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Agrotec

Desafios para o setor da Pós-Colheita

Texto por: Claudia Sánchez

Investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.)

Estima-se que a população mundial deverá atingir em 2050 cerca de 9,6 mil milhões de pessoas. Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization), para responder à crescente demanda de alimentos, seria necessário pelo menos duplicar, se não triplicar, a produção agrícola nos próximos anos. Em contrapartida, dados da FAO também indicam que 1/3 de todo o alimento produzido atualmente a nível mundial é perdido ou desperdiçado. Assim, o grande desafio para atender à necessidade de alimentos não passará só por produzir mais, mas também por proteger o que é produzido e diminuir as perdas, para desta forma não pressionar ainda mais os recursos naturais.

Neste sentido, a abordagem mais sustentável a longo prazo para garantir a oferta de alimentos, assenta na melhor preservação do que é produzido, e é neste ponto que a pós-colheita tem um papel fundamental. Nos últimos anos, novos desafios foram identificados para o setor da pós-colheita, onde é preciso reforçar as linhas de investigação. Entre estes podemos mencionar: o desenvolvimento de biofungicidas, a redução de fisiopatias, as alterações climáticas e as tecnologias não-destrutivas.

DESENVOLVIMENTO DE BIOFUNGICIDAS

As perdas causadas por doenças fúngicas podem ser bastante significativas. O método tradicional utilizado para o seu controlo são os fungicidas, contudo, a grande demanda de produtos hortofrutícolas livres de químicos por parte dos consumidores, além das regulações cada vez mais estritas sobre o seu registo e aplicação, propiciaram o aparecimento de alternativas aos químicos. Entre as mais promissoras surge o controlo biológico. Nos últimos anos, conseguiram-se avanços consideráveis e a criação de vários produtos comercias. Contudo, ainda existem muitos desafios e obstáculos que dificultam o seu uso como estratégia de controlo e que carecem de mais investigação. REDUÇÃO DE FISIOPATIAS Quanto às perdas provocadas pelo desenvolvimento de fisiopatias e, considerando que o principal fator de variabilidade da susceptibilidade dos frutos é a cultivar, é importante o estudo da qualidade e do poder de conservação de novas cultivares, mais resistentes às alterações fisiológicas e com capacidade de adaptação as condições edafo-climáticas do país. Paralelamente, tendo em conta que a qualidade em pós-colheita determina-se na pré-colheita, importa avaliar qual a influência das práticas culturais (rega, nutrição, polinização, uso de fatores de produção, bioestimulantes, entre outros) na predisposição dos frutos a desenvolver fisiopatias durante a conservação, que limitam a qualidade e aumentam as perdas no final da cadeia.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Outro desafio muito recente consiste em perceber os efeitos e as consequências das alterações climáticas na qualidade e conservação dos produtos hortofrutícolas. O aparecimento de novas pragas e doenças, florações irregulares, antecipação da maturação, alteração dos parâmetros de qualidade à colheita, maior incidência de frutos com escaldão, queimaduras ou acastanhamentos internos devido a picos de calor, e maior queda de frutos, são cada vez mais frequentes. O desenvolvimento de estratégias para mitigar estes efeitos é essencial para continuar a proporcionar um fornecimento adequado de alimentos.

TECNOLOGIAS NÃO-DESTRUTIVAS

O acompanhamento da evolução dos parâmetros de qualidade dos frutos, quer no campo quer durante a conservação, é fundamental para a tomada de decisões (data de colheita, data de saída das câmaras, destino de comercialização, entre outros). Isto implica um grande desperdício de frutos utilizados para as diversas análises. Assim, o desenvolvimento de metodologias não-invasivas que permitam avaliar a qualidade dos mesmos sem necessidade de os destruir é essencial. Existem algumas alternativas que já são comercializadas, como é o caso de sistemas baseados em espectroscopia ou imagem hiperespectral. Contudo, continua a ser necessário investigar novas formas de melhorar as suas aplicações, para conseguir modelos melhor adaptados a cada produto e com maior capacidade preditiva. O desenvolvimento de novos sensores que permitam uma predição não destrutiva da qualidade em câmara é também uma área fundamental neste contexto. 

Artigo inserido na Edição 45 da Revista Agrotec.