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Agrotec

BovINE – Novo projeto europeu para a sustentabilidade da produção de bovinos

No início deste ano teve início os trabalhos de um novo projecto europeu destinadoa reunir, rever e divulgar o conhecimento ligado às boas práticas na produção de carne de bovino. O objectivo principal será o de promover uma rede que ligará investigadores, técnicos, organizações de produtores e demais parceiros, no sentido de partilhar inovação e ciência que garanta a sustentabilidade do sector.

BovINE

Por: George Stilwell

In this paper the new project Horizon 2020, called BovINE, is introduced. The main objectives, the consortium and the diverse workpackages will be presented. In summary, this project intends to “tackle urgent sustainability challenges faced by beef producers by bringing together beef farmers, farming organisations, advisors, researchers and all relevant actors across member states to close the divide between research and innovation in Europe”.

O projecto chama-se BovINE (Horizon 2020), e funcionará através da cooperação de diversas instituições de dez países membros da União Europeia. A coordenação ficará a cargo da Teagasc, um organismo oficial irlandês de investigação na área da agricultura e da pecuária.

Os desafios actuais para a produção bovina são imensos. Uns são reais e preocupantes, outros são fait-divers criados e expandidos por pessoas e grupos que pouco ou nada sabem sobre o assunto. É preciso distingui-los: enfrentar e procurar soluções, com ajuda da Ciência, para os primeiros e desmascarar e expor as falsidades encerradas nos segundos. De uma forma muito resumida podemos dizer que é preciso cumprir a suprema missão de produzir um alimento de elevada qualidade e segurança, enquanto se responde a efectivas, complexas e difíceis exigências da sociedade. Isto tudo tentado manter o produto final ao alcance de todos, ou seja, mantendo uma certa equidade social. Consegui-lo é realmente um feito notável.

As principais preocupações sociais relacionadas com a produção de bovinos e a que urge responder, são: o impacto ambiental, o bem-estar animal e o efeito do consumo de carne sobre a saúde humana. Estas questões têm de ser estudadas e analisadas no seu todo e as conclusões não se podem basear em avaliações unilateralistas, preconceituosas e tendenciosas, independentemente do lado que se esteja a defender.

Por exemplo, no caso do impacto ambiental, a avaliação deve ser feita perante dados recolhidos pela ciência imparcial, levando em conta todos os reais efeitos (positivos e negativos). Sabemos que os ruminantes são os únicos que conseguem transformar matérias que não têm qualquer valor para a alimentação humana, em proteína de alta qualidade.

Sabemos que podem garantir a sobrevivência de pessoas em zonas pobres e mesmo desertificadas, reduzindo a necessidade de migrações de povos inteiros. Sabemos que usampastagens com uma imensa capacidade de retenção de carbono e ajudam a manter ecossistemas de enorme importância (por exemplo, os montados de sobreiro). Sabemos que adubam os campos reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos.

Sabemos que produzem materiais biodegradáveis que permitem reduzir o uso de plásticos e outros poluentes. Mas também sabemos que produzem metano (um poderoso gás de efeito estufa), que consomem grandes quantidades de água e que precisam de áreas grandes de pastagem.

Também na garantia do bem-estar animal, os produtores são chamados a responder a importantes questões éticas. É crucial, possível e nem sempre difícil, produzir bovinos mantendo uma boa qualidade de vida. Seguindo boas práticas conseguem-se garantir condições de alimentação, segurança, saúde e conforto muito elevadas e próprias de uma espécie gregária, rústica... e com um enorme apetite.

Foram exactamente estas e outras preocupações semelhantes, que levaram à criação do projecto de que hoje aqui falamos. O projecto, financiado pelo programa Horizon 2020 da União Europeia, chama-se BovINE (Beef Innovation Network Europe) e propõe criar uma rede transnacional dedicada à divulgação dos conhecimentos adquiridos ao longo de anos pela investigação científica e pela aplicação de boas práticas nas explorações de pecuária.

Para assegurar a sustentabilidade do sector da carne de bovino na Europa, o BovINE irá interligar investigadores, técnicos, associações de produtores e outros elementos relevantes, estimulando o diálogo, a troca de informações e a procura conjunta de soluções.

O projecto irá partilhar ideias inovadoras e estimular a adopção de métodos comprovados pela investigação, mas ainda não adoptados pela produção. Irá também garantir que as questões sejam discutidas com veracidade, transparência e imparcialidade e as conclusões divulgadas à sociedade, muitas vezes tão mal informada. Em suma, pretende formar fortes e sólidas pontes entre a ciência/tecnologia e a produção, tudo feito à vista dos consumidores.

Em termos práticos, o consórcio, formado por dez países europeus, dividiu as diversas tarefas por grupos de trabalho incumbidos de abordar as várias vertentes da produção:

  • Qual o verdadeiro impacto ambiental da produção de carne de bovino? Como pode ser minimizado esse impacto? Que sistemas de produção são mais nefastos e quais os que promovem uma produção mais harmoniosa com a Natureza? Quais os benefícios para o ambiente, quais as alternativas sugeridas e qual será o seu peso ambiental/económico?
    • Quais as preocupações principais em termos de bem-estar animal? Como podemos avaliar de forma objectiva o bem-estar dos bovinos? Quais as doenças mais importantes e como as podemos prevenir? Como garantir a qualidade de vida, a expressão dos comportamentos mais importantes e o conforto dos nossos animais? Quais sistemas são mais amigos dos animais?
    • Como podemos colocar a tecnologia, incluindo a seleção genética, a melhorar a qualidade de vida dos animais enquanto garante o sucesso da produção?
    • Qual a sustentabilidade económica das diversas boas-práticas recomendadas? Será utópico tentar aplicar tudo o que a Ciência eventualmente defina como bom, já que a possibilidade de boicotar a sobrevivência da produção pode ser uma realidade?

Os restantes grupos de trabalho irão promover a divulgação e a troca de experiências, nomeadamente com projectos que se ocupam de áreas muito específicas de investigação. Aliás, um dos maiores perigos da investigação científica de alta qualidade é ficar fechada em gabinetes e publicaçõesdas universidades e instituições afins.

A grande incumbência do BovINE é abrir aos produtores, aos técnicos, aos consumidores e à sociedade em geral, estas portas encobertas, desconhecidas ou empoeiradas. Aqui merecem uma palavra de reconhecimento as publicações, na qual se inclui a Agrotec que aceitou desde o princípio cooperar de forma muito próxima com o consórcio, que levarão a palavra para o público-alvo do BovINE. São elas que garantirão que a missão última e superior do projecto se complete.

Portugal é um dos 10 países que formam o consórcio e está representado pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV-UL) e pela Promert (Agrupamento de Produtores de Bovinos Mertolengos), que se comprometem a trazer a visão e as preocupações dos produtores e levar consigo a tarefa de dar a conhecer as boas práticas e as inovações.

O projecto BovINE, ao longo dos três anos de trabalhos, promete compilar o que a ciência demonstra serem boas práticas e fornecer linhas orientadoras à produção, garantindo assim a sustentabilidade de um sector tão importante para a economia europeia. Paralelamente irá garantir que o público conheça a verdadeira história da produção de bovino... e não o que se fantasia.

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 34

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