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Guerra na Ucrânia faz disparar preço do milho

O mercado das commodities é um dos que se está a ressentir com a guerra na Ucrânia, que tem alterado os padrões globais de comércio, produção e consumo. Uma das consequências deste conflito bélico, segundo o relatório "O Impacto da guerra da Ucrânia no Mercado das Commodities" (Commodity Markets Outlook), do World Bank Report, são os preços elevados e que assim se manterão até ao final de 2024.

“Em termos gerais, isto representa o maior impacto nas commodities vivido desde a década de 1970. Tal como naquela época, este impacto é agravado por um aumento nas restrições ao comércio de alimentos, combustíveis e fertilizantes”, disse Indermit Gill, vice-presidente de Crescimento Equitativo, Finanças e Instituições do Banco Mundial. “Esses desdobramentos começam a dar sinais de alerta sobre uma possível estagflação*. Os formuladores de políticas públicas devem aproveitar todas as oportunidades disponíveis para aumentar o crescimento económico interno e evitar ações que prejudiquem a economia global”.

No que respeita aos cereais, os desafios também são muitos, a começar desde logo com um aumento dos custos de produção, nomeadamente a energia e os fertilizantes, como recordou John Baffes, economista sénior do Grupo de Perspectivas do Banco Mundial: “Os efeitos em cascata serão duradouros. O forte aumento dos preços dos fatores de produção, como, por exemplo, energia e fertilizantes, pode levar a uma redução na produção de alimentos, principalmente nas economias em desenvolvimento”.

Milho: sobe preço e produção

De acordo com o relatório, o Índice de Preços de Grãos do Banco Mundial subiu 14% no primeiro trimestre de 2022 e é quase 20% superior ao registado no mesmo período do ano anterior.

No que respeita ao milho, é avançado que os preços deste cereal subiram 20% no primeiro trimestre de 2022, chegando ao valor de 335 dólares/toneladas em março. A guerra na Ucrânia levanta muitas incertezas no mercado global dos grãos. O país agora em guerra representa 3,5% da produção mundial de milho.

De acordo com o Commodity Markets Outlook a sementeira na China e nos Estados Unidos da América decorre como seria expectável e a melhoria das condições de produção em países como o México e a Índia é favorável ao mercado do milho, em particular. O relatório faz ainda menção à redução da produção na Argentina e no Brasil, devido ao fenómeno natural La Niña.

Ao nível mundial, a produção de milho deverá crescer 7,5% esta campanha, comparativamente à anterior, e o consumo deverá registar o aumento de 3,4%.

Fertilizantes: aumento dos preços pode chegar aos 70%

O Índice de Preços de Fertilizantes do Banco Mundial registou uma subida de quase 10% no primeiro trimestre de 2022. Este aumento segue a tendência já verificada o ano passado, quando se registou um aumento dos preços na ordem dos 80% devido a interrupções de fornecimento, crescimento do custo das matérias-primas e restrições comerciais na China e na Rússia.

As expectativas são do preço dos fertilizantes continuar a crescer, podendo vir a aumentar mais 70% face aos preços atuais. Esta é também uma consequência da guerra que se trava na Europa, uma vez que a Rússia e a Bielorrrúsia estão entre os principais fabricantes de fertilizantes e dos maiores fornecedores de gás natural, uma das matérias-primas dos fertilizantes nitrogenados.

Energia em crescimento este ano

Os preços da energia devem aumentar mais de 50% em 2022, antes que comecem a recuar em 2023 e 2024. Prevê-se que os preços das commodities não energéticas, tais como produtos agrícolas e metais, aumentem quase 20% em 2022 e também recuem nos anos seguintes. No entanto, os preços das commodities devem permanecer bem acima da última média quinquenal. No caso de uma guerra prolongada ou de sanções adicionais à Rússia, os preços podem tornar-se ainda mais altos e mais voláteis que as projeções atuais.

Devido às interrupções no comércio e na produção provocadas pela guerra, o preço do petróleo bruto (Brent) deve atingir uma média de 100 dólares por barril em 2022, o nível mais alto desde 2013, o que representa um aumento de mais de 40% em relação a 2021. Os preços devem recuar para 92 dólares em 2023 — bem acima da média quinquenal de 60 dólares por barril. A expectativa é que, em 2022, o preço do gás natural na Europa chegue ao dobro do que era em 2021, ao passo que os preços do carvão devem ficar 80% mais altos. Em ambos os casos, seriam máximas históricas.

“O aumento resultante nos preços dos alimentos e da energia impõe grandes desafios para o Ser Humano. Provavelmente impedirá avanços na redução da pobreza. Preços de commodities mais altos exacerbam as pressões inflacionárias, já elevadas em todo o mundo”, disse Ayhan Kose, diretor do Grupo de Perspectivas do Banco Mundial.

A terminar, o relatório insta os legisladores de políticas públicas a agir com prontidão para minimizar os danos para a economia global e, consequentemente, para a sociedade. Segundo o relatório uma das prioridades fundamentais deve ser o investimento em eficiência energética, inclusive para a climatização de edificações. Por fim, há ainda um alerta para a urgência em desenvolver fontes de energia com zero emissões, como, por exemplo, as energias renováveis.

FONTE: ANPROMIS com base no relatório do World Bank Group “Commodity Markets Outlook” de abril de 2022.