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Agrotec

As micorrizas e as tricodermas como solução para aumento de rendimento das culturas

No passado dia 31 de janeiro, a Crimolara e a Atens realizaram um fórum, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, sobre os benefícios associados ao uso de  micorrizas e tricodermas.

Crimolara

Texto e Fotos: Daniela Faria

A sessão teve início pela voz do Engenheiro José Corte Real. Na sessão de boas vindas estiveram ainda presentes o Senhor Presidente da Crimolara, António Manuel Miranda Sousa, e a CEO da Atens, Veronica Cirino. A Atens, desde a sua fundação, assumiu a liderança sobre o uso de micro-organismos na agricultura. Atualmente, a empresa destaca-se como sendo a pioneira na produção in vivo de micorrizas e tricodermas, onde desempenha um papel de uma das principais protagonistas nas novas tendências de sustentabilidade agrícola e resíduos zero.

Microrganismos na agricultura - Onde estão e quem são

Crimolara

O que os micróbios podem fazer por nós foi a questão que a Professora Isabel Brito, da Universidade de Évora, se propôs a responder. Refere que «sem a atividade microbiana, certamente não sobreviveríamos», mostrando alguns exemplos, como a produção de pão, vinho e queijo.

No entanto, refere que a importância dos micro-organismos vai mais além do que o seu uso alimentar. A presença dos micróbios, composição entre microorganismos e microbioma, assume se também no solo. No meio deste completo quadro que é o solo, os micro-organismos encontram-se associados à porosidade. «Neste contexto, podemos ter as hifas dos fungos, temos as colónias bacterianas, temos os poros que são responsáveis pela disponibilização de oxigénio, água e temos as raízes das plantas», explica a professora Isabel Brito. «As raízes das plantas são um substrato de crescimento para esta vida microbiana do solo e à escala onde nos encontramos, o ecossistema solo vai ter uma série de micro-habitats que promove muitos variados tipos de micróbios», refere, em explicação à variabilidade de espécies de micro-organismos do solo.

Na sua apresentação, Isabel Brito esclarece que as populações de micro-organismos se apresentam vulgarmente nos primeiros 15 centímetros do solo e, sobretudo, à volta da raiz das plantas, diminuindo com a profundidade do solo. No entanto, nem sempre a sua presença se reduz a zero. A quantidade de microorganismos no solo é tão significativa que, «para termos uma ideia da carga microbiana no solo, porque apresenta toda aquela diversidade de habitat, uma colher de chá pode conter até 1 000 000 000». Estas quantidades estão normalmente mais próximas das raízes pois, à medida que se afasta das raízes, a disponibilidade de nutrientes vai diminuindo.

«Estes micróbios do solo sabemos que têm uma série de funções», começa por explicar, referindo que são a decomposição da matéria orgânica; a agregação de partículas permitindo a estabilidade dos agregados que constituem o solo; podem libertar nutrientes que estão mais absorvidos às partículas de solo ou fertilizantes; produzem reguladores de crescimento; podem aumentar a capacidade tampão do solo; podem ajudar na redução da toxicidade do solo para as plantas; e têm ainda uma ação antibiótica, controlando o crescimento de eventuais patógeneos.

Dando nota da ainda não existir muito conhecimento sobre os micro-organismos do solo e as suas interações, a Professora Isabel Brito apresenta os três grandes grupos que promovem o crescimento das plantas. Sao eles os rizóbios, as micorrizas e as plant growth promoting bacteria (PGPB). 

Relativamente ao rizóbio, Isabel Brito afirma que a comunidade cientifica e técnica já sabem que são bactérias que crescem associadas às raízes das plantas. Sabe-se ainda que há uma certa especificidade, ou seja, não é qualquer rizóbio que vai com qualquer leguminosa. Estas bactérias tem a capacidade de extrair azoto molecular da atmosfera, transformando em amónia que a planta já pode usar. Durante o processo de utilização da amónia, a planta fornece energia para a atividade do rizóbio. Esta simbiose tem sido das mais utilizadas na agricultura. No entanto, agora o objetivo é encontrar inóculos mais eficientes.

Relativamente às PGPB, Professora começa por referir que são bactérias que vivem também na rizosfera das plantas de várias plantas, não apresentando a seletividade das anteriores. Refere ainda que as bactérias podem «viver à volta da raiz ou dentro da raíz». Estas bactérias também conseguem fazer a fixação do azoto, realizar a solubilização do fósforo (P), produzir hormonas e  ajudar no controlo do stress das plantas através da produção de acc deaminase, que inibe a produção do precursor do etileno.

Este último é um dos efeitos mais pretendidos no uso destas bactérias. No entanto, os seus efeitos vão muito mais além dos apresentados, como a interceção negativa com outras bactérias, promovendo um controlo de patogéneos da planta. Após descrição destes efeitos, a professora refere que a linha entre o benéfico e o prejudicial para a planta pode ser muito ténue portanto é importante jogar com eles limites e gerir as suas interações.

«Estes são fungos filamentosos que vivem no solo e são a simbiose mais comum e mais antiga entre microrganismos e plantas», começa por apresentar as micorrizas arbusculares que se associam com quase todas as plantas com apenas alguns exceções, como a colza. Esta associação consiste em fungos filamentosos, na forma de hifas, que se propagam através de esporos, que entram dentro da raiz e vão proliferar entre as células da zona cortical da raiz, formando arbúsculos que, por sua vez, com o crescimento das micorrizas, realizam a formação de um micélio no solo.

Esta micélio promove a captação e o transporte de nutrientes para a planta. Como troca a planta, resultante da sua atividade fotosintética, dá ao fungo carbono. «Então o beneficio óbvio decorrente desta simbiose é a maior área de solo explorado pela raiz. Normalmente por cada centímetro de raiz colonizada existem 50 metros de micélio», explica a Professora, apresentando assim um dos motivos pela utilização de micorrizas na agricultura, principalmente para a absorção do fósforo.

Apesar de todos os benéficos, existem alguns fatores que impedem a maior utilização de micorrizas na agricultura, como a demora da instalação no micélio da planta. No sentido de melhorar esses parâmetros, a oradora apresentou os resultados da instalação de plantas developers, antes de instalação da cultura de interesse, para a criação de uma rede de micélio eficiente. Ao fim de algum tempo, estas plantas são eliminadas, ou por corte ou pela utilização de herbicida, mantendo a rede de micélio instalado nas raízes. «Utilizamos esta estratégia com dois developers diferentes, uma leguminosa e uma gramínea para ver o efeito da bioprotecção das culturas», explicou a investigadora da Universidade de Évora. Este estudo foi feito em culturas de trigo, tomate, milho e vinha.

Em jeito de conclusão, a professora Isabel Brito refere que «o benefício agronómico e possível porque podemos potenciar o inóculo e há varias formas de o fazer» e que a «micorrização pode ser um bom seguro de vida».

Para dar continuidade ao tema do uso de micro-organismos na atividade agrícola, seguiu-se a apresentação do diretor técnico da Atens, Gorka Erice, onde falou um pouco da historia da empresa, em que refere que combinar os objetivos da produção de alimentar e a sustentabilidade é bastante complicado mas é um dos principais objetivos da empresa e refere que é cada vez mais «facilmente atingível». Apresentou alguma da tecnologia patenteada e estirpes que dispõem no portfolio da empresa, como as micorrizas, tricodermas e bactérias PGPR, dando seguimento a algumas das noções apresentadas pela professora Isabel Brito.

Aplicação de microorganismos com resultados agronómicos

Crimolara

No sentido de perceber as aplicações dos micro-organismos, foram apresentados alguns resultados agronómicos.

O primeiro foi na voz da Doutora Amaia Nogales e tratou da utilização de micorrizas arbusculares em viticultura sustentável. Este estudo ocorreu no Instituito Superior de Agronomia (ISA) e o seu principal objetivo foi a analise da simbiose micorrizica na resposta da videira à contaminaçao do cobre no solo e o stress térmico, mas também desenvolver um novo método para reintroduzir fungos micorrizados arbusculares (FMA) em vinhas já instaladas.

Segundo a doutora Amaia, foi possível perceber que «as culturas de cobertura nas vinhas são uma alternativa ao uso de herbicidas, podendo melhorar a qualidade do solo e promover comunidades microbianas. A inoculação micorrizica das coberturas vegetais pode ajudar a compensar o efeito de competição destas com as videiras. As coberturas inoculadas com FMA podem ajudar as videiras a tolerar melhor as vagas de calor.» No entanto, refere que existem fatores que devem ser bem selecionados como as espécies de coberto vegetal, o tempo de plantação e a frequência de irrigação. Para concluir, Amaia Nogales refere que as práticas de gestão da vinha devem ser sustentáveis, de forma a garantir uma boa qualidade do solo que, por sua vez, preserve a simbiose funcional entre as videiras e a FMA.

No âmbito de aplicação de micro-organismos, também foram apresentadas algumas formulações comerciais pela Engenheira Cristina Xavier e o Engenheiro Diamantino Correia. Uma das principais vantagens das gamas apresentadas é a existência de várias formulações do produto, que podem ser microgranulados, pó para fertirrigação, pó para preparação de gel e, a mais recente formulação, em pastilha. A equipa da Crimolara refere que esta formulação pode ser encontrada nas gamas AEGIS Sym e na Asir. A gama ASIR apresenta uma grande versatilidade de utilização podendo ser em hortícolas, fruteiras e também em plantas florestais. Esta gama tem uma característica interessante, apresenta na sua constituição, além de diversas estirpes de micorrizas, uma estirpe de tricoderma, selecionada pela sua rápida expansão e elevada capacidade de colonização, Trichoderma koningii TK7. Junto das soluções da empresa, podemos também encontrar produtos só com a estirpe da tricoderma, como é o caso da CONDOR shield.

Outro dos produtos a que os técnicos da Crimolara fez referência foi o COVENANT, uma solução que combina micorrizas e tricodermas para utilização em espécies leguminosas. José Azoia, responsável da empresa Egocultum e multiplicador de sementes, apresentou um pouco da sua experiência da utilização desta solução na cultura do grão-de-bico em que mostrou um equipamento, ainda em desenvolvimento, que permite ao agricultor cobrir a semente com o preparado do COVENANT e referiu também o seu elevado grau de satisfação em relação ao produto que utiliza.

O futuro do uso dos microorganismos – Biotecnologia e nutrição

O doutor Gorka Erica da empresa Atens voltou a fazer uma comunicação, no entanto a mesma prendia-se a uma série de estudos que estão a ser efetuados nas culturas do tomate, pêssego, pimento e olival, através do microbioma do solo, com o objetivo de estudar aumentos de qualidade e produtividade mas também da melhoria de características nutricionais dos alimentos.

Nos resultados que tem sido obtidos dos estudos realizados, o doutor Gorka, evidenciou um aumento da produção, plantas com maior capacidade de resistencia a stresses bioticos e abioticos, aumento do ciclo produtivo, frutos com maior período de pós-colheita e por fim, uma das características que mais tem animado os investigadores, aumento das quantidades de substâncias com características nutricionais, como compostos antioxidantes e vitaminas. O orador fez notar que este resultado pode dar ao agricultor um maior argumento para a comercialização dos seus produtos como um alimento funcional.

O fórum Atens Crimolara terminou com uma mesa redonda, onde se debatou o futuro da utilização destes microorganismos e onde se percebeu que ainda existe um caminho a percorrer, principalmente na capacitação e sensibilização dos técnicos e dos agricultores para a utilização destas soluções agrícola e biotecnologicas.