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Agrotec

Um olhar diferente

Por Francisco Ferreira

Presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável

A minha relação com a agricultura foi sempre simultaneamente próxima e distante. Considero que tem sido distante porque, nem mesmo no meu pequeno quintal, alguma vez pratiquei uma atividade agrícola.

Sem dúvida que já cumpri uma das conhecidas obrigações da vida humana (plantar uma árvore), mais no domínio da floresta que da agricultura, mas não fui além disso.

Por outro lado, sinto o setor da agricultura muito próximo da minha formação e atividade, infelizmente numa perspetiva muitas vezes negativa, mas que não tira no entanto importância ao papel essencial que a atividade agrícola desempenha na garantia de alimentos e de outros serviços que asseguram a nossa sobrevivência.

agricultura

Procurei lembrar-me de palavras ou assuntos chave que marquem a minha relação com a agricultura e a lista é longa: uso ineficiente da água (é o sector que mais água utiliza, cerca de 80% do total, e dos que maiores perdas apresenta, quer em termos relativos 40%, quer obviamente em termos absolutos); o uso de fertilizantes e a sua relação com a eutrofização (excesso de nutrientes) dos cursos de água e albufeiras ou a contaminação de aquíferos como acontece no Algarve; a utilização de pesticidas e herbicidas, e a sua relação com danos para os ecossistemas; a degradação dos solos, da erosão à salinização, à perda da produtividade e à mudança da paisagem; o recurso a organismos geneticamente modificados e dos riscos que tal representa; as monoculturas e a perda de biodiversidade; a emissão de gases com efeito de estufa, em partir o metano e o óxido nitroso, ou ainda as emissões de amónia no quadro da poluição do ar; a relação da agricultura com megaprojetos como Alqueva, que pela sua dimensão causaram enormes perturbações no território (positivas e negativas).

Assim em sequência, e para quem trabalhe na atividade, esta listagem quase que marca o sector agrícola como um dos mais poluentes e insustentáveis para o ambiente.

A realidade porém é bem mais favorável, não porque os impactes tenham desaparecido, mas porque tem havido um esforço ao longo das últimas décadas ao nível dos empresários, da legislação, da investigação e desenvolvimento, que têm reduzido muito a maioria dos problemas identificados.

Na maioria das vezes, há aliás fortes ganhos, porque a poupança de recursos, a salvaguarda do solo, a promoção da qualidade, têm resultados económicos significativos. A agricultura biológica tem tido avanços significativos e é sem dúvida um caminho a seguir na redução de consequências para o ambiente. Fundamental mesmo, é termos uma visão integrada e abrangente da atividade agrícola, onde o consumidor é também uma peça fundamental no caminho para uma alimentação saudável e sustentável.


Tal só consegue ser atingido com um melhor conhecimento da atividade, a par de uma literacia ambiental que permita perceber as vantagens e desvantagens associadas aos diferentes modos de produção (da intensiva à extensiva), à relevância da compra de produtos da época e locais.

O acompanhamento e a monitorização da do sector é vital para podermos corrigir no país os impactes de muitos projetos propostos e em curso, de modo a que os investimentos tenham uma visão de longo prazo de gestão do território e não apenas ganhos rápidos que deixam marcas irreversíveis para o futuro.

Artigo publicado na Agrotec n.22.

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