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Agrotec

Sustainable EU Rice, Don’t Think Twice: valorizar o que é europeu

Texto: Carolina Mateus

A revista Agrotec viajou até à Carmarga, no sul de França, para conhecer o projeto “Sustainable EU Rice, Don’t Think Twice” (Arroz Europeu Sustentável, Não Pense Duas Vezes). Este projeto foi pensado por um português, Pedro Monteiro, vice-presidente da Casa do Arroz e diretor-geral da Associação Nacional dos Industriais de Arroz (ANIA), que nos acompanhou nesta viagem, nos explicou tudo sobre o arroz, falou sobre as dificuldades que o setor enfrenta e o que espera para o futuro do cereal no país e da Europa. Neste projeto ambicioso, Portugal, França, Itália e Alemanha andam de mãos dadas, em prol da difusão e promoção do arroz Japonica europeu, evidenciando a sustentabilidade ambiental do setor.

A CAMARGA

Rodeada de lagoas e conhecida pelos flamingos rosa e os cavalos brancos, a Carmaga está situada junto ao mar Mediterrâneo, a oeste da Provença e a sul da cidade de Arles. Os seus terrenos férteis, graças à construção de diques e equipamentos de rega, facilitam a viticultura, o cultivo de fruta e de arroz. Foi aqui que visitámos os vários campos de arroz e fábricas de secagem e embalamento (Figura 1). Tivemos, ainda, a oportunidade de observar, em primeira mão, uma nova forma de replantar, que damos agora a conhecer.

CENTRO FRANCÊS DO ARROZ, UM INSTITUTO AO SERVIÇO DO SETOR

Composto por 31 membros, e com um budget anual de 500 mil euros, o Centro Francês do Arroz tem como missão dar aos produtores meios para produzir um produto de qualidade, a um custo competitivo, no âmbito de uma relação harmoniosa com o meio ambiente. Retomando as missões habituais de um Centro Técnico, o Centro Francês do Arroz experimenta técnicas de cultivo, implementa um programa de seleção de variedades e também fornece apoio técnico constante aos produtores.

ARROZ SUSTENTÁVEL EM QUE MEDIDA?

O arroz é sustentável porque, ao longo das últimas décadas, todos os países da Europa têm trabalhado para tentar utilizar menos água, usar menos pesticidas, herbicidas, adubos, entre outros. Portanto, o arroz é uma cultura onde há menos inputs, menos custos na conta de cultura e onde se produz da maneira mais eficaz. A Comissão Europeia tem banido vários pesticidas e fungicidas, o que faz com que restem, cada vez menos moléculas para tratar do cultivo. Isto obriga a que, cada setor, recorra às melhores práticas agrícolas e científicas que vão existindo no mundo para tentar otimizar as culturas, utilizando cada vez menos meios. No fundo é produzir o mesmo, com muito menos inputs, menos custos, menos pesticidas, herbicidas, entre outros, tornando a cultura verdadeiramente sustentável.

Pedro Monteiro revela que o objetivo da viagem foi: «Dar a conhecer o que é o arroz; agricultura 13 como é que se cultiva o arroz; quais são as técnicas utilizadas; explicar o que é a sustentabilidade desta cultura; quais os passos que estamos a dar para o futuro, face aos problemas que estamos a enfrentar de seca; e as novas técnicas que estamos a considerar». Segundo o diretor-geral da ANIA, o arroz europeu ainda é desconhecido para a maioria dos consumidores. Este produto de excelência, e bem próximo, representa apenas 0,4% da produção mundial, mas a 77% da orizicultura da União Europeia. A ideia de um projeto que valorizasse o arroz europeu foi pensada há vários anos. «Quando trabalhamos no arroz, e no meu caso trabalho na ANIA, temos uma relação em que estamos no meio da fileira. Como estamos no meio, sentimos as necessidades do consumidor e percebemos qual é o problema do produtor. Constituímos a “Casa do Arroz”, que é um organismo de fileira português, para trabalhar o produto em toda a sua verticalidade, desde a sua produção, à distribuição, ao consumidor final. Começámos a sentir e a pensar que o consumidor não conhecia o produto e fazia todo o sentido fazer uma campanha institucional, sem marcas, para explicar o que é o arroz».

Muitas das vezes, o consumidor compra o arroz que estiver mais barato ou em promoção. Explicar que há um arroz de grande qualidade, que é produzido em Portugal, e neste caso na Europa, que é o arroz tipo Japonica (em Portugal, o arroz Carolino) pode fazer com que o consumidor, na hora da compra, faça escolhas mais sustentáveis. Em Portugal, o líder de marcado é o arroz Agulha, o Carolino era o líder há 15 nos atrás. Perdeu essa liderança devido aos «novos hábitos de consumo, achava-se que o Carolino era um produto antiquado, que muitas vezes empapava... isso acontecia porque houve um desleixo das marcas e do fator “preço”, ao termos de baixar tanto o preço, porque o que o consumidor quer é preço baixo, muitas vezes o produto que estava no pacote não correspondia aos melhores critérios de qualidade. Havia misturas de variedades e isso fazia com que o produto no prato não se comportasse bem». Com o ganho da consciência de que o produto tem de ter uma qualidade exemplar, para haver a garantia que não há “misturas” e que aquilo que vem no pacote corresponde à realidade, foi criada uma legislação nova que obriga a que o arroz Carolino e o arroz Agulha sigam certos critérios de qualidade. «Há uma legislação própria, que obriga a que o arroz cumpra esses critérios de qualidade. Isso levou-nos também a pensar que o consumidor tem que ser avisado desta realidade que existe, tem de ser informado. É através da informação que conseguimos educar o consumo».

A Alemanha, que não produz arroz, junta-se a este trio porque, apesar do seu tamanho, e de ser o país da Europa com o maior número de habitantes, tem o consumo per capita mais baixo de todos. A Alemanha, e os países a norte da Europa, são, na sua generalidade, países muito suscetíveis às questões ambientais.

Este sendo um produto próximo, do sul da Europa, de grande qualidade e sustentável, a ideia é dá-lo a conhecer. «Para eles preferirem. Em vez de estarem a comprar arroz asiático, americano ou Basmati, que vem da Índia, e que tem muita influência no nosso mercado». O arroz Basmati tem aumentado bastante o seu consumo. Pedro Monteiro, pressupõe que seja pelo desconhecimento do produto local. É preciso também demonstrar que fazer arroz não é difícil. Para isso têm sido feitas várias ações de show cooking e workshops com chefs, que explicam como se faz arroz e que fazê-lo bem está ao alcance de qualquer um.

Continue a ler este artigo publicado na edição n.º 44 da Revista AGROTEC, no âmbito do Dossier "Práticas Agrícolas Sustentáveis".

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