O que se está a fazer em prol das leguminosas em Portugal?
A produção de leguminosas contribui para o objetivo de uma agricultura sustentável, onde a melhoria da fertilidade e da estrutura do solo são essenciais, bem como a redução da adubação de origem química ao estritamente necessário, nomeadamente à luz das novas diretrizes da Política Agrícola Comum e do Pacto Ecológico Europeu.
A produção nacional de grão-de-bico mais que triplicou entre 2014 (531 ton) e 2018 (2000 ton) e a área dedicada à cultura aumentou de 920 hectares para 2 594 hectares no mesmo período. O consumo per capita é estimado de 2,6 kg/habitante/ano. Portugal é deficitário na produção desta leguminosa, com um grau de auto-aprovisionamento de apenas 7,4%. Em 2019 as importações nacionais de grão ascenderam a 41 572 toneladas, no valor de 25,8 milhões de euros, enquanto as exportações nacionais totalizaram 2 191 toneladas, no valor de dois milhões de euros (segundo dados do GPP).
PARCERIA LUSOSEM E EGOCULTUM
No passado mês de janeiro, as empresas Lusosem e a Egocultum estabeleceram um protocolo de parceria para comercialização, distribuição e desenvolvimento da nova variedade portuguesa de grão-de-bico ‘Casal Vouga’.
Esta cultivar, registada no Catálogo Nacional de Variedades em 2020 pela Egocultum, está perfeitamente adaptada às condições edafoclimáticas portuguesas, revelando-se uma boa opção para uso em rotações de culturas e uma alternativa ecológica para a fixação do azoto atmosférico.
Segundo Filipa Setas, responsável pelo Desenvolvimento e Inovação na Lusosem, «com este acordo, as duas empresas procuram dinamizar e valorizar culturas e diferentes opções culturais no mercado português, além de promoverem e dinamizarem a investigação e melhoramento de origem nacional. Com efeito, o acordo tem também como base a colaboração entre as duas empresas para o desenvolvimento e introdução no mercado nacional de outras espécies e variedades de leguminosas, ao longo dos próximos anos».
O ‘Casal Vouga’ resulta de uma seleção natural entre as sementes mais resistentes e produtivas utilizadas pela família Azóia na produção de grão-de-bico desde a década de 80. Em 2019, a Egocultum e o ‘Casal Vouga’ ganharam o Prémio Intermarché Produção Nacional.
A Lusosem passa a deter a representação exclusiva em Portugal desta nova variedade, adicionando as leguminosas ao seu já vasto portfólio de sementes de arroz, cereais praganosos, milho e forragens. Está assegurada a disponibilidade de semente certificada do grão-de-bico ‘Casal Vouga’ para a campanha atual, bem como o necessário apoio técnico à cultura, tanto ao nível da distribuição como junto do agricultor.
PROJETO LEGUCON
Com o intuito de promover um aumento de produção de leguminosas no país, numa vertente participativa e interativa entre a ciência e a cidadania, a Universidade Católica (UCP) lançou, em dezembro de 2020, o projeto LeguCon.
Trata-se de um consórcio de leguminosas inovador em Portugal, para reunir e permitir o contacto entre todos os atores da cadeia de valor, desde o produtor até ao consumidor. A ideia surgiu no laboratório de ‘Biotecnologia Vegetal para a Sustentabilidade’ e o projeto, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, oferece soluções para promover a produção de leguminosas e sustentar o mercado crescente de alternativas alimentares saudáveis, à base de proteína vegetal.
Neste sentido, a UCP propôs-se, através de um concurso, apoiar seis explorações agrícolas na plantação de leguminosas nos seus terrenos, oferecendo dois mil euros e dando acompanhamento técnico, «desde a sementeira até à colheita».
Carla Santos, investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da Escola Superior de Biotecnologia (ESB-UCP), contou à revista Agrotec que «o objetivo deste concurso é criar uma colaboração entre a equipa do projeto LeguCon e os produtores apoiados, no sentido de desenvolver ensaios de campo que demonstrem quer cientificamente, quer na prática agrícola, todos os benefícios de produzir leguminosas em Portugal. Este concurso conta com a parceria das empresas Lusosem e Egocultum enquanto fornecedores de sementes de leguminosas. As inscrições para o concurso decorreram durante o mês de fevereiro, totalizando 36 candidaturas, provenientes da Região Norte do país e com diversos tipos de produção (biológico, convencional). Durante o mês de março decorrerá a avaliação dos candidatos, que terá em conta, como principais fatores de seleção, a sua dispersão geográfica, a área disponibilizada para a introdução da nova cultura, a ausência de cultivo prévio de leguminosas na exploração e a motivação dos candidatos em colaborar no desenvolvimento e demonstração dos ensaios».
Os resultados do concurso serão apresentados no site do projeto.
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