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Agrotec

Os incêndios como causa de desarborização em Portugal

Por: Paulo Fernandes e Nuno Guiomar

Resumo

Os incêndios marcam significativamente os espaços florestais nacionais. Avaliámos o seu impacte na extensão e densidade florestal analisando informação dos inventários florestais nacionais e de cartografias do uso do solo, áreas ardidas e severidade do fogo.

A incidência do fogo é bastante díspar entre tipos de floresta. Carvalhais, pinhal bravo e eucaliptal são os que mais ardem em proporção da superfície ocupada, e entre 1995 e 2010 foram convertidos em vegetação aberta respectivamente em 34%, 26% e 8% da sua extensão.

A área de floresta que transitou para matos, pastagens e vegetação esparsa (1990-2012) devido a incêndio ascende a 10% do total (0,45% ano-1).

A dinâmica de recuperação da vegetação mais do que compensa estas perdas. Povoamentos florestais em áreas anteriormente ardidas estão porém associados a menores densidade de copas e volume lenhoso, especialmente após fogos mais severos ou mais frequentes, indiciando abandono e implicando perda de valor económico.

Introdução

O território nacional conjuga produtividade vegetal elevada, devido ao clima mediterrâneo de tonalidade atlântica, com a predominância de tipos de vegetação que ardem com intensidade e orografia favorável à propagação do fogo.

Estas condições naturais, aliadas à ocorrência de um elevado número de ignições e à fragilidade técnica do sistema de combate a incêndios, geram em Portugal o mais grave problema de fogos rurais no sul da Europa.

Com efeito, arde anualmente uma média de cerca de três por cento do espaço florestal nacional, quase seis vezes mais do que em Espanha, por exemplo, com custos de perda de bens e serviços e de recuperação pós-fogo que ascenderam a 263 milhões € por ano no período de 2000 a 2012 (Mateus e Fernandes, 2014).

Entre 1990 e 2006 mais de três milhões de hectares de floresta deram lugar a vegetação aberta nos países europeus do Mediterrâneo ocidental como resultado de perturbações diversas, incluindo cortes, fogos e seca (San-Miguel-Ayanz et al., 2012). O efeito do fogo como indutor de desarborização é muito variável, dependendo em primeiro lugar do grau de adaptação das espécies a esta perturbação.

A grande maioria das plantas lenhosas do Mediterrâneo evoluiu no sentido da aquisição de características que asseguram a sobrevivência individual, por resposta vegetativa ou resistência passiva, ou a perpetuação da população através de abundante germinação pós-fogo (Paula et al., 2009).

Estas adaptações interagem com o regime de fogo, nomeadamente a sua frequência e severidade, determinando a dinâmica da vegetação e a composição e estrutura florestal, sendo que os ecossistemas mais representativos do sul da Europa e que se encontram mais próximos da sua condição “natural” são resilientes ao fogo (Pausas et al., 2008).

A ocupação florestal em Portugal Continental regrediu de 37,1% do total do território em 1995 para 35,4% em 2010 (ICNF, 2013). Estes números referem-se ao somatório dos povoamentos florestais e áreas temporariamente desarborizadas, sendo que os primeiros aumentaram de 31,3 para 33,0% no período referido.

Dada a larga predominância de floresta plantada no país, a sua importância económica e o elevado risco de fogo, é expectável que os incêndios tenham um impacto de relevo nas decisões de recuperação pós-fogo e de rearborização e portanto na evolução do coberto florestal.

Neste artigo procuramos avaliar e quantificar a extensão da desarborização causada por incêndios em Portugal, recorrendo à análise de informação proveniente de fontes cartográficas e do inventário florestal nacional. 

Nota: Este artigo foi publicado na edição n.º 22 da Revista Agrotec. Para aceder à versão integral, solicite a nossa edição impressa. Contacte-nos através dos seguintes endereços:

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