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Agrotec

Olivicultura: Boas práticas no caminho da sustentabilidade

A agricultura alimenta o mundo e nós temos a obrigação e o dever de produzir mais, porque a terra arável disponível é cada vez menor em relação ao aumento populacional, sendo por isso obrigatório que sejamos mais eficientes e consigamos produzir mais gastando menos factores de produção. Mas, sem ciência, inovação e tecnologia a agricultura não poderá cumprir a sua missão.

Por: Maria Isabel Fernandes Cardoso Patanita

O regadio abriu uma janela de oportunidade para que o rendimento do olival fosse maior. Surgiram os olivais modernos de regadio, aumentando a produção de azeite, ao ponto de permitir que Portugal passasse rapidamente de país deficitário, para exportador líquido. Pretende-se que esta seja uma evolução sustentável, pelo que os sistemas de produção devem perdurar no tempo e no espaço, garantindo um rendimento interessante aos olivicultores, qualidade de vida aos trabalhadores e populações, assim como respeitando os ecossistemas e preservando  os valores naturais e a biodiversidade.

Nos olivais modernos, de regadio, com compassos mais apertados, poda mecânica e colheita mecanizada, as boas práticas culturais começam a replicar- -se, tais como: fertilização racional feita com base nas análises de terra, água e foliar, protecção fitossanitária executada com base na monitorização dos inimigos das culturas e na selecção do meio de proteção mais adequado.

Deste modo, evita-se a erosão do solo, mantendo um coberto vegetal permanente na entrelinha do olival; preservam-se espécies como a azinheira ou o sobreiro nas parcelas adjacentes, compatibilizando-as com a exploração agro-silvo-pastoril; preservam-se outras espécies em sebes ou salvaguardam-se os corredores ecológicos das galerias ripícolas enquanto refúgio de fauna e flora e importante biofiltro; diminui-se o uso de fitofármacos através do fomento da limitação natural dos artrópodes auxiliares bem como dos morcegos; e aproveitam-se os subprodutos agrícolas para compostagem de maneira a devolver os nutrientes ao solo.

As razões pelas quais o olival em sebe é defensável são o facto de ter um balanço positivo no que se refere à pegada do carbono e a procura mundial de azeite ter sido superior à oferta, tendo-se verificado que apenas limitações na produção têm impedido um maior consumo (ainda existem muitas zonas do globo onde os consumos são muito baixos e onde é possível aumentar muito).

O sequestro do carbono ocorre quando um conjunto de práticas culturais (não mobilização da terra, coberto vegetal na entrelinha, incorporação dos restos da poda no solo...) aumenta o seu armazenamento no solo. Pelo que, o olival em sebe caracteriza-se por poder remover CO2 da atmosfera, armazenando-o temporariamente nas árvores (troncos, raízes, folhas e frutos) e de forma mais duradoura no solo.

O consumo de azeite é apenas 3,5% do consumo dos óleos vegetais no mundo. O aumento do consumo mundial é consequência da percepção de que o azeite é um produto de qualidade benéfico para a saúde; é um alimento que não apresenta limitações culturais que dificultem a comercialização (como é o caso do porco, por questões religiosas); a elasticidade do consumo do azeite em relação ao preço comparativamente com o preço de outros óleos tem vindo a diminuir, pelo que a influência do preço é cada vez menor; a criação de uma cultura do azeite está provocando um aumento do consumo de azeite virgem extra. Estas são algumas das razões pelas quais o azeite é uma tendência e não uma moda (Rius & Lacarte, 2015).

O olival em sebe surgiu como uma resposta às necessidades do sector uma vez que os custos da colheita situam-se entre: 0,03-0,04 €/Kg azeitona colhida, valor bastante inferior aos que se consegue com os vibradores de tronco; menor necessidade de mão-de-obra tanto na colheita como na poda; entram em plena produção ao 3-4º ano (6-7 anos nos intensivos); as produções obtidas, graças às variedades seleccionadas e às técnicas culturais usadas, são muito mais uniformes e menos alternantes no tempo; a velocidade de colheita das máquinas cavalgantes, bem como a origem da azeitona (da copa e não do solo) são dois aspectos fundamentais para que 100% do azeite produzido neste sistema seja virgem extra.

Os aspectos chave do sucesso deste sistema passam pela utilização das mesmas máquinas cavalgantes utilizadas na vindima, o que permite que com poucas modificações e rendimentos elevados, a colheita seja feita em contínuo de praticamente toda a azeitona; a selecção de variedades de escasso vigor, precoces, pouco alternantes e muito produtivas (Arbequina, Arbosana, Koronekii, Oliana, Shikitita e Tosca).

A superfície oleícola em Portugal é de cerca de 356 000 ha, existem cerca de 22 305 explorações distribuídas principalmente pelas regiões do Alentejo, Trás-os-Montes e Beira Interior (INE, 2016). Atualmente o Alentejo possui cerca de 50% da área de olival nacional e é responsável por cerca de 70% da produção de azeite do país. Este aumento de produtividade deve-se a uma olivicultura moderna, onde foram introduzidas novas variedades e novas tecnologias, numa área de cerca de 50000 ha, ou seja 10% da área que deu origem às produções dos anos 50.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 33

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