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Agrotec

Poupança da água na cultura do milho através da cobertura do solo

Texto de: Gottlieb Basch, Nuno Saavedra, Miguel Soares

Este estudo visou avaliar o contributo de dois dos três princípios da agricultura de conservação na redução das perdas de água por evaporação e, assim, para uma redução das dotações de rega na cultura do milho. Foi testado um protótipo de um semeador monogrão de sementeira direta capaz de semear o milho através de uma cobertura espessa de uma manta morta obtida por uma cultura de cobertura.

Comparou-se o teor de humidade do solo sob dois níveis diferentes de resíduos com a humidade do solo no sistema convencional. Verificaram-se teores de humidade bem mais elevados nos sistemas com cobertura demonstrando, assim, o potencial de redução significativa das dotações de rega. As produtividades deste estudo, obtidas em dois tipos de solo, revelam o potencial da sementeira direta em combinação com a cobertura integral do solo para uma poupança considerável de água assegurando, simultaneamente, produtividades elevadas.

Na agricultura mediterrânea, a água é um fator fundamental para a produtividade e qualidade da produção agrícola. Baseado em dados do INE (2017), o relatório da Fundação Calouste Gulbenkian (2020) sobre o Uso da Água em Portugal, atribui um Valor de Produção Padrão (VPP) de €829/ha para atividades agrícolas exclusivamente de sequeiro, contra um VPP de €5188/ha para áreas predominantemente regadas.

O mesmo relatório esclarece que a fatia do consumo total de água pelo setor agrícola se situa nos 75%, 79% e 81% em Portugal, Espanha e Grécia, respetivamente, e apenas em 15% e 2% no Reino Unido e na Alemanha, contrastando estes países com a média europeia de 25%.

Um outro aspeto interessante deste relatório é o resultado de um inquérito sobre o preço da água utilizada no regadio, revelando que 61% dos inquiridos não paga a água que utiliza na agricultura, e apenas 16% acha que a água está cara. Mesmo para os regantes que pagam a água, o peso da água nos custos de produção fica em sexto lugar, bem atrás de adubos e fitofármacos, mão-de- -obra, combustíveis, eletricidade, entre outros.

Na Califórnia, com um clima muito semelhante ao de Portugal, um estudo de 2001 (Burt et al., 2001) estima que, em média de todas as culturas de regadio, as perdas de água por evaporação num ano de precipitação normal se situam em 38% da precipitação (água verde) e em 11% da água aplicada através da rega (água azul).

Contudo, sabendo que as perdas de água por evaporação são elevadas, nomeadamente quando se verificam temperaturas elevadas e o terreno se encontra descoberto, as estratégias para enfrentar a escassez de água e a necessidade de reduzir o seu consumo na agricultura de regadio passam maioritariamente por tentativas de rega deficitária. Enquanto para umas culturas esta estratégia tem mostrado resultados promissores, no caso da cultura do milho tem resultado em perdas significativas de produção (Paredes e Rodrigues, 2010).

Neste sentido, o projeto ACUAsave (ALT20-03-0246-FEDER-000016), numa ótica de procura de soluções para a escassez de água e para adaptar a agricultura portuguesa às alterações climáticas, optou por abordar não a redução da dotação de rega na cultura do milho mas a redução das perdas excessivas, não produtivas, de água pelo processo da evaporação. 

Continue a ler este artigo na Revista Agrotec 42.