Repensar a secular utilização de cobre
Texto por: Beatriz Fernandes1, 2 Cristiana Paiva1, 3 Verónica Nogueira3, 4 Anabela Cachada3, 4, Ruth Pereira1, 3
1 GreenUPorto & INOV4AGRO Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável
2 Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
3 Departamento de Biologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
4 CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental
RESUMO
Desde o século XIX que produtos fitofarmacêuticos à base de cobre são usados na vinha para prevenir doenças como o míldio, doença esta responsável por perdas significativas na produção. Embora muitas substâncias ativas tenham sido descobertas durante este período, estes produtos são ainda amplamente utilizados devido às suas muitas vantagens e à falta de alternativas, especialmente na viticultura biológica.
No entanto, o uso de fungicidas à base de cobre pode ter efeitos adversos para o ambiente e saúde humana, sendo um dos principais problemas a sua acumulação no solo. Por esta razão têm surgido regulamentações e iniciativas internacionais para começar a limitar seu uso, com o objetivo principal de substituí-lo. De entre tais iniciativas, o Projeto COPPEREPLACE tem como um dos seus objetivos desenvolver diretrizes que permitam avaliar a vulnerabilidade de solos de regiões vinícolas ao cobre.
A PROBLEMÁTICA DO USO DE COBRE NAS VINHAS
Os produtos fitofarmacêuticos à base de cobre têm sido amplamente utilizados para prevenir doenças provocadas por fungos, como Plasmopara viticola, agente causador do míldio. Com o uso constante destes produtos, têm surgido preocupações não só a nível ambiental como também da sustentabilidade da produção vitivinícola.
Para além da ocorrência natural deste elemento nos solos, podendo estar presente em concentrações elevadas dependendo do fundo geológico, o cobre aplicado pode resultar no seu incremento devido à lixiviação das vinhas tratadas, da deposição direta durante a aplicação e da queda das folhas senescentes (Komárek et al., 2010). Num levantamento feito recentemente sobre a distribuição de cobre em solos europeus, Ballabio et al. (2018) concluíram que a viticultura está entre as ocupações do solo que concentram maior quantidade deste elemento. De acordo com Droz et al. (2021), o teor total de cobre nas camadas superiores do solo atinge concentrações de 100 mg Cu kg−1 em 15% da área de vinha europeia.
A acumulação de cobre nos solos pode causar efeitos adversos nas funções e diversidade dos organismos do solo, reduzindo a sua fertilidade e consequentemente a produtividade das vinhas. Por exemplo, concentrações acima de 33 mg kg-1 são consideradas críticas para as comunidades de oligoquetas (Komárek et al., 2010), e num outro estudo foi proposto um intervalo de valores que varia entre 26,3 e 31,8 mg kg-1 para garantir a proteção dos organismos terrestres e o funcionamento dos ecossistemas (Caetano et al., 2016).
Para além disto, fenómenos como a lixiviação podem transportar o cobre das camadas superficiais do solo até aos sistemas aquáticos adjacentes, afetando espécies aquáticas não-alvo (e.g. Droz et al., 2021).
Continue a ler este artigo publicado na edição n.º 44 da Revista AGROTEC, no âmbito do Dossier "Práticas Agrícolas Sustentáveis".
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