FacebookRSS feed

Agrotec

O mercado do milho e do trigo

O Ministério da Agricultura realizou um ponto da situação do mercado do milho e trigo, quer a nível internacional, quer a nível nacional.

Trigo

Em relação ao mercado internacional do milho, existiu uma lgeira recuperação dos contratos futuros (maio) após a venda movimentada da semana anterior como resultado das preocupações com a Covid-19 e da quebra da procura para produção de etanol nos EUA, face as restrições das viagens. A melhoria verificada teve por base não só preocupações com o atraso nas sementeiras nos EUA, devido a excesso de chuvas, mas também com o aumento de procura para exportação para a China.

Na Argentina, depois de uma breve interrupção, os portos retomaram as operações normais depois do governo ter deliberado novas regras de transporte, e no Brasil os portos estão a funcionar normalmente, já com as novas regras de proteção dos trabalhadores contra o Covid-19.

Já em relação ao mercado nacional do milho, durante 2019 importaram-se cerca de 2 100 mil toneladas, com 41% de origem Ucrânia, 38 % Brasil e 16% UE ppm/ BG (9%). De referir que as importações do Brasil ocorrem ppm/durante o segundo semestre. No ano 2020 importaram-se até 20 de março cerca de 350 mil toneladas para a Ucrânia.

Como pontos sensíveis para acompanhamento, o Ministério destaca as eventuais dificuldades nas importações para garantir o aprovisionamento das indústrias, quer para alimentação humana, quer animal, por perturbações nos mercados de origem tradicionais ou nos transportes.

Já em relação ao mercado internacional do trigo, os preços mundiais continuaram a registar um forte aumento durante a semana passada, à medida que a procura aumentava temendo perturbações relacionadas com coronavírus nas cadeias de abastecimento.

Rumores ainda não confirmados sobre proibição de exportação por parte da Rússia e Ucrânia também contribuíram para o aumento de preços verificado. Registam-se já informações sobre restrições ao movimento de transporte terrestre em alguns países, bem como a possibilidade de alguns países exportadores limitarem a sua oferta tendo em vista o seu abastecimento interno, como é o caso do Cazaquistão que já suspendeu até 15 abril as exportações de farinha de trigo.

Em termos de oferta mundial, embora se continue a estimar uma boa campanha 2020/21, existem já alguns sinais de retração, por problemas climáticos quer na América do Norte, quer na UE. O MARS projetou uma redução anual de 2% na produção UE, de trigo comum, devido a condições excessivamente húmidas no noroeste da Europa, embora as condições das culturas na parte central, leste e norte fossem consideradas boas após um inverno ameno. Também na Ucrânia se prevê uma revisão em baixa para valores 13% inferiores ao ano anterior em resultado de condições do efeito da seca.

Nos EUA, o USDA relatou melhorias sobretudo nas condições de produção do trigo de inverno no Kansas e Oklahoma, embora se prevejam atrasos nas sementeiras de primavera nas principais áreas do norte dos EUA devido possíveis inundações. Na Rússia as culturas de inverno têm beneficiado de condições favoráveis, mas as culturas de primavera estão bastante dependentes da chuva devido a seca recente e ao clima quente. Na Austrália as chuvas recentes são benéficas para as sementeiras, mas ainda insuficientes para as sementeiras nas regiões do sul.

A nível do mercado português, segundo o INE (BMAP março) nos cereais de outono/inverno, e pelo sétimo ano consecutivo, a superfície instalada diminuiu, passando para os 106 mil hectares (a menor dos últimos cem anos), com reduções generalizadas: trigo duro (-15%), triticale e cevada (-10%) e trigo mole e aveia (-5%), no entanto o desenvolvimento vegetativo tem sido normal.

Conforme é referido pelas confederações de agricultores, é bastante provável que a produção de cereais, principalmente os de primavera/verão venha a estar comprometida, reflexo de constrangimentos na obtenção de sementes e de fatores de produção. De salientar que o grau de autoaprovisionamento era de 4% em 2017/18.

Nas últimas campanhas, Portugal importou, em média, cerca de 1,2 milhões toneladas, das quais, 96% de origem UE (com França a representar cerca de 50% do total). 

É necessário observar eventuais dificuldades nas importações para garantir o aprovisionamento das indústrias para alimentação humana, e, ainda que em menor extensão, alimentação animal, por perturbações nos mercados de origem tradicionais, ou nos transportes. Apesar de não haver ainda rutura de stocks, as pequenas indústrias de moagem podem vir a ter dificuldades de aprovisionamento de matéria-prima, quer por questões de problemas de logística, quer por eventual aumento dos preços. Também seria ideal a manutenção de um “corredor verde” ao nível europeu, para garantia de transporte prioritário de produtos agrícolas, de matérias-primas, alimentos para animais, oleaginosas e cereais.