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Agrotec

Genética das vacas ganha mais importância com menos produção

Com a redução da produção de leite nos Açores - só entre janeiro e abril foram menos 10 mil toneladas - a genética ganha ainda mais importância para produzir o leite certo, na quantidade certa e com as vacas certas. A tendência da produção de leite nos Açores neste momento é de redução. Segundo os mais recentes dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), só entre janeiro e abril deste ano, houve menos 10 mil toneladas de leite a entrar nas fábricas por comparação com o mesmo período de 2021.

E até ao fim do ano, esta redução na produção deve continuar.

Por isso, a genética das vacas torna-se cada vez mais importante neste contexto de inflação e crise nos mercados, provocada pelos efeitos da pandemia e da Guerra na Ucrânia.

A Associação Agrícola de São Miguel (AASM) publica todos os anos um catálogo de genética com vários touros para inseminação artificial, que mais parecem automóveis de último modelo com uma complexa ficha técnica com vários parâmetros para avaliar e comparar.

E é o próprio texto de abertura do catálogo a referir que “devido aos tempos difíceis que o setor leiteiro atravessa, é cada vez mais importante recorrer a um melhoramento genético intenso, mas criterioso, de forma a obter maiores produções com o mesmo ou com um menor número de animais, tendo como objetivo reduzir custos de produção como alimentos, terra ou mão de obra”.

Hoje estão disponíveis para os produtores de leite ferramentas como o emparelhamento em que, através de um programa informático, se identifica dentro do catálogo disponível o melhor reprodutor para cada vaca especificamente, conforme as suas características e o tipo de produção pretendida pelo proprietário da exploração.

A genética está hoje tão evoluída que é possível comprar sémen de touros reprodutores que foram apurados geneticamente para gerarem novilhas com aptidão para produzirem leite com proteínas mais benéficas para a saúde e que possam ter um efeito positivo em pessoas mais intolerantes ao consumo do leite tradicional.

E o mesmo acontece com a produção de queijo, onde é possível, através do apuramento genético, criar vacas cujo leite tem mais qualidade para a produção de queijo.

Conforme afirma em declarações ao Açoriano Oriental o presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, “nunca fui apologista de se aumentar o número de vacas nos Açores e bem pelo contrário, devemos é ter menos e melhores vacas e o melhoramento genético far-se-á sempre como condição obrigatória, que nunca será um custo, mas antes um grande proveito para os Açores”.

Jorge Rita dá como exemplo a situação atual das indústrias, que já não valorizam a quantidade de leite, mas sim o leite com mais sólidos, ou seja, com mais gordura e proteína, “num trabalho que tem sido feito ao longo dos anos e que tem de continuar a ser feito ao nível do melhoramento genético também em função do que as indústrias vão precisar”, afirma.

O presidente da Associação Agrícola de São Miguel lembra ainda que hoje estão disponíveis para os produtores de leite dos Açores “ferramentas excecionais” para o melhoramento genético, como é o caso da genotipagem ou a possibilidade de sexar o sémen, de maneira a que a que as melhores vacas de leite possam ter sempre novilhas fêmeas que perpetuem essa produção de leite de qualidade, para que as vacas com pior produção de leite possam ter sempre novilhos machos destinados à produção de carne, através do cruzamento com touros de raças próprias para a produção de carne.

No entanto, isto é válido num cenário em que a criação está centrada na produção de leite, tendo a carne como vocação secundária. Contudo, se continuar a haver alguma reconversão de explorações que estavam vocacionadas para a produção de leite no sentido de passarem a estar direcionadas para a produção de carne, aí já será necessário fazer “transferências embrionárias recorrendo a animais de topo a nível mundial para se fazerem famílias de vacas para produção de carne nalgumas explorações, tal como se fez na área do leite”, explica Jorge Rita.

Nos Açores, a melhoria genética das vacas verificada nos últimos anos fez com que a própria venda de animais ou de embriões para o continente português ou para o estrangeiro fosse uma realidade.

Contudo, neste momento Jorge Rita admite que “derivado de várias alterações nos mercados internacionais e nos laticínios, a que se juntou a situação da pandemia, estagnou-se um pouco em matéria de venda de genética, embora a Região nunca tenha parado em termos de melhoramento genético, num património incrível que temos, do melhor que há mesmo a nível nacional”.

A Associação Agrícola de São Miguel já realiza ações de apuramento genético das vacas através de inseminação artificial há cerca de 30 anos, salientando Jorge Rita o facto de a nível nacional, cerca de 70% das vacas classificadas como "excelentes" pelas suas características morfológicas estarem nos Açores, quando ao nível do número total de animais, os Açores terão à volta de 30% das vacas do país.

Quer isto dizer que os Açores estão à frente a nível do apuramento genético das vacas por comparação com os criadores continentais. “Este é um trabalho que a Associação Agrícola tem feito ao longo dos anos, onde temos comprado sempre o sémen dos melhores touros a nível mundial, dos Estados Unidos ao Canadá, passando pela Alemanha, França ou Espanha”, afirma Jorge Rita, que salienta também a vantagem das compras centralizadas na Associação Agrícola, garantido assim um maior volume e preços mais acessíveis do que se fossem os produtores, individualmente, a comprar o sémen dos melhores touros para fazer o apuramento genético das suas explorações.

Ao nível das transferências embrionárias, a Associação Agrícola de São Miguel tem apostado também muito num serviço que implica uma monitorização contínua nas próprias explorações. E mesmo que ainda haja explorações em São Miguel que não recorrem a ferramentas artificiais de melhoramento genético, também nesses casos se procura uma melhoria contínua das qualidades das vacas, através da compra dos melhores touros reprodutores que existem em São Miguel.

Fonte: Açoriano Oriental