2002).
As próprias características topográficas do país, marcado pelas suas vastas planícies e por uma zona costeira com cerca de 350 km reúnem as condições ideais para a instalação do arroz.
Produzida um pouco por todo o país, a cultura do arroz, realizada pelas mulheres (Figura 1) distingue-se em três sistemas de cultivo distintos: pampam, bolanhas doces e bolanhas salgadas.
Em crioulo o termo pampam designa o arroz de sequeiro cultivado em zonas de floresta desmatadas para o efeito, situando-se este tipo de cultivo nas zonas mais interiores do país.
Quanto ao termo bolanha este refere-se ao cultivo de arroz em zonas de planície ou vale situadas junto à margem dos vários rios que cruzam o país e que ficam alagadas durante a estação das chuvas.
No caso das bolanhas salgadas estas distinguem-se das bolanhas doces pelo facto de se localizarem em terrenos com solos de origem aluvionar-marinha onde predominam os solos halo-hidromórficos e os polders tropicais, em terrenos sujeitos à influência da água das marés e recuperados ao mar pelos agricultores (Temudo, 1999).
(Continua).
Nota: Este artigo foi publicado na edição n.º 22 da Revista Agrotec. Para aceder à versão integral, solicite a nossa edição impressa. Contacte-nos através dos seguintes endereços:
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