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Agrotec

Nuno Russo: «A batata nacional é um produto de excelência»

A Associação da Batata de Portugal  (Porbatata) lançou oficalmente a Campanha de Promoção da Batata Portuguesa 2020, uma iniciativa que conta o apoio institucional do Ministério da Agricultura e a parceria do Crédito Agrícola.

Porbatata

Texto: Sofia Cardoso

Para marcar a iniciativa, teve lugar uma conferência online, onde foi apresentada a campanha de promoção para 2020. Durante a conferência, foram também abordadas as consequências da Covid-19 para o setor agroalimentar.

O evento contou com a presença de Nuno Russo, Secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural; Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca; Sérgio Ferreira, presidente da Porbatata; Tânia Fonseca, vogal do Conselho Fiscal da Porbatata; Rui Paulo Figueiredo, presidente da SIMAB e César Machado, da direção de marketing estratégico do Crédito Agrícola. João Pereira, partner da Agência Evaristo, apresentou-se enquanto moderador do debate.

Num momento inicial, o vídeo da campanha foi apresentado e João Pereira introduziu o evento, destacando que «a batata é indispensável à nossa refeição e à nossa gastronomia». Em seguida, questionou o novo presidente da Porbatata, Sérgio Ferreira, sobre as noções, muitas vezes pouco corretas, que os consumidores portugueses têm perante este alimento.

Sérgio Ferreira começou a sua intervenção por destacar a importância do apoio do Ministério da Agricultura, enquanto parceiro institucional da campanha, e do apoio do Crédito Agrícola, que também tem estado sempre presente nas iniciativas dos últimos anos. 

«A batata é, sem dúvida, fundamental na mesa dos portugueses», continuou, destacando que, «ao longo dos últimos anos, existiram tendências de consumo diferentes», mas que é importante «desmitificar a ideia errada de que a batata é prejudicial», sendo, pelo contrário, «a base da dieta mediterrânica».

A nova campanha da Porbatata tem um objetivo muito claro de chegar até ao consumidor final e «esclarecer que não, a batata não é prejudicial, não engorda», aponta. «Claro que deve ser consumida com moderação, como qualquer outro tipo de alimento, mas é fundamental para a nossa gastronomia. Queremos colocar a batata portuguesa no lugar certo, na mesa dos portugueses», defendeu, afirmando que os produtores portugueses «têm qualidade e quantidade para tal. Nesta altura, é importante consumir local e ajudar toda a cadeia agroalimentar nacional», concluiu.

A batata nacional é um «produto de excelência»

Seguiu-se a intervenção de Nuno Russo, Secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, que começou por evidenciar que existe uma ligação «cada vez maior» entre os produtos agrícolas, a alimentação e a nutrição, que deverá ser trabalhada nos próximos anos. 

Nuno Russo parabenizou a nova campanha da Porbatata, destacando que o Ministério tem estado sempre presente e se encontra abertamente disponível para estas campanhas de promoção dos produtos nacionais. «O Ministério faz questão de participar e de não perder esta oportunidade de felicitar o setor pelo trabalho, resiliência e toda esta proatividade em prol deste setor», apontou. «A mensagem da valorização da batata nacional, no caso específico a da batata nova, é uma comunicação muito bem trabalhada, que convida a refletir sobre as questões colocadas ao setor. Nos dias que correm, o vídeo é uma ferramenta cada vez mais eficaz e pode fazer a diferença», isto em termos de desconfinamento e da força de difusão das redes sociais.

Sobre o produto em si, o Secretário destacou que a batata nacional é um «produto de excelência», sendo produzida com «muita qualidade», o que possibilita o auto abastecimento e a exportação do bem alimentar. Sobre a fileira, Nuno Russo afirma que ser «fundamental representar os interesses de toda a fileira da batata nacional», desde a produção, à indústria e ao comércia, mas que tal se trata de uma missão «extraordinariamente complexa», porém «crucial».

«Os detalhes da escolha da batata de semente, a utilização do conhecimento aliada à tecnologia, com vista a reforçar a produtividade e a qualidade, mas também a sustentabilidade da própria produção e com o objetivo de criar condições de rendimento, de valor acrescentado para os produtores, mas também para os transformadores e comerciantes», exemplifica Nuno Russo, defendendo que se trata de uma abordagem em que «não se olha apenas para a produção, mas sim para uma cadeia conjunta em que todos podem aproveitar o que melhor se faz».

O Secretário destacou que «existe uma necessidade de promover o que é nacional, mas sem perspetiva de fecharmos as portas, pelo contrário». Nuno Russo realça que, «felizmente, vivemos no maior mercado comum e aberto (...), um mundo em que estávamos a construir alicerces para sustentar a produção nacional e as exportações nacionais», acreditando que essa construção que irá continuar. 

Nuno Russo concluiu a sua intervenção ao referir a campanha Alimente quem o Alimenta, uma das grandes apostas do Ministério da Agricultura para combater às consequências da Covid-19 no setor. Deixou ainda uma palavra aos agricultores nacionais, destcando a sua resiliência e acreditando que o caminho passa por unir esforços para ultrapassar os problemas provocados pela pandemia sanitária.

Consequências da Covid-19 nos mercados e abastecimento

Tânia Fonseca, vogal do Conselho Fiscal da Porbatata, iniciou a sua intervenção por destacar ser essencial «desmistificar» os supostos maleficios da batata para a alimentação, o principal mote da campanha apresentada. A representante da associação aponta que a campanha surge numa «altura essencial», pois o setor encontra-se num ponto de viragem e é «importante gerarmos economia» para Portugal.

Questionada, também, sobre as consequências da pandemia no mercado, Tânia Fonseca destacou que as estruturas não estavam preparadas para o que aconteceu, mas que a empresa Bacefrut, da qual também é representante, conseguiu fazer face a todos os pedidos. Atualmente, conta que a situação já está estabilizada e que o grande impacto aconteceu no canal Horeca, onde existiram «repercussões gravíssimas», que ainda se vão continuar a fazer sentir.

No encadeamento do tópico, Rui Paulo Figueiredo, presidente da SIMAB, começou por afirmar que «os mercados abastecedores têm um papel muito relevante em toda a cadeia de abastecimento», tratando-se de uma «base de encontro para todo o tipo de retalhistas». 

«As empresas que aqui estão (Mercado de Abastecimento de Lisboa - MARL) tanto fornecem a distribuição, como o canal Horeca, como estão em comunicação com as plataformas logísticas da distribuição, mas ao mesmo tempo também têm um papel essencial para as mercearias, mercados municipais e pequenas lojas de conveniência», aponta.

Sobre as alterações no consumo, o presidente da SIMAB destaca, tal como Tânia Fonseca, que se assistiu a um grande aumento da procura e que existiram setores que sofreram em larga escala, mas que não aconteceram problemas de abastecimento. «Era a primeira grande preocupação, mas o que tivemos foram desafios operacionais, quer para os mercados abastecedores, quer para as empresas. Naqueles primeiros quinze dias, todos os dias eram sexta-feiras acrescidas, porque tivemos mais de 20 mil pessoas a entrar no MARL», explica, destacando que tiveram que «procurar a compatibilidade adequada» com as «medidas de controlo de entrada» e «aumento das medidas de segurança».

«No caso específicico da batata, o feedback que tenho é um aumento da procura grande no primeiro mês, nas primeiras duas e três semanas. Existiu um outro problema, às vezes, de falta de produto, mas muito pontual. No essencial, quer a batata, quer a cadeia agroalimentar, funcionou muito bem», expõe, destacando, também, o funcionamento notório do mercado de proximidade.

«Um dos nossos contributos foi manter o nosso elo da cadeia a funcionar e manter a segurança alimentar», evidenciou. Sobre a situação atual, Rui Paulo Figueiredo acredita que «temos que manter a monitorização das medidas de controlo da pandemia, ao mesmo tempo que estamos a procurar reabrir, em segurança, a economia», apoiando as empresas e os canais de investimento.

Seguiu-se Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, que começou por apontar a «situação muito atípica» que se viveu no final de março, destcando, como os anteriores oradores, que o consumo se estabilizou, realçando que tal aconteceu devido à evolução do novo coronavírus em Portugal. 

O diretor-geral da entidade explicou que se verificou um «crescimento exponencial» durante as duas semanas últimas semanas de março, registando-se um aumento de 80% do grande consumo face ao período homologom, com o setor agroalimentar a representar, em conjunto com o da higiene, o maior número de vendas. Contudo, Pedro Pimentel também acredita que «reagimos bem face à situação internacional» e «mantemos a cadeia a funcionar». Sobre alterações no consumo, Pedro Pimentel acredita que «passamos a privilegiar mais serviço do que preço», tivemos uma «menor preocupação com marcas» e criamos stocks nas nossas casas.

Sobre se o comércio de proximidade e o comércio online, Pedro Pimentel tem algumas dúvidas sobre o futuro. «Temos aqui a tempestade perfeita. Eu estou em casa, dá jeito receber compras em casa, estão sempre pessoas em casa mas, no momento em que eu sair à rua, será que o comportamento será sempre o mesmo? Sem querer ser pessimista, é preciso deixar acentuar a poeira e só depois perceber o que é o comportamento típico numa situação atípica», conclui.

Crédito Agrícola enquanto Grupo financeiro de confiança

César Machado, da direção de marketing estratégico do Crédito Agrícola, começou por agradecer o convite realizado ao banco para estar presente, evidenciando que o Grupo «há mais de cem anos que apoia a agricultura e todas as áreas de negócio sendo, neste momento, um banco universal, o que quer dizer que opera em todos os segmentos de mercado bancário e segurador». 

O representante da instituição financeira destacou o facto do CA contar com uma «série de associados, quase 400 mil, que nos dá uma base de sustentação para nos afirmarmos nas áreas rurais e daí apoiarmos desde sempre este segmento», muitas vezes marginalizado.

«Neste momento, o Crédito Agrícola tem uma ambição, é um grupo financeiro, de referência, que terá a sustentabilidade enquanto foco. Esta crise vai demonstrar especificamente isso. O Crédito Agrícola atualiza a sua visão e passa a tornar-se numa instituição de referência em termos de inclusão, sustentabilidade e inovação», explica, evidenciando que, em relação ao último tópico, o banco já dispõe de aplicaçoes à distância que permitem desmaterializar uma série de processos burocráticos. «A nossa politica de sustentabilidade é cada vez mais relevante». 

César Machado recorda que o Crédito Agrícols «esteve sempre na linha da frente a apoiar uma série de agentes económicos», nomeadamente nos «locais mais remotos de portugal», onde apoiou uma série de atividades rurais, muitas delas com um ciclo anual. «Sempre apostamos com um risco acrescido pois, dada as circunstâncias que envolvem o meio ambiente, não sabemos o que vai acontecer num ano. A prova está aí, na confiança dos nossos associados e clientes». 

«Esta pandemia, com consequencias de saúde e economicas, vai reforçar a posição da instituição financeira que somos», acredita. «O Cédito Agrícola é, de facto, uma instituição que apoia as diversas entidades, como a Porbatata». 

César Machado concluiu a sua intervenção inicial a parabenizar o vídeo da Porbatata, que acredita que irá cativar a população mais jovem, dadas as suas ilustrações animadas.

O futuro da batata portuguesa

No final do certame, e após algumas opiniãos do público, Sérgio Ferreira voltou a focar-se na Campanha de Promoção da Batata Portuguesa 2020, apelando ao consumo. «Temos que gerar confiança aos nossos produtores, faze-los ver que existe escoamento da produção e, com essa confiança, eles vão produzir melhor. Contudo, para criar essa confiança, temos que chegar ao consumidor para conseguir escoar realmente o produto», aponta, destacando que o caminho não será só pelo aumento do consumo de batata, mas, em especial, por consumir aquilo que é português.

«Em Portugal, já alcançamos as 400/450 mil de toneladas de produçao, ou seja, 50% daquilo que consumimos conseguimos produzir em Portugal», começa por explicar. Contudo, Sérgio Ferreira acredita que «temos que aumentar a produção, mas precisamos de ter os canais de venda a funcionarem adequadamente». Sendo 2020 um ano atípico, o presidente da Porbatata destaca que «não sabemos o que vai acontecer com a exportação». A Porbatata pensa na campanha antes de tudo isto acontecer e ela surge num momento crucial para o setor agroalimentar nacional.

Pedro Pimentel aproveitou as considerações no final da conferência para deixar alguns conselhos para o setor, estes relativos a comunicação e à associação do abastecimento à sustentabilidade e soberania nacional. «Tudo aquilo que consigamos substituir de importação por produto nacional, não estamos só a faze-lo porque é bom, mas porque gera riqueza», acreditando que se irá enfrentar, no futuro próximo, um «consumo patriótico», quer em Portugal, quer nos restantes países, que estão a fazer o mesmo percurso. 

César Machado, do Crédito Agrícola, enfatizou a ideia de Rui Paulo Figueiredo, que o Crédito Agrícola partilha, que se relaciona com as parcerias, as redes e os marketplaces, que acredita que têm, a todos níveis, de ser implementados. Só num mundo globalizado é que a «humanidade conseguirá sobreviver». Do ponto de vista do Crédito Agrícola, o representante voltou a reforçar que a instituição financeira estará sempre ao lado dos seus parceiros, nacionais e internacionais, e que estará ao lados dos agricultores.

FONTE: Agronegócios