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Angraecum: um género botânico pertencente à família das orquídeas

Por: Graziela Pereira | Presidente da Associação Portuguesa de Orquidofilia

Uma flor em forma de estrela com um esporão muito comprido é nada mais nada menos do que um Angreacum. O mais conhecido é o Angreacum sesquipedale, também conhecido pela orquídea cometa.

Ele faz parte dum grupo de cerca de 200 espécies, oriundas da África tropical e Madagáscar. Ainda estão a ser descobertas novas espécies nas florestas tropicais de Madagáscar. É uma orquídea monopodial com folhas carnudas ou coreáceas que vão nascendo alternadamente, ora para um lado ora para o outro. Tem raízes compridas que muitas vezes se desenvolvem por cima do substrato. Ao contrário de muitas orquídeas, não têm pseudobolbos e as flores crescem a partir da axila das folhas. Podem formar um grupo ou ser uma flor solitária. São usualmente brancas, embora também possam ser amarelas ou esverdeadas. Algumas plantas têm flores grandes e vistosas, mas a maior parte das flores do Angreacum são pequenas para miniatura e de muita durabilidade. Muitas têm um aroma muito agradável que se sente durante a noite, como é próprio das orquídeas brancas para atrair o seu polinizador, de um modo geral borboletas nocturnas. O mesmo acontece com a Brassovola. Não há uma plataforma para a aterragem dos polinizadores, pois eles preferem pairar mesmo em frente à flor. Todos os Angreacum têm um esporão a sair da parte de traz do labelo, o nectário. É neste esporão que está armazenado o néctar que os polinizadores só com uma língua muito comprida como a famosa borboleta nocturna de Madagascar Sphinx podem aproveitar.

Embora o Angreacum não tenha as cores deslumbrantes de uma Cattleya ou Vanda é muito procurado pelos orquidófilos pelo seu exotismo e o branco das suas flores.

Provenientes do género Angreacum temos a Aeranthes com as suas flores verdes ao longo de uma haste comprida que pode florir durante meses e até anos. Aeranges com as suas flores cheias de aroma que se assemelham a um bando de aves brancas. A Jumellea tem flores brancas como a neve bem perfumadas. E estas são apenas alguns dos géneros angraecoides.

O Angraecum é um dos géneros mais protegido. A união internacional para a conservação da natureza e dos recursos naturais protege algumas das espécies como o Angreacum sororium, endémico do Madagáscar, e sujeito a grandes colectas que levam ao seu desaparecimento.

T E M P E R A T U R A

A temperatura ideal é de 15 a 28º. No entanto se tiver mais 10º ou menos 10º a planta aguenta perfeitamente. Precisam de uma humidade alta, na ordem de 60/80%, pois não têm pseudobolbos para reserva de água. Deve-se manter o substrato húmido e vaporizar todos os dias entre a primavera e o outono, que é o seu período de crescimento. No entanto é aconselhável deixar quase secar entre duas regas.

L U M I N O S I D A D E

Gostam de muita luz mas cuidado com o sol forte que não queime as suas folhas, pois é delas que depende a sua alimentação e portanto elas têm de estar muito saudáveis. A necessidade de luz é superior à da Phalaenopsis mas semelhante à da Cattleya e Vanda. Eles necessitam de muita luz para florir, mas se queimar as folhas devido à incidência de raios solares, essas queimaduras permanecerão por muitos anos, pois as folhas duram muitos anos e além disso pode motivar alguma doença.

H U M I D A D E

O Angreacum está adaptado a um clima tropical relativamente seco, daí as suas folhas coreáceas. Mas isto diverge de espécie para espécie, pois eles encontram-se desde o nível do mar até 2000m e nessa altitude as florestas já são mais húmidas.

R E G A

As plantas adultas devem ser regadas bem, mas como o substrato tem de ser bem arejado ele não fica muito tempo molhado, isto no que diz respeito às plantas adultas. Os seedlings devem ter o substrato sempre húmido e portanto com uma granulometria mais miúda.

A D U B A Ç Ã O

Gostam de ser de vez em quando adubados, especialmente entre abril e setembro com a diluição ¼ da diluição normal em cada três regas. Uma vez por mês deve-se fazer uma lixiviação, ou seja deixar correr a água de forma que lave as raízes de sais minerais que tenha a mais para não as prejudicar. De preferência com água da chuva.

Em agosto e setembro deve-se adubar com um adubo mais rico em potássio, sempre no sistema de uma vez em cada três regas e ¼ da diluição indicada, para encorajar o endurecimento das folhas e preparar a planta para os dias mais escuros do inverno. Durante o inverno não se deve adubar e só se deve recomeçar fevereiro/março

S U B S T R A T O

As plantas de pequeno porte podem ser colocadas em vasos ou montadas em cortiça. Usando-se um vaso devemos usar um substrato de granulometria miúda, para as plantas pequenas e maior para as plantas grandes. O substrato deve ser de tal forma arejado evitando que a planta fique muito tempo molhada. Se usar esfagno deve usar um vaso de barro para que a evaporação da água seja mais rápida. Gostam de ser transplantadas na primavera de 2 em 2 anos tendo muito cuidado em não danificar as raízes, pois se isso acontecer podem permanecer dois anos sem florir.

S E S Q U I P E D A L E

Este é sem dúvida o Angreacum mais famoso, oriundo de Madagáscar, também conhecido  pela a orquídea de Darwin, orquídea do Natal, estrela de Belém e o rei dos Angreacum. Foi descoberto a primeira vez por Louis Marie Aubert du Petit Thouars em 1798, mas só em 1822 é que foi descrito. Com o seu esporão de 30/40cm que Darwin estudou e afirmou que tinha de existir uma borboleta nocturna com uma língua tão comprida quanto o esporão, caso contrário não se poderia fazer a polinização. Ninguém acreditou nesta teoria. Só em 1903 é que foi descoberta a borboleta nocturna Xanthopan morganii praedicta que veio concretizar a teoria de Darwin. O nome sesquipedale significa de pé e meio, referindo-se ao comprimento do esporão. E este é um grande exemplo para confirmar que cada orquídea tem o seu polinizador.

É uma orquídea monopodial e pode crescer até 1m. O seu habitat é muito semelhante ao das Aerides. As folhas são de  verde escuro com uma leve nuance de prateado, elas podem ter de 20/40cm de comprimento e 6/8cm de largura. Tem raízes cinzentas escuras, bem grossas que se agarram muito firmemente ao tronco e podem-se estender por diversos metros.

Angreacum sesquipedale foi anteriormente denominado de Aeranthes sesquipedale.

Encontram-se ao nível do mar agarrado a árvores com poucas folhas ou a ramos secos, o que facilita a planta a receber mais luz e mais ventilação. As plantas maiores encontram-se mais nas partes mais baixas das árvores e as mais novas nas partes superiores.

As flores aparecem em hastes com 11,8cm de junho a setembro, no seu habitat a maior parte floresce em agosto. Na Europa florescem entre dezembro e janeiro. A forma da flor é que deu origem ao seu nome de orquídea cometa, ou estrela de Natal por aparecer em dezembro. Em minha casa floriu em março. A flor nasce com uma coloração esverdeada que se vai tornando branca com alguma tonalidade verde muito claro. Esta tonalidade esverdeada varia de planta para planta. Chegou-se à conclusão que a mudança de cor dependendo da maturação da flor nota-se mais no habitat do que nos exemplares cultivados em estufa. As sépalas têm tendência a ficar mais tempo verdes do que as pétalas. Com o envelhecimento da flor o branco pode passar a amarelado e finalmente fica castanho no final da floração.

O esporão tem uma acumulação de açucar, o néctar que o enche até 25cm. O seu perfume exótico surge durante a noite e pode encher uma sala.

O primeiro sesquipedale a ser cultivado na Europa foi trazido por William Ellis para Inglaterra em 1855 e em 1857 já deu a sua primeira flor, que em cultivo em estufa é bem mais bonita do que as que estão no habitat. Recomenda-se que o sesquipedale deve ser cultivado com muita luz e num ambiente quente. Para que se obtenha uma boa floração é necessário que a intensidade de luz entre setembro e novembro seja muito alta. O número de hastes florais depende dos pares de folhas que nasceram na primavera e verão anterior, uma vez que cada par novo de folhas produz quase sempre uma haste e muito raramente duas. Esta orquídea desenvolve-se muito devagar, mas ela pode dar flores antes de atingir o seu tamanho adulto.

As suas raízes não podem ser danificadas de forma alguma, pois se forem a planta pode ficar 4 anos sem florir ou pode mesmo morrer. Por isso é melhor usar um substrato composto de inertes que não se estraguem para não ser necessário mexer na orquídea.

V E I T C H I I

O Angreacum Veitchii foi o primeiro hibrido a obter-se do Angreacum. John Seden era um botânico que trabalhava na casa Veitch em Inglaterra entre 1800 e 1900. Ele é responsável pela obtenção do híbrido a partir do Angreacum eburneum com o sesquipedale que resultou no Angreacum veitchii, hoje um dos Angreacum mais cultivado pelos orquidófilos. É no entanto uma planta tão grande que não é fácil de ter no nosso parapeito da janela, e se conseguir, deve-se ter o cuidado que apanhe sol só até às 11h ou ao fim da tarde, pois as suas folhas queimam com muita facilidade. No entanto é uma planta que gosta de ambiente tropical bem quente.

Tanto o eburneum como o sesquipedale não gostam que lhe perturbem as raízes, ora o veitchii com as características dos progenitores também não gosta. É preferível por uma planta pequenina, mesmo um seedling num vaso grande que deixe a planta sem lhe mexer durante anos. Recomenda-se colocar esta orquídea num cesto para que as raízes fiquem mais arejadas e preencher o cesto com um substrato composto por carvão, pedra de lava, pedaços de coco, cortiça e fibra de feto( este é para manter a humidade, podemos pois substituir por perlite e vermiculite).

Uma planta adulta pode ter 65/80cm com as folhas grandes arqueadas. É recomendável usar um fungicida de 4 em 4 semanas, pois as suas folhas podem durar anos, mas se forem atacadas por um fungo morrem rapidamente. A rega deve ser frequente, cada dois dias, em dias quentes e diminuída para 3/5 logo que comece a arrefecer. Pode-se colocar um prato com pedras molhadas por baixo do vaso se a humidade ambiente for baixa, o Veitchii gosta de muita humidade. A fertilização deve ser semanal.

Quando as flores começam a abrir na haste floral, estão naturalmente viradas para baixo. Se as queremos ver direitinhas temos de amarrar a haste a um suporte que a endireite.

As flores podem ter 9cm de largura e 9/10cm de comprimento, tendo o esporão 7/8cm. As pétalas e sépalas são esverdeadas e o labelo branco. À noite as flores que podem durar 6/8 semanas exalam um bom perfume.

Esta orquídea cresce muito rapidamente. Depois da primeira florescência forma normalmente vários keikis que vão aparecendo no meio das folhas juntamente com raízes. Se for necessário mudar o vaso desta planta é preferível parti-lo evitando ao máximo tocar nas raízes, e colocá-lo noutro recipiente sem que se tire o substrato antigo, e acrescentando novo. Evitar partir qualquer raiz, pois isso significaria a dormência da planta por anos.

ANGREACUM DIDIERII

É um dos Angreacum mais pequeno, atinge 30/40cm. Tem muitas raízes que se desenvolvem muito facilmente e se agarram ao que estiver ao lado. Gosta de uma luminosidade de cerca de 20.000 lux e de uma humidade alta 70/80%. Pode ser cultivado em vaso, mas a melhor forma de se desenvolver é montado e envolvido por esfagno. Pode florir mais do que uma vez por ano, se lhe forem dadas todas as condições ideais. As suas flores são muito brancas e delicadas com um tamanho grande em proporção à envergadura da planta e com um perfume adocicado à noite. Como todos os Angreacum não gosta que danifiquem as suas raízes.