Doenças infeciosas emergentes e reemergentes num contexto de alterações climáticas
Por Ana Cláudia Coelho, Juan García Díez e Aureliano C. Malheiro
Resumo
As doenças infeciosas estão intimamente relacionadas com as condições meteorológicas e o clima de uma região, particularmente aquelas transmitidas por vetores, água, alimentos e por contacto direto com animais.
Deste modo, uma alteração ao nível do clima impõe um desafio acrescido à saúde humana e animal.
Estas condições podem ainda implicar uma redistribuição das populações para novas áreas e/ou ocupação de antigas áreas desabitadas, aumentando o contacto entre pessoas e animais (tanto de produção como selvagens), o que implica um maior risco de transmissão de doenças e/ou o aparecimento de outras novas.
Embora os estudos epidemiológicos ainda não apresentem dados ou modelos matemáticos suficientemente fiáveis para demonstrar o efeito das alterações climáticas no aumento da prevalência destas doenças, estes apontam a existência de uma relação direta.
O conhecimento sobre o impacte das alterações climáticas é assim essencial para a compreensão da epidemiologia das doenças infeciosas emergentes e reemergentes, uma vez que a sua maioria está associada a vetores e hospedeiros animais.
O estudo epidemiológico destas doenças deve ser efetuado por equipas multidisciplinares em áreas como a saúde animal e humana e a bioclimatologia.
Introdução
A melhoria das condições sócio-económicas em países desenvolvidos, associada a um maior acesso aos cuidados de saúde primários, reduziu a taxa de mortalidade por doenças infeciosas, dando lugar nos últimos séculos, às doenças de caráter crónico-degenerativo associadas, principalmente, ao estilo de vida (Lindahl e Grace, 2015).
Por outro lado, desde 1975, a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2004) reportou mais de 30 doenças infeciosas novas, nas quais se destacam as doenças transmissíveis dos animais ao homem (zoonoses) como o Ébola, Influenza aviária, a Borreliose de Lyme, Hantaviroses, e outras apenas específicas de humanos como Legionella e a SIDA.
Outro problema associado é a resistência a antibióticos registados por várias bactérias, que torna este como um dos problemas mais graves em saúde pública (Fauci e Morens, 2012). Ainda cerca de 70% das doenças infeciosas emergentes descritas nos últimos anos foram causadas por agentes zoonóticos com origem em animais.
Acresce que os agentes patogénicos podem também ser propensos à emergência por si só. De facto, os vírus com elevada capacidade para apresentarem mutações são comuns entre os agentes patogénicos emergentes. Uma doença emergente ou reemergente é considerada como uma doença nova, uma doença conhecida com nova apresentação ou uma doença com tendência à disseminação geográfica (Schneider et al., 2011).
A importância das doenças infeciosas emergentes e reemergentes associa-se não só à morbilidade ou mortalidade da doença per se, mas também às elevadas perdas económicas derivadas das restrições comerciais, diagnóstico da doença, controlo e erradicação. Custos que nem sempre são imediatamente identificáveis nem quantificáveis (Lindahl e Grace, 2015).
Estudos efetuados nas últimas décadas demonstraram que a maioria dos fatores associados às doenças emergentes é de carácter ecológico, sendo na sua maioria causados pelo homem.
Dentro das causas com origem antropogénica encontra-se o aumento das viagens internacionais e o transporte de animais e de mercadorias, as mudanças nos ecossistemas, a diminuição da biodiversidade, a desflorestação e reflorestação, a agricultura intensiva, a construção de barragens e reservatórios de água, assim como, o aumento da urbanização (Gould et al., 2006).
(Continua).
Nota: Este artigo foi publicado na edição n.º 21 da Revista Agrotec. Para aceder à versão integral, solicite a nossa edição impressa. Contacte-nos através dos seguintes endereços:
Telefone 225899620
E-mail: marketing@agrotec.pt