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Agrotec

A Canábis: da origem à sustentabilidade do planeta

Por: Graça Castanho

Universidade dos Açores e Fundadora da CannAzores e CannaPortugal

ORIGEM E EVOLUÇÃO

A Cannabis sativa, utilizada pelo ser humano há mais de 12.000 anos, constitui uma das plantas mais antigas, resistentes e com capacidades de adaptação pouco comuns no planeta. Segundo estudo publicado na revista Science Advances (2021), esta planta, inicialmente selvagem, de propagação espontânea, foi, segundo achados arqueológicos, domesticada pela primeira vez no início do Neolítico, no Leste Asiático (e não na Ásia Central como se acreditava), enquanto todas as plantas criadas artificialmente (denominadas de cultivares) tiveram origem num fundo genético ancestral comum.

Por volta de 8000 anos a.C., os chineses já haviam descoberto que a planta contém propriedades de excelência para papel, peças de vestuário e uso medicinal. A partir da China, a planta foi disseminada pela Índia, Médio Oriente e África. Perto de 3.000 anos a.C. surgiu o primeiro registo histórico da canábis para fins medicinais, documentado no livro chinês Pen Tsao, de 1578, a primeira farmacopeia da História, onde se defendia que a canábis é eficaz no tratamento de dores articulares, gota e malária.

Entre 2000 e 1400 a.C. foram descobertos os efeitos psicoactivos desta planta e entre 1000 a.C. até meados do século XIX a canábis e o cânhamo foram utilizados na medicina, indústria têxtil, cordoaria, obtenção de combustível e celulose para produção de grande parte do papel, proporcionando a expansão económica de muitos países, nomeadamente a Inglaterra, onde foram fundadas diversas cordoarias e o Ministério das Cordas. Por volta de 1150, os muçulmanos usaram o cânhamo na construção dos primeiros moinhos. Também a história da Península Ibérica está ligada à indústria do cânhamo, o qual permitiu o empreendimento das viagens marítimas com a produção de velas e cordas para os barcos. Há quem defenda que os espanhóis foram os responsáveis pela introdução da canábis no continente americano, enquanto outros dão nota da existência da planta muito antes.

Na 2ª década do séc. XX, a América declarou guerra contra a canábis. Foi produzida investigação que comprovava os efeitos nocivos da canábis. Filmes de propaganda de Anslinger (líder do movimento de proibição do álcool) faziam crer que a cannabis poderia transformar “anjos em diabos”. A proibição desta planta, sem distinção entre cânhamo e canábis, dá-se nos EUA em 1937, a par do fim da “Lei Seca”. Ora quem ganhava com a proibição do álcool passou a fazer lucro com a luta contra a canábis. Na mesma época, surgem novas indústrias como a dos plásticos, fibras sintéticas e a exploração dos combustíveis fósseis a nível mundial. O uso excessivo da canábis por parte da comunidade hippie, liberta do consumismo, contra a guerra, regras impostas e a autoridade, contribuiu igualmente para a proibição nos EUA, seguindo-se outros países.

Em 1930, foi descoberta a estrutura química do canabidiol (CBD), um dos princípios ativos da planta e mais tarde foi identificado o canabinol (CBN) e deu-se a descoberta do sistema endocanabinóide que regula as principais funções orgânicas. Durante a II Guerra Mundial, em 1943, a Alemanha e os EUA voltaram a incentivar o cultivo da canábis perantea necessidade de tecidos e cordas. Mais uma vez, em 1970, o governo norte-americano classificava a canábis como uma droga perigosa, sem benefícios médicos, tendo solicitado a várias universidades que reproduzissem a narrativa governamental. Os resultados dos estudos em ratos, todavia, mostraram que o THC não provocava violência; pelo contrário, levava à redução de três tipos de tumores: mama, pulmão e leucemia. Estes estudos foram arquivados e a sua divulgação proibida.

A China foi o país que, ao longo da história, mais produziu cânhamo para uso de fibras. Dos países europeus com historial de produção em larga escala temos a França. Presentemente, o Canadá e os EUA, no norte da América, o Uruguai e Paraguai, na América do Sul, estão a tornar-se líderes na produção de cânhamo e canábis, influenciando o mercado global desta planta.

Nota de Redação:

Artigo publicado na edição n.º 46 da Revista AGROTEC.

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