Entrevista a Ines Rathke, Diretora de Projeto da maior Feira Internacional de Produção Animal
Começa hoje e decorre até ao dia 18 deste mês, na cidade de Hanôver, na Alemanha, a maior Feira Internacional de Produção Animal: a EuroTier. Em entrevista à Agrotec, media partner do evento, Ines Rathke, diretora de projeto, fala sobre as expetativas para a feira deste ano e as dificuldades que o setor enfrenta.
Quais são as suas expetativas para a feira deste ano?
Em primeiro lugar, estou muito animada que a EuroTier esteja a acontecer novamente. Mais de 1.800 expositores de 57 países, incluindo alguns de Portugal, decidiram estar em Hannover. Existem 14 salões com mais de 25 hectares - um bom tamanho para uma exploração agrícola pequena. Os agricultores vão ficar impressionados com as inovações técnicas dos expositores para suínos, bovinos, aves e rações, e sabemos pelas inúmeras inovações que é exatamente isso que eles receberão. Espero um forte interesse do setor de energia este ano, dada a necessidade aguda de mais energia renovável. EnergyDecentral, a feira realizada em paralelo, oferecerá soluções focadas na agricultura, incluindo agrovoltaicos, biogás com biometanização, combustível de madeira e turbinas eólicas menores.
Da última feira até agora, quais foram as mudanças?
O tema deste ano "Transformar a pecuária" reflete o que está a acontecer: cadeias de produção e valor, bem como demandas sociais e ambientais sobre a pecuária estão mudando significativamente, principalmente na Europa Ocidental. Escolhemos os principais destaques que exploram áreas em profundidade, incluindo “Feed for Future” com foco no futuro, como fontes de proteínas de algas e insetos. Além disso, no novo destaque “Conceitos de gestão de gado na exploração agrícola”, especialistas vão apresentar conceitos para suínos de engorda, porcas e leitões, vacas leiteiras e frangas. Esses são apenas dois novos destaques entre quase 400 eventos profissionais, incluindo demonstrações práticas de robôs de limpeza, venda direta e aquicultura, área em crescimento para os especialistas em gado.
Qual é a sua perceção da presença das empresas portuguesas e portuguesas nesta feira?
O setor pecuário português tem importância e relevância na União Europeia, mas também a nível mundial. Como tal, Portugal sempre esteve bem representado na EuroTier, quer como expositores, quer como agricultores visitantes e especialistas. Espero que este ano não seja exceção, especialmente com os ambiciosos planos de Portugal de ser autossuficiente na produção de carne. O EuroTier 2022 terá um papel importante para os agricultores portugueses, pois apresenta as soluções que serão necessárias, como o conceito de gestão pecuária e a genética. Nosso TopTierTreff é um local para criadores internacionais de leite e gado que apresentam mães e filhotes vivos. As empresas portuguesas da EuroTier vão procurar expandir-se internacionalmente. As soluções pecuárias e energéticas portuguesas têm uma longa tradição na agricultura.
Quais são as maiores novidades deste ano?
O grande atrativo são sempre os prémios de inovação que são selecionados por um júri especializado independente. Entre os vencedores de ouro e prata está um novo sistema usando microfones que podem detetar quaisquer problemas respiratórios precocemente em leitões para tratamento imediato. Outro vencedor aproveitou a experiência existente de ordenha de camelos e a aplicou em vacas leiteiras, resultando em um forro de teta que deteta diferenças de pressão para evitar lesões nas tetas.
Um total de 150 estreias mundiais serão apresentadas na EuroTier. Estas são inovações de todas as esferas, incluindo suínos, bovinos, aves e rações, que foram aprovadas por um painel de especialistas independentes em gado. Claro, há muito mais estreias mundiais e inovações para ver na EuroTier, que ainda não registaram sua inovação connosco oficialmente.
Quais são os maiores desafios do setor?
Os altos preços de inputs, como ração e energia, são um grande desafio no momento. Mas a agricultura global e os setores a montante e a jusante associados são atualmente afetados por condições económicas turbulentas. A guerra na Ucrânia, a pandemia, a reforma pendente da PAC na Europa, uma seca recorde, bem como a Peste Suína Africana influenciam o meio ambiente. Além disso, os consumidores europeus estão a tornar-se mais sensíveis ao preço durante as compras, o que significa que o consumo de carne também está a diminuir, especialmente nos segmentos de alto preço. Esses também são os temas que serão discutidos tanto entre os agricultores, como também, nos 389 eventos da programação técnica. Os visitantes da EuroTier geralmente voltam para casa com possíveis abordagens que podem ser aplicadas em casa para compensar esses desafios.
A situação de guerra na Europa de Leste tem impacto no setor? De que forma?
O ataque da Rússia à Ucrânia interrompeu muitas áreas, incluindo os sistemas alimentares internacionais. Esta guerra levou os preços mundiais dos grãos a níveis recorde - portanto, o mesmo aconteceu para a ração animal. Além dos altos custos de alimentação, há custos crescentes de energia para alojamento de animais. A EuroTier apresentará soluções para esta nova situação, particularmente na área de alimentos para animais, conceitos de alojamento de animais e, claro, energia. Essas áreas são cobertas pela EuroTier e os agricultores podem esperar encontrar soluções aplicáveis.
Já existem datas para o próximo EuroTier?
Sim! As datas já foram definidas: 12 a 15 de novembro de 2024. Já podemos anunciar que o “The world poultry show” estará de volta nessa edição.