PROBLAD: uma nova ferramenta para o biocontrolo de fungos já disponível em Portugal
Por: Alexandra Carreira
Diretora Técnica da CEV, S.A.
Usado com sucesso há vários anos em outras partes do mundo, o biofungicida PROBLAD está agora disponível em Portugal. O PROBLAD é um extrato natural de sementes de tremoço doce, que tem como principal componente a proteína BLAD, responsável pela sua atividade fungicida. A BLAD apresenta um modo de ação multi-sítio inovador e único, oficialmente reconhecido como tal pelo comité FRAC.
Aliando as vantagens de ser um producto fitofarmaceutico de baixo risco, isento de Limites Máximos de Resíduos (LMR), sem intervalos de segurança e de reentrada estabelecidos, o PROBLAD apresenta também uma eficácia em campo consistente, tornando-o um forte trunfo para o futuro da proteção de culturas à escala global. Através de um extenso programa de ensaios foi possível confirmar a eficácia e robustez da ação deste fungicida, em particular nos usos que constam já do primeiro rótulo/registo em Portugal: podridão-cinzenta (Botrytis) e oídio da videira, morangueiro, tomateiro e beringela; moniliose em frutos de caroço (ameixeira, cerejeira, damasqueiro, pessegueiro); e piriculariose do arroz, a que se irão juntar vários pedidos para usos menores em outras culturas.
INTRODUÇÃO
A BLAD (Banda de Lupinus Albus Doce) é uma proteína que ocorre naturalmente em tremoços doces germinados (Monteiro et al., 2010) e que deriva diretamente do catabolismo da principal proteína de reserva presente nas sementes secas, a ß-conglutina. Durante a germinação das sementes, a ß-conglutina é catabolizada em polipeptídeos menores, levando à acumulação nos cotilédones de um abundante glico-oligómero de 210 kDa, que é composto maioritariamente por BLAD, um polipeptídeo de 20 kDa (Monteiro et al., 2015). Este oligómero, denominado BCO (BLAD-Containing Oligomer), acumula-se exclusivamente nos cotilédones de espécies de Lupinus, e apenas durante um curto período de tempo. Neste documento, pretende-se descrever, de uma forma resumida e clara, o trabalho desenvolvido para elucidar o modo de ação desta proteína, evidenciando o seu carácter multi-sítio, inovador e único.
Atividade antifúngica in vitro do BCO
Estudos preliminares in vitro demonstraram uma forte atividade antifúngica do BCO contra uma ampla variedade de fungos. Utilizando duas metodologias diferentes, foi possível determinar, in vitro, a sensibilidade de diferentes espécies de fungos ao BCO (Tabela 1). Todas as espécies de fungos testadas em laboratório demonstraram algum nível de suscetibilidade ao BCO. No entanto, diferentes graus de sensibilidade foram encontrados, indicando que, em condições reais, diferentes doses podem ser necessárias para alcançar a mesma eficácia para diferentes doenças.
Tabela 1. Sensibilidade de várias espécies fúngicas ao BCO em condições in vitro.
Espécies de fungos
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Sensibilidade ao BCO*
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Colletotrichum acutatum, Colletotrichum kahawae, Exserohilum turcicum, Fusarium graminearum, Fusarium oxysporum f. sp . glycines, Fusarium solani, Pestaloptiopsis spp., Phaemoniella chlamydospora, Phaeoacremonium spp., Phomopsis spp., Penicillium digitatum
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+
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Alternaria alternata, Botryosphaeriaceae spp., Cercóspora zeae-maydis, Colletotrichum gloeosporioides, Colletotrichum fragariae (C. theobromicola), Colletotrichum truncatum (C. dematium f. truncatum), Fusarium oxysporum, Geotrichum candidum (Galactomyces candidum), Schizothyrium pomi (Zygophiala jamaicenis)
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++
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Botrytis cinerea, Colletotrichum graminicola, Didymella bryoniae, Monilinia fructicola, Mycosphaerella fijiensis, Sclerotinia sclerotiorum
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+++
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Colletotrichum graminicola, Houjia Pomigena, Houjia yangliensis, Microcyclosporella mali, Peltaster fructicola, Phaeothecoidiella missouriensis, Macrophomina phaseolina, Monilinia fructigena, Monilinia laxa, Mycosphaerella graminicola (Septoria tritici), Pyricularia grisea / oyzae (Magnaporthe grisea), Stagonosporopsis cucurbitacearum (Didymella bryoniae), Verticillium alboatrum e V. dahliae , Rhizopus stolonifer
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++++
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* Suscetibilidade de + (Moderada) a ++++ (Muito alta)
Efeito do BCO no metabolismo celular
O efeito do BCO na viabilidade e integridade celular de fungos foi estudado usando Candida albicans como modelo fúngico, e foi avaliado por meio de amostras recolhidas ao longo da curva de crescimento, em três condições diferentes: sem BCO (controlo), com uma concentração inibidora de crescimento (fungistática) e com uma concentração letal (fungicida). Cada amostra foi corada com FUN-1 (fluorocromo indicador da atividade metabólica) e Calcofluor White (fluorocromo indicador da integridade da parede celular) e visualizada por microscopia de fluorescência. Os resultados mais representativos são apresentados na Figura 1, correspondendo à amostra colhida após 16 horas de incubação. A Figura 1 demonstra que após 16 horas de incubação, todas as células expostas a uma dose letal de BCO estavam metabolicamente inativas.
No entanto, quando cultivadas na ausência de BCO, algumas células ainda eram capazes de crescer. Um período de 24 horas foi considerado necessário para tornar todas as células metabolicamente inativas, inviáveis e não cultiváveis. Esse efeito foi observado para todas as células expostas a uma concentração letal de BCO, mas afetou apenas uma fração da população de células exposta a uma concentração apenas inibidora do crescimento. Durante a duração total do estudo (24 horas), a integridade da parede celular permaneceu inalterada, conforme demonstrado pelo Calcofluor White, sugerindo que o metabolismo da célula é afetado sem danos estruturais visíveis ao nível da parede celular.
Artigo publicado na edição n.º 46 da Revista AGROTEC.
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