Estado hídrico das oliveiras no verão e a produção
Por: Carla Inês, José Pragana, António Manuel Cordeiro
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P. (INIAV)
RESUMO
No final de julho de 2019 realizou-se uma medição do potencial hídrico (Ψ) do ramo, ao amanhecer, em 10 variedades de oliveira para averiguar a resposta dos materiais após alguns meses de rega muito deficitária, relativamente à evapotranspiração cultural. A produção e parâmetros do crescimento também foram contabilizados. As oliveiras estão instaladas na Coleção Portuguesa de Referência de Oliveira (Elvas) e foram colhidos 2 ramos por árvore num total de 6 árvores. O menor Ψ foi registado em ‘Galega Vulgar’ (-2,46 MPa); na maioria dos materiais variou entre -1,57 MPa e -1,34 MPa. A produção de azeitona, no geral, foi, aparentemente, mais condicionada pelo efeito de alternância de produções do que pelo stresse hídrico. A oliveira é uma espécie que evoluiu nas condições mediterrânicas e as variedades manifestam comportamentos de adaptação que podem ser cruciais para determinado genótipo ser viável ou não no futuro da olivicultura.
INTRODUÇÃO
A produção de compostos orgânicos pelas plantas é possível através da fotossíntese. A energia solar é utilizada para converter os “ingredientes” dióxido de carbono (CO2), água (H2O) e minerais (nutrientes) em glicose, e verifica-se a libertação de oxigénio (O2) neste processo (Figura 1). Diferentes fatores afetam a fotossíntese e, entre os principais, destaca-se a radiação, a concentração atmosférica de CO2, a temperatura, a disponibilidade de água, o estado nutritivo da planta e a superfície foliar iluminada (Rallo & Cuevas, 2008).
Em relação à temperatura ótima para a fotossíntese considera-se que é no intervalo entre 15 °C e 30 °C. Acima de 35 °C, a fotossíntese começa a ser inibida, embora a 40 °C ainda atinja índices na ordem de 70 – 80% do máximo (Rallo & Cuevas, 2008). Na bacia mediterrânica, as elevadas temperaturas estivais e as baixas temperaturas durante o inverno são importantes fatores limitantes da fotossíntese na oliveira.
Durante o dia, as plantas perdem uma quantidade substancial de água através da transpiração. A água que evapora, principalmente através dos estomas (pequenas aberturas) das folhas, puxa as moléculas de água adjacentes formando uma coluna dentro da planta desde as folhas, caules, ramos, tronco e raízes (Figura 2). Como resultado, afotossíntese na oliveira. água perdida por transpiração é substituída por água retirada do solo (van der Vyver & Peters, 2017). É necessária uma força de sucção relativamente forte para a planta conseguir extrair a água do solo, principalmente à medida que o solo vai ficando mais seco. As medições dessa força de sucção, ou tensão na coluna de água no interior da planta, indicam o nível de stresse hídrico a que a mesma está sujeita. Maior tensão indica maior força necessária para extrair água do solo e maior stresse hídrico da planta. Quando as plantas estão sob stresse hídrico fecham os estomas para economizar água (Figura 3), o que reduz drasticamente o processo de transpiração, mas também limita a capacidade de absorver CO2 do ar, que fornece o carbono usado para a síntese de compostos orgânicos (Melaouhi et al., 2021). No momento em que uma planta começa a murchar, a sua capacidade fotossintética já está reduzida em relação ao que seria o nível ótimo. O emurchecimento, para além de um pequeno período na parte mais quente do dia, é um último esforço da planta para limitar a perda de água, reduzindo a área de superfície das folhas que recebem luz solar direta e um sinal de que é necessário regar o mais rápido possível.
As respostas fisiológicas das plantas à diminuição da disponibilidade de água são diversas e refletem os mecanismos de adaptação evolutiva das espécies, e das variedades, às variações desse fator limitante. A oliveira (Olea europaea L.) é uma espécie bastante adaptada às condições climáticas do tipo mediterrânico.
Continue a ler este artigo publicado na edição n.º 48 da Revista AGROTEC.
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