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Agrotec

Uma nova abordagem para a citricultura portuguesa

Áreas de gestão fitossanitária para a Ceratitis capitata e Trioza erytreae.

Citrinos

Por: Paulo Eduardo Branco Paiva, Luís Neto, Amílcar Duarte

O controlo de pragas em áreas de gestão fitossanitária – AGF – (area wide pest management) é uma extensão da proteção integrada aplicada a uma praga alvo numa dada área geográfica, geralmente envolvendo várias explorações agrícolas e áreas vizinhas com plantas hospedeiras ou de refúgio do organismo alvo.

Estas áreas incluem, para além das explorações comerciais, culturas abandonadas, hospedeiros alternativos e quintais que, sendo hospedeiros da praga, são fontes de novas infestações e justificam a sua incorporação nas áreas de gestão fitossanitária. A supressão da praga numa área de gestão fitossanitária reduz a reinfestação vinda de áreas não controladas, aumentando a eficácia das táticas de proteção integrada (Elliott et al., 2008).

Como explorações vizinhas partilham as mesmas pragas e, tendo presente que medidas coordenadas resultam num melhor controlo da praga, os programas de gestão fitossanitária podem reduzir a população da praga em toda a zona abrangida.

Estes programas são de longa duração, envolvendo organizações de agricultores e autoridades locais e regionais, de forma a promover o controlo em áreas urbanas, culturas abandonadas e plantas espontâneas. Estes programas têm como objetivo, não só evitar que a praga cause danos à cultura numa vasta zona agrícola, mas igualmente retardar o risco de novas invasões.

Planeamento de Implantação de um programa de controlo numa área de gestão fitossanitária 

Uma correta planificação de um programa de controlo numa área de gestão fitossanitária é essencial para o seu sucesso durante a fase de implementação, e deve assentar no conhecimento adequado da bioecologia da praga alvo e das respetivas medidas de controlo eficazes. O programa deve ser dinâmico, podendo ser alterado em função de avaliações permanentes dos resultados e do custo económico das medidas adotadas.

Para implantação do programa deve-se definir a área de abrangência do programa, as medidas de controlo prioritárias, o plano de trabalho com organograma e orçamento e a infraestrutura necessária para o seu desenvolvimento.

O controlo em áreas de gestão fitossanitária é adequado a pragas com alta mobilidade, como a mosca do mediterrâneo – Ceratitis capitata – ou os insetos vetores do HLB (huanglongbing ou greening) – Diaphorina citri ou Trioza erytreae. Desta forma, a sistematização da amostragem através da colocação de armadilhas adequadas, com uso de recursos de localização por satélite e informação em tempo real para adoção rápida de medidas de controlo, é um aspeto importante de qualquer programa de controlo, exigindo formação prática de agricultores e técnicos para manutenção e avaliação das armadilhas.

A implementação inicial destes programas em áreas mais reduzidas – áreas teste – poderá permitir a sua avaliação económica, a formação prática de agricultores técnicos, e comparar os resultados com aqueles obtidos em áreas conduzidas com medidas de controlo individuais. Em geral, são programas com adesão voluntária dos agricultores.

Controlo do vetor do HLB em áreas de gestão fitossanitária 

O HLB (huanglongbing ou greening), provocado pelas bactérias Candidatus Liberibacter spp. e transmitidas pelos insetos vetores D. citri ou T. erytreae, é atualmente a doença mais grave dos citrinos, não existindo formas de curar uma árvore infectada.

Portanto, devem ser adotadas medidas para que as árvores não sejam infectadas. Programas de controlo baseados em áreas de gestão fitossanitária envolvendo explorações comerciais e suas adjacências, visando o combate ao inseto vetor e a redução do inóculo, têm-se mostrado mais eficazes do que os programas individuais de controlo por parte dos agricultores.

Em áreas que adotaram pulverizações coordenadas para controlo do inseto vetor do HLB na Flórida (EUA) houve produções superiores de frutos, quando comparadas com parcelas onde foram adotadas medidas individuais por parte de cada agricultor (Singerman et al., 2017).

Apesar dos benefícios da adoção de programas em áreas de gestão fitossanitária, a desconfiança dos agricultores na cooperação com os seus vizinhos e o custo com as pulverizações coordenadas podem limitar a adesão a estes programas.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 33

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