A iniciativa Escola de Pastores enquanto impulsionadora da Região Centro
Numa entrevista à Agrotec, realizada no início de 2020, a Inovcluster explica a importância da iniciativa, as necessidades que conduziram à criação de tal e os principais objetivos.
AGROTEC: Quando surge a ideia de criar uma iniciativa como a Escola de Pastores?
INOVCLUSTER: Os trabalhos que previamente se desenvolveram para a montagem do projeto incluiram um diagnóstico da realidade ligada à fileira do queijo. Este diagnóstico esteve na base das opções estratégicas definidas para o projeto, surgindo assim o enquadramento da formação “Escola de Pastores”.
AG: Qual a primeira necessidade que surgiu para a criação do projeto? E qual foi o momento em que compreenderam que seria essencial avançar?
INOVCLUSTER: A fileira do Queijo possui uma expressão muito forte na Região Centro Interior, constituindo um dos principais produtos endógenos do território e um dos com maior potencial devido ao elevado grau de especialização verificado na região. Contudo, é crucial construir uma estratégia alargada, concertada e integrada à escala regional, que vise apoiar os agentes da fileira na resolução dos principais estrangulamentos da cadeia de valor dos Queijos tradicionais da região desde o produtor de leite até ao consumidor de modo a fortalecer e valorizar a fileira.
Face ao exposto, foi desenhado o Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro que considera apenas os territórios que integram um conjunto de DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida), nomeadamente: Beira Baixa; Serra da Estrela e Rabaçal.
O setor da produção de leite, em específico para produção de queijo com D.O.P. enfrenta nos dias de hoje grande debilidade, no entanto representa grande importância para o País e sobretudo as Regiões do interior do país. Garantir a continuidade desta atividade será fundamental para manter a sustentabilidade de toda uma fileira que é vital para a dinamização da economia e cultura das regiões abrangidas pela iniciativa.
AG: O objetivo principal do projeto passar por contribuir para o reforço e rejuvenescimento da atividade. Dentro desta dinâmica, quais os outros objetivos que pretendem atingir?
INOVCLUSTER: São objetivos específicos do projeto:
1. Implementar uma estratégia de rejuvenescimento, valorização e competitividade da fileira;
2. Promover a inovação e o conhecimento dentro da fileira dos Queijos DOP da Região Centro;
3. Melhorar a qualidade e segurança alimentar dos Queijos DOP da Região Centro;
4. Melhorar a capacidade de resposta das entidades gestoras das DOP e IGP;
5. Desburocratizar e simplificar o processo de certificação, promovendo a partilha de informação e serviços entre as entidades gestoras e entidades certificadoras;
6. Sensibilizar os produtores para a importância do processo de certificação;
7. Implementar uma Estratégia de Promoção e Marketing dos Queijos DOP Região Centro;
8. Tornar a opção pela compra do Queijo DOP mais apelativa / atrativa;
9. Criar uma Rota Turística e Gastronómica: Queijos da Região Centro.
AG: Acreditam que se trata de uma iniciativa que veio para ficar? Pretendem dar continuidade à Escola de Pastores?
INOVCLUSTER: É uma iniciativa pioneira no país que surge para já no âmbito do Programa de Valorização da Fielira do Queijo da Região Centro.
AG: Existiu a união de várias instituições para criar este projeto. O processo revelou-se complicado?
INOVCLUSTER: O projeto “Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro” é liderado pela Inovcluster – Associação do Cluster Agro-industrial do Centro e envolve um consórcio alargado de 14 entidades de base regional, entre elas: Associações representantes da Fileira, instituições de ensino Superior, centros tecnológicos e entidades públicas. As regiões D.O.P. da Beira Baixa, Serra da Estrela e Rabaçal são as zonas específicas de abrangência deste projeto.
A criação e consolidação do consórcio revelou-se simples, pois os objetivos definidos para o projeto são comuns ao território abrangido e nesse sentido todas as entidades envolvidas tiveram presente desde o início que a atuação em conjunto seria estratégica e fundamental para a concretização eficaz desses objetivos.
AG: A adesão à iniciativa foi a esperada? As candidaturas superaram as expetativas?
INOVCLUSTER: A adesão à iniciativa superou todas as espetativas, tendo registado 126 candidaturas. Na totalidade há cerca de 28 alunos a frequentar a escola de Pastores, o que cumpre com os objetivos iniciais do projeto que previa veicular esta formação a 20 empreendedores.
AG: As aulas começaram na última semana de setembro. Em relação ao currículo do curso, o mesmo consiste em teoria e prática, correto?
INOVCLUSTER: O curso “Escola de Pastores” foi estruturado com um total de 560 horas, 150 horas de componente teórica e 410 horas de componente prática em contexto de trabalho em exploração agro-pecuária.
Esta formação pretende que os formandos adquiram o máximo de conhecimentos técnicos ligados ao setor, sendo por isso ministrados módulos de maneio sanitário, maneio reprodutivo, maneio alimentar, pastagens, forragens e silvopastorícia, ovinicultura/caprinicultura e gestão da exploração. Sendo os Institutos Politecnicos de Viseu e Castelo Branco parceiros do projeto e as entidades coordenaodras desta iniciativa, a componente teórica da formação é ministrada nas escolas superiores Agrárias de Viseu e Castleo Branco pelo corpo docente de cada uma.
AG: Ainda é cedo para compreender, mas que ideia estão a ter sobre o sucesso das aulas?
INOVCLUSTER: As aulas decorrem com a normalidade prevista, suscitando grande interesse e empenho por parte dos alunos que as estão a frequentar.
AG: Até então, qual tem sido o feedback dos alunos?
INOVCLUSTER: Os alunos têm-se mostrado bastante satisfeitos com as temáticas abordadas, especialmente porque conseguem ver a sua aplicabilidade na vida prática em exploração.
AG: Para o futuro, pensam em criar iniciativas do género para outras áreas de atividade, tendo em vista a potencialização do mundo e da atividade rural
INOVCLUSTER: Esperamos que futuramente continuem a surgir oportunidades que nos permitam abraçar iniciativas de Valorização do Território e do Setor Agroalimentar nas regiões consideradas de baixa densidade, contribuindo assim ativamente para a sua potencialização.