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Agrotec

Cersul aposta em cereais biológicos para rentabilizar explorações agrícolas no Alentejo

Os cereais biológicos podem ser uma alternativa para os agricultores do Alentejo onde a área de produção de cereais diminuiu drasticamente nos últimos anos, devido à fraca rentabilidade desta cultura agrícola.

cereais

A Cersul - Agrupamento de Produtores de Cereais do Sul quer contrariar esta tendência apostando em trigo, cevada e aveia biológicos, muito procurados e melhor remunerados pela indústria de pão e massas alimentares.

«Buscamos alternativas à agricultura convencional para conseguir melhores preços e os cereais biológicos podem ser uma via. Apesar de estimarmos uma diminuição de 20% no volume de colheita face ao convencional, o valor pago pela indústria de panificação pelos cereais biológicos pode ser 50% superior», explica Alfonso Cerezo, agricultor associado da Cersul que acolheu um ensaio de cereais biológicos na sua exploração em Elvas.

A crescente procura da indústria alimentar por cereais de qualidade para elaborar farinhas, massas e outros produtos com valor acrescentado motivou a Cersul a instalar um campo de ensaio de 5 hectares de cereais de Outono-Inverno (trigo mole, trigo duro, cevada e aveia), em outubro de 2017, para testar sementes e técnicas em Modo de Produção Biológico (MPB).

As sementes foram fornecidas pelas empresas Lusosem e Agrovete-RAGT e os fertilizantes pelas empresas Alltech, ADP, Crimolara, Fertinagro, Lusosem e Timac Agro. A rega da parcela é gerida com o apoio de sondas de medição da humidade do solo em contínuo fornecidas pela empresa Hidrosoph.

O dia de campo para mostrar os resultados do ensaio decorreu 8 de Maio, com a presença de várias dezenas de agricultores e técnicos. Seguiu-se uma sessão formativa com um dos maiores especialistas em cereais biológicos de França, Régis Alias, técnico do ARVALIS + Institute de l’Agriculture Biologique Francaise. Este perito deixou alguns conselhos aos agricultores sobre o MPB:

Em agricultura biológica o controlo das infestantes através de técnicas e opções culturais é uma regra de “ouro”: escolher variedades de cereais com vegetação alta e de ciclo tardio, bem como realizar sementeiras com densidades mais elevadas, ajuda a diminuir a incidência de infestantes no campo. O controlo deverá ser realizado o mais cedo possível, para evitar a propagação e crescimento das espécies invasoras, usando alfaias.

O fornecimento de azoto à cultura é a maior dificuldade que os agricultores biológicos enfrentam. Não podendo recorrer a fertilizantes químicos de síntese, devem optar entre os produtos homologados para MPB, mas a sua prioridade deve ser a realização de rotações culturais longas (4 a 5 anos), alternando os cereais com leguminosas (ervilha por exemplo), que ajudam a fixar o azoto no solo, disponibilizando-o para a cultura principal (os cereais).

Entre os fertilizantes orgânicos, o estrume de aves (depurado) é o mais indicado.

«Só vale a pena adubar caso o agricultor consiga controlar anteriormente as infestantes na parcela», alertou Régis Alias, lembrando que «em agricultura biológica cada agricultor é o perito na sua exploração, deve conhecê-la em pormenor e agir sempre de forma preventiva».

Em França cerca de 2% da área de cereais de pragana é produzida em MPB. Os agricultores franceses recebem em média 400€/tonelada de trigo biológico para alimentação humana vs. 170€/tonelada do mesmo trigo produzido em modo convencional.

«O objetivo da Cersul é colocar a produção agrícola dos seus associados em segmentos de mercado melhor remunerados e tudo faremos para que os nossos cereais sejam cada vez mais produtos de valor acrescentado e menos commodities», disse Luís Bulhão Martins, administrador da Cersul. Os dois institutos públicos de investigação que participaram na jornada - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e Escola Superior Agrária de Elvas – mostraram-se disponíveis para criar uma “Agenda de Experimentação”, em parceria com os agricultores e a indústria alimentar, visando desenvolver sementes de cereais adequadas ao MPB e aos requisitos do mercado, bem como dar formação aos agricultores interessados em converter-se ao MPB.

A entidade certificadora Agricert informou que as regras para conversão das explorações agrícolas de convencional para MPB impõem um período mínimo de 2 anos de transição, no caso das culturas anuais como são os cereais. Pode ser convertida apenas uma parte da exploração, mas é necessário apresentar um plano de conversão da área total no curto-médio prazo.

Recorde-se que Portugal é em grande medida dependente da importação de cereais, produzindo apenas 20,5% dos cereais que consome (nível de autoaprovisionamento em 2016/2017, fonte INE).