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Agrotec

O Regadio e a Gestão da Água na Agricultura

A importância da água na agricultura é por demais evidente nos tempos atuais e importa, mais do que nunca, colocar em cima da mesa estratégias que possam assegurar a disponibilidade e a preservação deste recurso no nosso território.

A necessidade de aumentar a produção de alimentos e evitar as crises alimentares para responder a um dos Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS 2 - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável) torna difícil a redução significativa das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) por parte do setor agrícola.

Contudo, a agricultura poderá contribuir para o bem-estar da Terra de modo muito relevante, como por exemplo, implementando uma agricultura que utilize corretamente a água, que contribua para os serviços dos ecossistemas e para a preservação e recuperação dos solos, entre outras medidas.

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GESTÃO EFICAZ DA ÁGUA

A Federação Nacional de Regantes (Fenareg) propõe a criação de comunidades de energia solar no regadio coletivo. Objetivo: reduzir as emissões de carbono e os custos da energia na distribuição de água à agricultura.

A Fenareg propôs ao Governo avançar com um projeto-piloto de comunidades de energia solar no regadio coletivo, de forma a reduzir as emissões de carbono e os custos da energia na distribuição de água à agricultura.

Em comunicado, a Fenareg revela que a proposta surge na sequência do anúncio pela Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, de que pretende implementar comunidades de energia solar no setor agrícola, referindo o papel importantíssimo dos sistemas coletivos de regadio nestas estruturas.

No modelo em estudo pela Fenareg as associações de regantes funcionariam como polo produtor e distribuidor de energia limpa para os agricultores e a comunidade local, sobretudo no período de Inverno, quando as necessidades energéticas do regadio são reduzidas.

Neste sentido, a Federação apela para que a medida de “Instalação de painéis fotovoltaicos- Next Generation” abranja os regadios coletivos e as associações de regantes, através de um anúncio dedicado na operação 3.4.2 do PDR2020.

“Contribuir para a neutralidade carbónica na UE até 2050”

«Abastecemos água a 40% da área de regadio em Portugal – 240.000 hectares – e suportamos custos elevadíssimos com a energia – 390 GWh/ano -, que chega a ter um peso de 75% do custo do serviço de abastecimento de água. É por isso de elementar justiça que as associações de regantes sejam incluídas nos apoios à instalação de energias limpas», afirmou José Núncio, presidente da Fenareg.

As comunidades de energia solar são constituídas por um conjunto de consumidores que, através de uma instalação partilhada, produzem parte ou a totalidade da energia elétrica que consomem, através de recursos renováveis, reduzindo os custos com a eletricidade.

Por outro lado, a Federação congratula-se com a reintrodução do apoio da eletricidade verde, mas defende que a medida deve ser estudada em conjunto com o setor para responder de forma efetiva às necessidades dos agricultores. Até ao momento, desconhece-se qual é o nível de execução da medida e o montante de apoios atribuídos à eletricidade verde em 2020.

Os regantes também apelam ao Governo para que sejam implementados contratos sazonais de eletricidade para a agricultura, tal como já acontece em Espanha. É fundamental que os agricultores portugueses beneficiem das mesmas condições que os seus pares noutros Estados-membros da UE, mantendo a necessária competitividade no mercado agrícola global.

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MELHORIA DA EFICIÊNCIA DOS REGADIOS EXISTENTES

Tornam-se públicos os dados de base para efeitos de valorização dos critérios de seleção do Anúncio N.º 12 / Operação 3.4.2 / 2020 do PDR 2020 referentes à Melhoria da Eficiência dos Regadios Existentes com a tipologia Estudos e projetos de reabilitação/modernização.

Esta operação tem como principais objetivos promover o uso mais eficiente da água e da energia dos aproveitamentos hidroagrícolas existentes e dos regadios coletivos tradicionais, através de:

  • Reabilitação e modernização das infraestruturas primárias e secundárias, estações elevatórias e centrais hidroelétricas;
  • Melhoria da gestão dos aproveitamentos hidroagrícolas;
  • Melhoria da segurança das infraestruturas;
  • Introdução de tecnologias mais eficientes;
  • Reabilitação e modernização de regadios coletivos tradicionais.

Para saber mais sobre esta Operação, consulte a legislação e documentos de suporte à submissão de candidaturas, disponível nesta página.

 

PROJETOS COTR

O Centro de Competências para o Regadio Nacional. COTR tem na sua génese os mesmos propósitos do Centro de Competências para o Regadio Nacional. Os objetivos propõem ajustamentos à estrutura já existente do COTR de forma a definir, em conjunto com as entidades parceiras, e desenvolver a agenda de investigação e inovação para o regadio nacional.

SAGRA

O projecto SAGRA (Sistema Agrometeorológico para a Gestão da Rega no Alentejo), composto inicialmente por sete Estações Meteorológicas Automáticas (EMA's) e dois concentradores, conta atualmente com 14 EMA's e constitui uma rede de estações meteorológicas automáticas, com arquivo de dados originais e corrigidos em bases de dados distintas nos referidos concentradores. Com base nos dados medidos é determinada a Evapotranspiração da cultura de referência (ETo) segundo o método de Penman-Monteith.

MOGRA

O MOGRA dá acesso a um calendário de rega segundo a metodologia proposta pela FAO. Ao utilizador é apresentada a opção de consultar em tempo real o calendário de rega ótimo e atual. Este modelo integra a informação meteorológica da rede SAGRA.

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“A ÁGUA NA AGRICULTURA” DESTACADA NA FNA 2021

«Em Portugal, quando se fala de agricultura, fala-se da água, essencial à vida das culturas e da produção pecuária e de toda a envolvente das explorações agrícolas». Assim se podia ler no comunicado imitido pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) a propósito da Feira Nacional da Agricultura (FNA).

«Nas nossas condições naturais, as afluências de água têm uma distribuição geográfica muito irregular e concentrada em alguns meses do ano, pelo que é imprescindível o seu armazenamento e distribuição através de sistemas cada vez mais eficientes e sofisticados.

Ao mesmo tempo, a agricultura portuguesa terá de conseguir responder a um aumento da procura de alimentos, em condições climáticas menos favoráveis e com um enquadramento geopolítico mais desafiante», referia ainda o mesmo documento.

A edição de 2021 da FNA, realizada entre os dias 9 e 13 de junho, colocou em cima da mesa o tema da “Importância da Água na Agricultura”.

feira nacional de agricultura

O desafio da água é fulcral para a agricultura e é um tema que preocupa a generalidade dos cidadãos. Numa altura em que tanto se discutem as alterações climáticas e a melhor gestão deste recurso escasso e precioso que é a água, a organização da FNA entendeu colocar a água na discussão central do evento.

Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, abriu o debate no dia 9 de junho, afirmando: «A água está para a agricultura, como o sangue está para o nosso corpo. Se não tivermos água, a agricultura não tem possibilidades de vingar».

O presidente da CAP sublinhou a importância de se conseguir fazer mais produção com menos terra. «Produzir intensamente significa produzir mais com menos. Para isso precisamos de mais tecnologia, mais conhecimento, mais envolvimento da academia e melhor utilização dos recursos. Precisamos de olhar para a água que o país tem, para a água que o país pode ter».

Projeto Tejo

Eduardo Oliveira e Sousa vê no Projeto Tejo uma estratégia eficaz para o regadio no Vale do Tejo. Trata-se de um projeto de fins múltiplos, que cria uma estrada de água permanente, contínua e navegável de Lisboa a Abrantes, ao serviço das populações ribeirinhas, desenvolvendo o turismo, a pesca e outras valências, com expansão da área regada no Vale do Tejo e extensão para Setúbal e o Oeste.

«O projeto Tejo é o grande projeto que falta fazer para permitir desenvolver uma economia diferente nesta região do território», referiu.

A ministra da Agricultura, afirmou Maria do Céu Antunes, foi outra das intervenientes da palestra e iniciou a sua intervenção fazendo menção ao estudo “O Uso da Água Em Portugal - Olhar, Compreender e Atuar com os protagonistas chave”. Este estudo pretendeu sensibilizar e mobilizar uma rede de entidades de diferentes naturezas para o que pode ser o seu papel de indução para novos paradigmas de valorização e uso da água, nas suas atividades e no comportamento da sociedade portuguesa.

«De acordo com o estudo “O Uso da Água Em Portugal - Olhar, Compreender e Atuar com os protagonistas chave”, em Portugal o setor agrícola é responsável por 75% do total da água utilizada no país. A média na União Europeia é 24% e a mundial 69%. Na linha mediterrânica temos Espanha 79%, Grécia 81%», começou por referir a ministra.

«Mas a água que é utilizada também é devolvida à terra e nem sempre somos capazes de comunicar isso mesmo. O regadio tem um papel essencial para a diminuição desta imprevisibilidade associada à atividade agrícola. O regadio constitui-se como um fator de coesão económica para a resiliência dos territórios, para reforçar a atratividade das regiões, ajudar a fixar população e a combater o despovoamento. A água tem que ser garantia de uma gestão eficiente de um recurso que nós sabemos que é escasso e é precioso», afirmou Maria do Céu Antunes.

O Programa Nacional de Regadios, que defende um «Regadio eficiente, agricultura sustentável», alocou, no mais recente plano, 560 milhões de euros para criar uma maior resiliência para o efeito das alterações climáticas. «Se por um lado queremos modernizar os sistemas existentes, tornando-os mais eficientes, também quisemos aumentar a área irrigada porque só assim vamos ter atividade agrícola, fixação de pessoas e, com isso, evitar o fenómeno do despovoamento, da desertificação, que leva sistematicamente a fenómenos como é o caso dos incêndios», declarou a ministra.

No âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020 (PDR 2020) foram aprovadas seis candidaturas no valor de 1,3 milhões de euros, que, conforme referiu a ministra da Agricultura, «pretendem realizar estudos e projetos para promoção da reabilitação e modernização de regadios existentes, para sermos mais eficientes na gestão da água».

 

PERSPETIVA EUROPEIA – PARA ONDE EVOLUI O REGADIO?

 

Em fevereiro de 2021 os regantes europeus, representados pela Irrigants d’Europe, apresentaram à Presidência Portuguesa da União Europeia as áreas de atuação prioritárias para um regadio sustentável, vital para assegurar a soberania alimentar e atingir a neutralidade carbónica da UE.

Numa reunião com a titular da pasta da Agricultura no Governo de Portugal e presidente do AgriFish- Conselho de Agricultura e Pescas da UE, Maria do Céu Antunes, os Irrigants d’Europe indicaram quatro pilares de atuação prioritários para o futuro do regadio na UE: Modernização de infraestruturas; Agricultura 4.0; Ecoesquemas; Mitigação das alterações climáticas e reutilização.

Entre as medidas apresentadas destacam-se: o uso de energias renováveis nos sistemas de regadio; a implementação da rega de precisão e tecnologias digitais para aumentar a produtividade da terra e melhorar a qualidade da água; o apoio a práticas sustentáveis na governança da água; a melhoria dos serviços de ecossistema fornecidos por infraestruturas de hidráulica agrícola; o aumento da capacidade de armazenamento de água e de regularização interanual nas bacias hidrográficas e o incentivo à reutilização de águas residuais tratadas na agricultura.

As áreas de regadio e de armazenamento de água são um motor de desenvolvimento económico e social dos territórios da UE e são indutoras de biodiversidade, ao contribuírem para um mosaico de usos diferenciados e complementares da água.

Os regantes europeus consideram que a Presidência Portuguesa do Conselho Europeu é uma oportunidade única para afirmar a importância do regadio na produção sustentável de alimentos na Europa e no cumprimento das metas do Pacto Ecológico Europeu.

No contexto das alterações climáticas, o regadio já não é apenas vital para os agricultores dos países do Sul da Europa. Os anos de seca consecutiva, entre 2018 e 2020, geraram avultadas perdas nas colheitas agrícolas dos países da Escandinávia, Dinamarca e Alemanha.

«Os países do Norte da Europa já não precisam apenas de drenagem, mas também de rega para garantir a água necessária à produção das suas culturas agrícolas e à manutenção da biodiversidade no solo. Devido aos efeitos das alterações climáticas, estamos perante  uma perspetiva nova e diferente da gestão da água na UE, que deve ser considerada e apoiada no âmbito da futura PAC», alertou Adriano Battilani, secretário-geral da Irrigants d’Europe e responsável  da associação de regantes ANBI-Associazione Nazionale Consorzi di Gestione e Tutela del Territorio e Acque Irrigue de Itália.

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O USO DA ÁGUA EM PORTUGAL: OLHAR, COMPREENDER E ATUAR COM OS PROTAGONISTAS CHAVE

 

A Fundação Calouste Gulbenkian desafiou o C-Lab - The Consumer Intelligence Lab a desenvolver uma grande investigação sobre a problemática do uso da água em Portugal, num contexto em que o país se confronta com o risco de cenários de escassez, já nas próximas duas décadas.

A partir de uma compreensão aprofundada das formas como os grandes utilizadores do recurso o usam, o valorizam, o gerem e projetam cenários da sua menor disponibilidade, pretende-se capacitar o Programa Desenvolvimento Sustentável da Gulbenkian no seu propósito de colocar o tema da “sustentabilidade da água” na agenda pública.

Ambiciona-se que esta Investigação possa ser um ponto de partida para que se promova, em Portugal, um esforço estratégico, coletivo e multidisciplinar com vista a um uso mais eficiente e sustentável da água.

Estudo Gulbenkian

Pretende-se, a partir dos seus resultados, sensibilizar e mobilizar uma rede de entidades de diferentes naturezas - de organizações setoriais a empresas da fileira agroalimentar e da grande distribuição -, para o que pode ser o seu papel de indução para novos paradigmas de valorização e uso da água, nas suas atividades e, necessariamente, no comportamento dos portugueses – nas suas rotinas e decisões de compra.

A investigação desenhada partiu do pressuposto de que, parte relevante do esforço de otimização do uso de água, terá de emergir, necessariamente daquele que é o seu maior utilizador em Portugal: a agricultura e pecuária.

Em simultâneo, a metodologia laboratorial concretizada assentou numa importante hipótese de trabalho: a sensibilidade crescente da sociedade portuguesa para as questões de sustentabilidade pode e deve ser convocada para que a utilização eficiente da água nas cadeias de valor se afirme como um novo fator de escolha (como é, por exemplo, o “ser local”).

O estudo está disponível para consulta e download.

 

1º CURSO ONLINE SOBRE REUTILIZAÇÃO DE ÁGUA PARA A AGRICULTURA

O projeto internacional SUWANU EUROPE anunciou o primeiro curso online sobre reutilização de água para a agricultura, produzido no âmbito do projeto H2020 SuWaNu Europe.

O curso online e gratuito visa transferir para o público os conhecimentos obtidos por instituições de investigação e profissionais na reutilização de água residual para a agricultura, incluindo exemplos práticos de vários países, a abordagem ao GreenDeal e o Quadro da União Europeia neste setor.

Esta formação tem a particularidade de disponibilizar material de formação único, com conhecimentos, experiências e tecnologias relevantes, através dos resultados obtidos ao longo de mais de dois anos de trabalho conjunto entre os membros do Consórcio, com especial destaque para os parceiros nacionais CONSULAI e FENAREG

Os conteúdos do curso estão divididos em diferentes módulos orientados para os seguintes grupos-alvo:

  • Desenvolvedores de tecnologia da água;
  • Técnicos agrícolas e da indústria alimentar;
  • Autoridades públicas ligadas ao planeamento estratégico para implementação da reutilização da água;
  • Consumidores e público em geral.

O curso online está disponível nas 9 línguas dos países parceiros do projeto, incluindo a língua portuguesa.

No final do curso, após um exame final, é emitido um certificado de aproveitamento a cada participante.

  • Saiba mais aqui.
  • Pode ainda assistir ao vídeo explicativo sobre o curso aqui. 

 curso

A edição 34 da revista Agrotec contou com um dossier especial dedicado à temática da “Incerteza do regadio nacional”, que pode ser consultado aqui.