FacebookRSS feed

Agrotec

Áreas de gestão fitossanitária para a Ceratitis capitata e Trioza erytreae

O controlo de pragas em áreas de gestão fitossanitária – AGF – (area wide pest management) é uma extensão da proteção integrada aplicada a uma praga alvo numa dada área geográfica, geralmente envolvendo várias explorações agrícolas e áreas vizinhas com plantas hospedeiras ou de refúgio do organismo alvo.

Trioza Erytreae

Por: Paulo Eduardo Branco Paiva, Luís Neto e  Amílcar Duarte

Estas áreas incluem, para além das explorações comerciais, culturas abandonadas, hospedeiros alternativos e quintais que, sendo hospedeiros da praga, são fontes de novas infestações e justificam a sua incorporação nas áreas de gestão fitossanitária. A supressão da praga numa área de gestão fitossanitária reduz a reinfestação vinda de áreas não controladas, aumentando a eficácia das táticas de proteção integrada (Elliott et al., 2008).

Como explorações vizinhas partilham as mesmas pragas e, tendo presente que medidas coordenadas resultam num melhor controlo da praga, os programas de gestão fitossanitária podem reduzir a população da praga em toda a zona abrangida. Estes programas são de longa duração, envolvendo organizações de agricultores e autoridades locais e regionais, de forma a promover o controlo em áreas urbanas, culturas abandonadas e plantas espontâneas. Estes programas têm como objetivo, não só evitar que a praga cause danos à cultura numa vasta zona agrícola, mas igualmente retardar o risco de novas invasões.

Planeamento e implantação de um programa de controlo numa área de gestão fitossanitária

Uma correta planificação de um programa de controlo numa área de gestão fitossanitária é essencial para o seu sucesso durante a fase de implementação, e deve assentar no conhecimento adequado da bioecologia da praga alvo e das respetivas medidas de controlo eficazes. O programa deve ser dinâmico, podendo ser alterado em função de avaliações permanentes dos resultados e do custo económico das medidas adotadas.

Para implantação do programa deve- se definir a área de abrangência do programa, as medidas de controlo prioritárias, o plano de trabalho com organograma e orçamento e a infraestrutura necessária para o seu desenvolvimento.

O controlo em áreas de gestão fitossanitária é adequado a pragas com alta mobilidade, como a mosca do mediterrâneo – Ceratitis capitata – ou os insetos vetores do HLB (huanglongbing ou greening) – Diaphorina citri ou Trioza erytreae. Desta forma, a sistematização da amostragem através da colocação de armadilhas adequadas, com uso de recursos de localização por satélite e informação em tempo real para adoção rápida de medidas de controlo, é um aspeto importante de qualquer programa de controlo, exigindo formação prática de agricultores e técnicos para manutenção e avaliação das armadilhas.

A implementação inicial destes programas em áreas mais reduzidas – áreas teste – poderá permitir a sua avaliação económica, a formação prática de agricultores e técnicos, e comparar os resultados com aqueles obtidos em áreas conduzidas com medidas de controlo individuais. Em geral, são programas com adesão voluntária dos agricultores.

Controlo do vetor do HLB em áreas de gestão fitossanitária

O HLB (huanglongbing ou greening), provocado pelas bactérias Candidatus Liberibacter spp. e transmitidas pelos insetos vetores D. citri ou T. erytreae, é atualmente a doença mais grave dos citrinos, não existindo formas de curar uma árvore infectada. Portanto, devem ser adotadas medidas para que as árvores não sejam infectadas.

Programas de controlo baseados em áreas de gestão fitossanitária envolvendo explorações comerciais e suas adjacências, visando o combate ao inseto vetor e a redução do inóculo, têm-se mostrado mais eficazes do que os programas individuais de controlo por parte dos agricultores.

Em áreas que adotaram pulverizações coordenadas para controlo do inseto vetor do HLB na Flórida (EUA) houve produções superiores de frutos, quando comparadas com parcelas onde foram adotadas medidas individuais por parte de cada agricultor (Singerman et al., 2017). Apesar dos benefícios da adoção de programas em áreas de gestão fitossanitária, a desconfiança dos agricultores na cooperação com os seus vizinhos e o custo com as pulverizações coordenadas podem limitar a adesão a estes programas.

No Brasil e nos EUA, onde o HLB foi encontrado em 2004/2005, há experiências com programas de controlo baseados em áreas de gestão fitossanitária. Apesar de terem recebido nomes diferentes – programas regionais no Brasil e áreas de gestão fitossanitária de citrinos (CHMAs – Citrus Healthy Management Areas) nos EUA – têm o mesmo objetivo, reduzir a disseminação do agente patogénico do HLB pelo vetor. A incidência de HLB foi 90% menor e houve um aumento de produtividade com programas regionais de controlo no Brasil (Bassanezi et al., 2013).

Com a ameaça imediata de introdução do HLB no norte e centro de Portugal, onde já está presente a psila africana (T. erytreae) e o risco de introdução do inseto vetor na região do Algarve, principal zona produtora de citrinos em Portugal, torna-se urgente a adoção de um programa concertado de gestão fitossanitária focado neste inseto.

A implementação do programa em zonas de menor dimensão no norte e centro de Portugal para a psila africana geraria experiência e resultados para enfrentar o HLB, se esta doença chegar a Portugal.

Para além dos métodos de controlo químico, podem ser adotadas medidas de controlo biológico ou de controlo genético para T. erytreae. A introdução, produção e libertação massal do endoparasitoide Tamarixia dryi parece ser a providência imediata mais importante para o controlo da psila africana. É um parasitoide específico, eficiente e que contribuirá para a redução das populações do inseto vetor. Pode ser libertado prioritariamente em áreas onde é mais difícil a aplicação do controlo químico, como quintais, áreas urbanas e pomares abandonados, mas poderá ser também utilizado em áreas de produção comercial de citrinos.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 33

Solicite a nossa edição impressa

Contacte-nos a seguir dos seguintes endereços:

Telefone: 220 962 844

E-mail: info@booki.pt