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Agrotec

Desafios da agricultura urbana e periurbana

Por Hélder Muteia | Coordenador sub-regional da FAO para a África Central

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A agricultura surgiu na Pré-História em resposta aos fenómenos demográficos. À medida que a população mundial crescia (também em resultado de dietas mais ricas proporcionadas pela agricultura), a própria agricultura teve que acompanhar esse ritmo.

Com o surgimento das cidades e grandes metrópoles, a agricultura foi distanciada destes espaços, sendo relegada para a clandestinidade com base em argumentos estéticos, sanitários e de gestão urbana.

Recentemente, a explosão demográfica ocorrida no século XX gerou uma nova procura por alimentos que suscitou o aparecimento da “Revolução Verde” nos anos 60.

Embora o ritmo global de crescimento demográfico tenha abrandado nas últimas décadas, a população mundial continua a aumentar, estimando-se que os actuais 7 bilhões se transformarão em 9 bilhões, em 2050.

Nessa altura, mais de 70 % da população viverá em ambientes urbanos. Estas questões demográficas, somadas aos desafios sociais ambientais e económicos, impõem reajustes nos paradigmas alimentares.

Compreendendo a necessidade de novas soluções, as autoridades governamentais e municipais prestam agora maior atenção à agricultura urbana, dando-lhe mais espaço e dignidade, aproveitando as suas potencialidades não apenas na estética e humanização das cidades, mas também na dinamização económica e combate à má nutrição.

Em alguns países mais vulneráveis, a agricultura urbana e periurbana praticada nas “zonas verdes” das cidades ajudam a solucionar problemas resultantes de fluxos migratórios, desemprego urbano, inflação de preços e carência de alimentos. Nomeadamente, o cultivo em quintais e terrenos baldios de alimentos para consumo doméstico e venda em mercados de proximidade minimiza as crises sociais e económicas.

Nos países mais desenvolvidos, contribui para a disponibilidade de alimentos frescos, nutritivos e a preços mais competitivos, por serem transportados em curtas distância, e prescidindo de refrigeração.

Nos países emergentes, para além de ajudar a aumentar a disponibilidade de alimentos, permite um melhor aproveitamento da mão-de-obra urbana ociosa, gerando economias de proximidade eficientes, maiores fluxos de capital locais e aproveitamento dos espaços.

A agricultura urbana pode também ajudar na gestão dos resíduos urbanos, que crescem a um ritmo galopante. Possibilita a reciclagem da matéria orgânica, através da compostagem, e a reutilização das águas residuais para regadio.

agricultura

Essas vantagens, combinadas com o alargamento da cobertura vegetal dos espaços urbanos e a redução do custo energético, evidenciam a agricultura urbana como uma alternativa viável e sustentável.

É importante ter em conta alguns desafios relacionados com questões sanitárias, acesso à água e métodos de fertilização. Quanto às primeiras, colocam-se problemas de tratamento de resíduos orgânicos, risco de contaminação com metais pesados (como cádmio, chumbo e zinco), focos de multiplicação de insectos (mosquitos, baratas e moscas), libertação de gases de odor desagradável, poluição ambiental (com pesticidas e fertilizantes) e acústica.

Para a agricultura urbana, o acesso a fontes de água de qualidade é essencial. Tendo em conta que a água da rede pública nem sempre é uma alternativa devido ao seu preço elevado, a agricultura urbana encontra aqui um desafio a que necessita responder. Um outro obstáculo à qualidade destas águas é a sua poluição através dos métodos de fertilização e composição das rações animais. Ambos os processos poderão ser revertidos com políticas públicas destinadas para o efeito.”

Hoje, a agricultura urbana é praticada por cerca de 800 milhões de pessoas (em horticultura, pecuária, aquacultura, floricultura e silvicultura) cumprindo uma complexa rede de responsabilidades: segurança alimentar, economia, saúde, lazer, educação, socialização, ordenamento urbano e ambiente.

Urge, porém, desenvolver políticas, regulamentos específicos sobre o sector, e uma boa planificação do uso dos espaços, evitando choques com os padrões e princípios básicos da habitação saudável em contextos urbanos.

Nota: Artigo de opinião publicado na edição impressa da Agrotec 24.

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