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Agrotec

Doença do lenho do kiwi

No final do século XX, surgiu em Itália o primeiro caso de esca do kiwi, que rapidamente foi identificado noutros países produtores de kiwi, incluindo Portugal. A doença do lenho do kiwi provoca perdas de produção, redução da qualidade do fruto e pode conduzir à morte da planta.

Por: Nuno Mariz-Ponte, Cristiana V. Correia, Cátia Teixeira, Paula Gomes, Conceição Santos

O complexo da doença da esca do kiwi permanece ainda pouco conhecido e explorado. Sabe-se que é semelhante ao complexo da doença da esca da videira, apresentando em comum três fungos de reconhecido papel na doença: Phaeoacremonium sp., Phaeomoniella chlamydospora e Fomitiporia mediterranea.

O número de estudos sobre a esca do kiwi é relativamente baixo, sendo por isso necessário o investimento numa investigação mais aprofundada para entender tanto a complexidade, como o impacto económico desta doença na cultura do kiwi. Com esse conhecimento, permitir-se-á também identificar novos métodos de controlo que possam suportar as práticas-culturais adequadas, que são as únicas efetivas no controlo da disseminação da doença no pomar.

Nos anos 90 surgiram os primeiros casos de doença do lenho em pomares de kiwi (Actinidia deliciosa) da variedade ‘Hayward’ em Itália (Calzarano et al., 1999) e rapidamente os sintomas começaram a ser reportados noutros países, tal como na Grécia (Elena e Paplomatas, 2002) e em França (Hennion et al., 2003).

Os primeiros microrganismos foram isolados a partir de tecidos vasculares doentes de plantas com 8-10 anos, localizadas em pomares da região de Emilia-Romagna (norte de Itália), e foram os seguintes: Phaeoacremonium (Pm.) aleophilum, Pm. inflatipes, Pm. chlamydosporum, Pm. rubrigenum, Phialophora sp., Phellinus conchatus (Di Marco et al., 2002).

Rapidamente, esta doença emergente do lenho em plantas de Actinidia sp. começou a ser associada à “esca” (Hennion et al., 2003) ou doença do lenho. Esta doença foi inicialmente referenciada para a vinha (Chiarappa, 1959), estando largamente disseminada em Portugal.

O complexo da doença da esca é constituído por um conjunto de diversos fungos (Bertsch et al., 2013). Atualmente, já são conhecidos alguns dos fungos associados à esca do kiwi, nomeadamente Phaeoacremonium sp., Phaeomoniella chlamydospora e Fomitiporia mediterranea (AJAP, 2017), sendo que os últimos dois estão também associados à esca da videira (Surico et al., 2008), evidenciando a elevada semelhança entre a doença das duas culturas (Antunes, 2008; Díaz e Latorre, 2014).

Contudo, comparado com os estudos da doença em vinha, os estudos sobre a problemática em Actinidia spp. são muito escassos mesmo a nível mundial. Dentro do grupo principal de fungos relatados para o complexo da doença da esca do kiwi, Di Marco et al., (2004) mostram que Phaeoacremonium spp. são o grupo de fungos que apresenta maior patogenicidade em A. deliciosa.

A redundância relativa à “complexidade do complexo” da doença da esca conduz à questão – Será um complexo de doença ou a complexidade da doença? De forma igualmente intrigante, Hosfstetter et al., (2012) lançaram a hipótese da esca poder não ser uma doença totalmente de origem fúngica. Estes autores observaram uma elevada similaridade na comunidade fúngica em plantas de Vitis vinifera sintomáticas e assintomáticas.

O micobioma responsável pela doença do lenho está igualmente presente nos dois grupos de plantas e os géneros presentes apresentam uma proporcionalidade semelhante. Estes resultados indicam que algum fator possa estar a despertar a patogenicidade na comunidade do complexo da esca, podendo esse ser ou não um fungo.

Apesar da grande semelhança entre o micobioma presente em plantas sintomáticas e assintomáticas, plantas com sintomas de esca apresentam uma percentagem superior de Pm. viticola, demonstrando que este agente patogénico pode ser peça-chave no surgimento da doença da esca. Bruez et al. (2015) estudaram a comunidade bacteriana presente em plantas não sintomáticas e sintomáticas e nas zonas do lenho com e sem manifestação de doença (tecidos necróticos e não necróticos).

Em tecido sintomático não necrótico do tronco e em tecido necrótico dos ramos principais observaram um aumento de Bacillus sp.. Nos tecidos não necróticos, verificaram um aumento de Pantoea agglomerans e nos tecidos necróticos de plantas sintomáticas verificaram uma diminuição desta bactéria face às assintomáticas. Ainda não é claro o possível envolvimento de bactérias no processo de infeção ou ativação de virulência na doença da esca, nem são claras todas as relações bióticas desta doença. Como tal, a questão da complexidade persiste e serão necessários mais estudos para a entender, sobretudo na esca do kiwi que permanece pouco explorada.

Portugal é um dos maiores produtores mundiais de kiwi, posicionado no décimo lugar em produção e na nona posição no ranking da área de plantação de kiwi (FAOSTAT, 2017). Ainda não existe uma avaliação sobre o impacto económico desta doença na cultura do kiwi.

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 33

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