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Agrotec

Efeito das alterações climáticas nos padrões geográficos da viticultura: do Alto Douro a Trás-os-Montes

Por: Lia-Tânia Dinis1,2 e José Moutinho-Pereira1,2

1Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (email: liatdinis@utad.pt)

2Inov4Agro - Instituto de Inovação, Capacitação e Sustentabilidade da Produção Agroalimentar, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)

É amplamente aceite que a viticultura mediterrânea está cada vez mais suscetível aos efeitos das alterações climáticas (1), o que inevitavelmente resultará em impactos no equilíbrio dos ecossistemas vitícolas, nos padrões de produção e na qualidade do vinho, bem como na economia do setor como um todo. Os eventos extremos como ondas de calor, períodos de seca intensa e prolongada, queda de granizo, tempestades e inundações entre outros, tornar-se-ão mais frequentes e mais intensos (2), causando problemas no equilíbrio entre o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das vinhas.

Os índices bioclimáticos (3,4,5) são ferramentas que permitem saber como é que os cenários de alterações climáticas se vão refletir na vitivinicultura. Estes índices são muitos importantes na zonagem vitícola, permitindo avaliar a adaptabilidade da videira às condições climáticas de uma dada região e definir o seu potencial.

De acordo com estes índices bioclimáticos é expectável que as regiões vitícolas portuguesas sofram um aumento das temperaturas médias e de secura (Figura 1) e a diminuição da precipitação provocando mudanças na capacidade de maturação dos bagos, na paisagem, na ecologia e na economia dessas áreas. Os modelos climáticos preveem uma menor diversidade de categorias bioclimáticas, resultando num clima quente e seco mais homogéneo em todo o país, com exceção de Trás-os-Montes, onde este aquecimento resultará em mais heterogeneidade (1).

Vários são os efeitos das alterações climáticas na vinha, como alterações na fenologia, degradação do solo, promoção de surtos de pragas, diminuição da produção, alteração da tipicidade dos vinhos e em ultimo caso a redução das áreas com aptidão para a viticultura.

De acordo com Dinis et al., 2016, 2020  (6, 7) nestas condições extremas há uma redução da taxa fotossintética, da produção de fotoassimilados e da eficiência do uso da água ao nível foliar, que se refletirá no bago na redução do teor de antocianinas, compostos fenólicos acidez total e aumento do álcool provável.

Tendo em conta este cenário é urgente a utilização de estratégias de adaptação às condições severas e práticas agronómicas mais verdes (8) para a sustentabilidade do sector.

Figura 1. Alterações previstas no índice de secura em Portugal (5).

*Este artigo foi elaborado no âmbito do Projeto Rural ON - Agricultura Conectada, promovido pela Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro (APPITAD) em parceria com o laboratório colaborativo MORE CoLAB, e apresentado na sessão de esclarecimentos sobre “Territórios Sustentáveis”, que decorreu em Mogadouro, a 3 de abril de 2023.